PJF busca ampliação do número de leitos em hospitais privados
Secretaria de Saúde informou que está em contato com unidades de saúde para verificar possibilidades; à Tribuna, hospitais afirmam que têm adotados medidas de contingência
O aumento do número de internações simultâneas em razão da Covid-19 em Juiz de Fora, verificado desde meados de novembro, tem sobrecarregado as unidades de saúde da cidade. Na última terça-feira (1º), a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) informou que a taxa de ocupação de leitos de Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) em hospitais privados da cidade chegou a 98%. Nesta quarta (2), o percentual diminuiu para 96%, mas o número de hospitalizados em toda a cidade subiu para 334, marcando mais um recorde do número de internações relacionadas ao coronavírus. Neste cenário, cresce a preocupação com a possibilidade de colapso da rede de saúde, já que, caso haja esgostamento dos leitos da rede privada, a rede pública pode ficar sobrecarregada. Questionada sobre a situação, a Secretaria de Saúde informou, nesta quarta, que já iniciou contato com os hospitais para verificar a possibilidade de ampliação do número de leitos nessas unidades.
A Tribuna procurou também as administrações dos hospitais privados, para que comentassem quais medidas estão adotando para evitar um possível esgotamento de leitos. Desta forma, a Santa Casa de Misericórdia informou que tem adotado medidas de contingência frente a disponibilidade de leitos. Conforme a instituição, o comitê gestor de enfrentamento à Covid-19 vem se reunindo desde março com o objetivo de administrar e otimizar a utilização e ocupação dos leitos. “Hoje, a Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora já utiliza toda sua capacidade física instalada existente para atender as necessidades da pandemia”, explica. O comitê ainda reforçou o pedido de que as pessoas mantenham “o distanciamento social, o uso de máscaras o tempo todo, a higiene das mãos com frequência e, aqueles que puderem, permaneçam em casa”.
Por sua vez, o Hospital Albert Sabin afirmou que, devido ao crescimento no número de casos na cidade, trabalhou em um plano de contingência para atendimento dos pacientes. De acordo com a unidade de saúde, a ideia é agilizar o fluxo na área de emergência de casos de sintomas respiratórios. A instituição ainda trabalha para ampliar a equipe de profissionais de saúde, bem como abrir outros dois consultórios. “Recentemente, o hospital abriu mais cinco leitos de CTI exclusivos para pacientes com diagnóstico de Covid-19. O Hospital Albert Sabin também reforçou a segurança e as estratégias de combate ao coronavírus, com campanhas de conscientização voltadas para seus colaboradores e toda a comunidade”, explicou o hospital, em nota.
‘Equilibrar a ocupação’
O Hospital Monte Sinai também informou que buscou ampliar os leitos destinados aos pacientes diagnosticados com Covid-19 e criticou a recomendação de suspensão, por parte da Prefeitura, da realização de procedimentos eletivos. De acordo com a instituição, a proposta é equilibrar a ocupação, de forma a atender outras patologias e aqueles que forem afetados pelo vírus sem chegar ao limite da capacidade. O hospital informou ainda que dividiu sua estrutura física para que os pacientes de Covid-19 fossem atendidos separadamente dos demais.
“O Hospital se preocupa muito com a interrupção impositiva dos procedimentos eletivos, pois já provou uma fórmula de sucesso na gestão dos casos Covid e não Covid, atendendo a todos com resultados muito positivos”, disse, em nota. “O Comitê, à frente da gestão da crise, ganhou uma expertise que vem conduzindo um gerenciamento muito responsável dos leitos e de todos os novos processos envolvidos no enfrentamento da pandemia. E assim, tem conseguido administrar os procedimentos eletivos de forma a priorizar os casos mais importantes, pois se viu que foi um erro na ‘primeira onda’ represar os cuidados a determinadas doenças que tiveram evolução ruim, trazendo, agora, aos hospitais casos mais avançados e mais graves, uma vez que as doenças evoluíram de forma negativa por falta de controle.”
