Edifício interditado no Cruzeiro do Sul tem novo estalo na estrutura

Autoridades voltaram a evacuar imediações da área; canteiro de obras teria sido abandonado pelos trabalhadores


Por Marcos Araújo, Leticya Bernardete e Gabriel Ferreira Borges - Repórteres - e Gabriel Silva, estagiário sob supervisão do editor Eduardo Valente

02/09/2020 às 16h14- Atualizada 03/09/2020 às 09h41

Após novo estalo na estrutura do edifício interditado, desde o último domingo (30), no Bairro Cruzeiro do Sul, na Zona Sul, as imediações do edifício voltaram a ser, preventivamente, evacuadas, no início da tarde desta quarta-feira (2). A informação foi confirmada à Tribuna pela própria Defesa Civil da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). Desde a noite de terça, a estrutura do empreendimento passava por obras de recuperação. Contudo, os próprios trabalhadores, que já deixaram o canteiro de obras, alertaram ao calculista estrutural do empreendimento sobre o estalo ouvido nesta quarta. Diante da suposta nova movimentação do prédio, áudios de moradores dos bairros Cruzeiro do Sul e Santa Luzia circularam nas redes sociais, relatando a intervenção das autoridades no entorno.

No local, residentes nas proximidades relataram mais insegurança após o novo estalo. Alexandre Leonel, de 42 anos, morador da Rua Sarandira, contou que o susto ocorreu por volta de meio-dia. “Estávamos aqui, porque os bombeiros iriam permitir que cada morador pudesse retirar, em 15 minutos, pertences, remédios e documentos dos imóveis. Mas, logo em seguida, eles deram a ordem para que saíssemos às pressas de novo, porque o prédio retornou a estalar”, contou. Segundo Alexandre, ele, seu pai e mãe, uma irmã e filhas tiveram que deixar duas casas sediadas em um mesmo terreno.

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O morador também reclama da falta de informação por parte dos órgãos públicos, fato que aumentaria a insegurança. “Os moradores do prédio interditado nos informaram que, em um apartamento no quarto andar, três paredes já teriam desabado. Então, a gente pede aos órgãos públicos que esclareçam essas informações.”

Guilherme Assis, 35, morador da Rua Sarandira, também reclama da carência de esclarecimentos e orientações. “Existe uma desinformação muito grande. Hoje pela manhã, o Corpo de Bombeiros autorizou que as pessoas entrassem no prédio, até mesmo retirar veículos que ficaram na garagem. Essa informação deveria ter sido passada para o pessoal da obra, porque esse movimento de carro é pesado e ninguém estava sabendo disso. Foi mais ou menos neste horário que houve o estalo, o que levou à paralisação da obra. Então, são decisões que não são comunicadas a todos e geram transtorno e riscos”, disse, acrescentando que, na casa dele, ele, seu pai e sua mãe precisaram deixar o imóvel.

Na Rua Água Limpa, Aline Duarte, 39, não estava no local, quando foi dado o alerta para que as pessoas deixassem os imóveis. Apenas a mãe dela estava na casa. “O pessoal da rua escutou o estalo e pediu para ela sair. Eu estava na casa de amigas e, quando cheguei, minha mãe estava de fora com uma bolsa e com o cachorro nos braços”, relatou.

Junto com outros moradores, ela formou um grupo de discussão para troca de informação a respeito do andamento da obra de recuperação. “Hoje fizemos as contas e são 114 pessoas que estão fora de suas casas, tirando os moradores do prédio interditado, entre residentes das ruas Sarandira e Água Limpa e duas casas nas laterais do edifício. Foi passado para a gente que o prédio não tinha sofrido nenhuma instabilidade, desde domingo, e que essa obra seria para sustentação do prédio, para, a partir daí, haver uma análise das condições gerais, mas, nesta tarde, houve esse estalo, e esse serviço foi interrompido”, afirmou.

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Foto : Fernando Priamo

Aline disse que conversou com um funcionário que trabalha na obra, que teria explicado que, no momento em que houve o barulho, foi pedido aos demais trabalhadores que fizessem silêncio, quando ouviram mais um estalo. “Assim, foi solicitado que todos os funcionários deixassem o local, sendo acionados o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil. O que recebemos de informação, depois da visita de um topógrafo aqui no local, é que as obras serão interrompidas por 12 horas e depois será instalado um chip que irá monitorar a movimentação da estrutura do prédio 24 horas.”

A Tribuna tentou conversar com um funcionário que se identificou como encarregado da obra, mas ele informou que não tinha autorização para dar entrevista. “Outra coisa que vimos é que uma carreta enorme passou pela avenida (Rio Branco) e isso não pode, porque movimenta a estrutura. Foram abertos os canteiros centrais para desafogar o trânsito e isso é bom, porque não pode ter movimentação, enquanto não subir essa coluna que vai servir para escorar a danificada. Enquanto isso não acontece, se houver movimentação, o risco é máximo”, preocupa-se Aline.

