Agressão a cobrador leva rodoviários a pedirem mais segurança
Trabalhador teria sido vítima de tentativa de linchamento após atropelamento. Manifestação cobrando mais segurança está prevista para a próxima segunda-feira
A agressão e a tentativa de linchamento a um cobrador de ônibus de Juiz de Fora levou indignação à categoria, e uma manifestação cobrando mais segurança está prevista para a próxima segunda-feira. De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transporte Coletivo Urbano (Sinttro),Vagner Evangelista, os trabalhadores sairão às 16h em passeata pela Avenida Rio Branco, partindo do Manoel Honório.
Segundo o sindicalista, a preocupação é com os constantes casos de assaltos e também de agressões por parte de usuários. “Queremos mais segurança e também mais eficiência nas investigações e punição aos envolvidos. Não vamos admitir ser saco de pancada, já basta disso”, disse. Conforme o presidente do Sinttro, o estopim para o movimento ocorreu na tarde do último domingo (31), quando o cobrador teria sido atacado no Bairro Nossa Senhora Aparecida, Zona Leste. A agressão teria ocorrido após o ônibus que o cobrador trabalhava atropelar um pedestre, que acabou morrendo. O trabalhador está internado aguardando vaga para fazer uma cirurgia. O Registro de Eventos de Defesa Social (Reds) informa sobre o atropelamento e afirma que populares teriam tentado também linchar o motorista.
Segundo o documento policial, o motorista do coletivo, 46 anos, disse que trafegava pela Rua Nossa Senhora Aparecida, quando, próximo ao número 62, viu a vítima, um idoso de 69 anos, atravessando na frente do ônibus. Após atravessar, o pedestre teria subido na calçada, onde se desequilibrou e caiu de costas na via, sendo atingido pelo coletivo. O motorista foi preso em flagrante e, segundo o Reds, “garantida sua integridade física uma vez que populares queriam linchá-lo e conduzido à delegacia de plantão”. A Polícia Civil informou que o condutor foi liberado e o caso será investigado pela 5ª Delegacia.
Ainda na UPA Norte e com muitas dores, o cobrador deu entrevista à Tribuna e contou sua versão sobre o ocorrido. Lucas Cardozo, 22 anos, que trabalhava na linha 403 (Nossa Senhora Aparecida/ Centro) no dia do episódio, emocionou-se diversas vezes e reclama da falta de assistência da empresa. O jovem disse que não teve condições de passar informações sobre o ocorrido aos policiais e que fará uma ocorrência sobre o caso. Segundo ele, as agressões começaram quando ele estava pedindo socorro por telefone ao Samu.
“O motorista ficou muito abalado quando viu o morto, e uma moradora o ajudou e o levou para sua casa. Eu fiquei sozinho na rua e tive que tomar as providências. Liguei para a empresa, PM e Samu. Na última ligação, uma pessoa me deu um soco no rosto, sem nenhum motivo. Eu fiquei tonto, logo em seguida, apareceram mais umas quatro ou cinco pessoas, que também começaram a me agredir. Caí no chão e perdi os sentidos, despertei com uma menina dizendo: corre que você vai morrer”, afirmou.
Lucas disse que então conseguiu se levantar, correr e entrar em um imóvel. Os moradores fecharam a porta e um dos agressores prometeu voltar armado para matá-lo. “As pessoas começaram a ameaçar invadir a casa. Os moradores ficaram assustados e pediram para eu sair. Eu então subi uma escada que ficava nos fundos e fui para o terraço. Não tinha opção: era pular ou morrer. Pulei de uma altura de cerca de 6 metros. Quando caí, senti meu pé estourar. Tive fratura em quatro lugares. Era uma dor horrível, me arrastei até uma lavanderia no quintal e me escondi debaixo de uma trouxa de roupas. Quando ouvi o rádios dos policiais, desabei em choro, foi um alívio. Eles me carregaram nas costas e me levaram até a viatura”, contou.
O cobrador ainda tenta entender o que motivou o episódio violento. “Nós não tivemos culpa nenhuma do atropelamento. Foi uma fatalidade. Foram agressões sem motivo. Quando eu entrava na viatura, várias pessoas do bairro que já me conheciam do ônibus começaram a gritar que eu era uma boa pessoa, pediam justiça. A empresa não me deu nenhum apoio, até agora não fizeram nada”, disse, acrescentando que ainda sente fortes dores na cabeça e pelo corpo. A reportagem entrou em contato com a empresa responsável pelo coletivo envolvido, a Goretti Irmãos Ltda., mas foi informada por uma funcionária que não havia ninguém para falar sobre o ocorrido. Já a assessoria de comunicação dos Consórcios Integrados do Transporte Urbano de Juiz de Fora (Cinturb) afirmou que a empresa fez o que estava ao alcance dentro dos procedimentos de praxe e irá apurar o que ocorreu na ocasião.