Os hospitais da Unimed e São Vicente de Paulo (antigo HTO) foram procurados, mas não tinham respondido os questionamentos até o fechamento desta edição.
Prefeito alerta para ‘colapso no sistema’
Por conta do agravamento dos índices epidemiológicos na cidade – a taxa de ocupação é um deles -, o prefeito Antônio Almas (PSDB) voltou a falar sobre a possibilidade de regressão à onda vermelha no Minas Consciente, etapa em que as restrições para conter a pandemia são ainda mais severas, em live transmitida pelas redes sociais nesta terça. De acordo com o chefe do executivo, tal medida depende do comprometimento dos cidadãos quanto aos protocolos de prevenção da Covid-19.
Na ocasião, Almas alertou, ainda, para a possibilidade de um “colapso no sistema”. “Vivemos um momento no final do mês de junho e início de julho, quando pegamos o primeiro pico dessa pandemia, e superamos sem que houvesse o colapso do sistema. Por várias razões estamos vivendo outro momento na cidade de grande risco para todos nós, e teremos que conviver com esse risco até que a vacinação ocorra. Até lá, pode acontecer o colapso do nosso sistema assistencial”, disse.
Nesta quarta, procurada pela Tribuna, a Secretaria de Saúde informou que “acompanha diariamente a situação epidemiológica e de ocupação de leitos no município” e que, “ciente dos números, já iniciou contato com hospitais da rede privada de Juiz de Fora para verificar a possibilidade que essas unidades possuem para ampliação de leitos.”
Mais leitos
Sobre o número de leitos na rede pública, a pasta destacou que tinha 108 leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) públicos credenciados antes da pandemia, e, agora, são 197 leitos. A secretaria disse que “trabalha ainda para abrir, nas próximas semanas, mais 15 leitos de suporte ventilatório (intermediários)” e que “a Prefeitura segue trabalhando para continuar prestando atendimento a todas as pessoas que necessitarem de assistência.”
Especialista fala em ‘sobreposição’ de epidemias
Conforme a Tribuna vem mostrando, nas últimas semanas, um grande número de pessoas circula nas ruas de Juiz de Fora. Há também relatos de aglomerações e organização de festas clandestinas. Estes são alguns dos fatores que podem contribuir para o aumento no número de casos de Covid-19 e, consequentemente, também impactam na maior hospitalização em decorrência da doença. Entretanto, para o infectologista e chefe do setor de Gestão da Qualidade e Vigilância em Saúde do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU/UFJF), Rodrigo Daniel de Souza, a situação epidemiológica atual, com alta nas taxas de ocupação em hospitais privados, sugere uma transmissão entre pessoas que, anteriormente, conseguiram manter o isolamento social, mas, agora, estão mais expostas.
“As pessoas que têm plano de saúde conseguiram se resguardar e se isolar em um primeiro momento, e a classe mais baixa, principalmente aqueles que dependem do SUS, não conseguiram fazer isso. Não conseguiram ficar em trabalho remoto, não conseguiram parar as atividades, não puderam interromper porque precisavam do ganho. Mas a partir do momento que as demais pessoas voltaram à cidade, a trabalhar, a socializar e a fazer festas, a exposição desse grupo – onde, provavelmente, o percentual de infectados era baixo – encontrou uma situação muito adequada para o vírus se disseminar.”
Conforme o infectologista, porém, a pandemia do coronavírus entre as classes mais baixas ainda está ocorrendo, o que causaria uma espécie de “sobreposição de epidemias”. “O grande problema, hoje, é que temos essa epidemia nova por cima de uma epidemia que em nenhum momento tinha acabado.” Com o somatório dessas situações, o especialista acredita que é possível que a situação epidemiológica na cidade se agrave ainda mais. “Talvez a gente não esteja no pior cenário do sistema público, mas estamos caminhando para isso”, alerta.
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