Sobre esses apontamentos acerca de falta de informação, a assessoria de comunicação da Defesa Civil informou que o órgão tem repassado aos moradores as informações que os profissionais contratados pelo proprietário fornecem. A identidade do proprietário não foi informada pela Defesa Civil. A subsecretaria ainda informou que o proprietário oferece apoio na busca por soluções para o problema e que todas as informações técnicas sobre o andamento da obra ficam a cargo do calculista responsável e são repassadas por intermédio da Defesa Civil, “que entende o clamor das famílias atingidas e se coloca a serviço da população por ser uma instituição que tem confiabilidade.”

Ainda de acordo com órgão, a causa do novo estalo está sendo investigada pela equipe particular que acompanha a edificação desde o último domingo. A princípio, a olho nu, como informou, nenhum dano na estrutura foi detectado, mas as obras foram suspensas por medida de segurança. “Amanhã, uma equipe de topografia vai realizar algumas medições para verificar se está havendo algum tipo de movimentação. Caso seja verificada estabilidade, as obras serão retomadas”, informou a subsecretaria. A Defesa Civil ainda acrescenta que, por enquanto, mesmo diante de nova evacuação, o cronograma das obras não sofre alteração, “mantendo o prazo de 15 dias para finalização caso não haja outro problema”.

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Segundo a Defesa Civil, as obras foram suspensas por medida de segurança (Foto: Fernando Priamo)

Na manhã desta quarta, havia, inclusive, uma expectativa pela redução do raio de evacuação dos imóveis do entorno, sobretudo das ruas Sarandira e Água Limpa, o que, por fim, não aconteceu, após reavaliação da estabilidade da edificação ainda antes do estalo. Desde o último domingo, a interdição do prédio, somada à evacuação de outros imóveis, deixa, ao todo, 46 famílias desalojadas. Dos 20 apartamentos do prédio, 14 estavam ocupados, e as famílias precisaram deixar o local. Outros 25 imóveis das ruas Sarandira e Água Limpa, no Bairro Santa Luzia, que ficam nos fundos, também tiveram que ser interditados, sendo que 31 famílias desocuparam seus lares, preventivamente.

Cadastro social

Na manhã desta quarta, a Defesa Civil realizou o cadastro social das famílias desalojadas devido à interdição do edifício e da evacuação de imóveis das imediações. O órgão fez o levantamento da situação dos desalojados, para repassá-lo ao proprietário do prédio para providências, que envolvem a forma como a situação será tratada, como disponibilização de hotel ou aluguel de imóvel. Porém, a Defesa Civil ainda não sabe como isso deverá ocorrer. Ainda como aponta a subsecretaria, foi feita a interlocução entre a equipe técnica responsável pelas obras e os moradores. A previsão é de que, em 15 dias, o reforço na estrutura seja concluído, e, posteriormente, a eficácia seja avaliada para que as famílias sejam reconduzidas ou não aos imóveis. Conforme a Defesa Civil, os imóveis das ruas Sarandira e Água Limpa devem permanecer interditados durante todo o período das obras.

Habite-se foi concedido em 2002

A licença para o início da obra do prédio, segundo os registros da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), foi emitida em dezembro de 1993. Conforme a Secretaria de Meio Ambiente e Ordenamento Urbano (Semaur), a concessão do Habite-se, documento que autoriza a residência nos imóveis juiz-foranos, ocorreu em março de 2002, após o término da construção do prédio.

Questionada se a fragilização da estrutura do edifício não expunha uma falha no processo de concessão do documento que regulariza o empreendimento, a Semaur afirmou que “na vistoria de aceitação da obra, a Prefeitura confere se o projeto arquitetônico foi executado conforme sua aprovação”. No entanto, de acordo com a secretaria, “não compete à Prefeitura entrar no mérito do projeto estrutural, pois existe um responsável técnico credenciado junto ao Conselho Regional de Engenharia Arquitetura e Agronomia (Crea) para isto. Este tipo de projeto, por força de lei, não é submetido a análise do Município, por isso, o Habite-se foi emitido seguindo todas as exigências legais”, completa.

Trânsito

Desde o domingo, agentes de trânsito desviam o tráfego no sentido Centro-Cruzeiro do Sul na altura do número 5.144 da Avenida Barão do Rio Branco, para evitar o impacto do tráfego de veículos pesados na estrutura. A caminho do Cruzeiro do Sul, o trânsito está sendo desviado para a Rua Ibitiguaia, com acesso pela Rua das Flores, no Santa Luzia. Já sentido Centro, o tráfego está restrito a apenas uma faixa nas proximidades do edifício. O desvio é permanente e seguirá enquanto houver interdição da Defesa Civil no local, segundo a Secretaria de Transportes e Trânsito (Settra).

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Foto : Fernando Priamo

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