Luiz Alfredo, fotojornalista que denunciou através de imagens o horror do Hospital Colônia, morre aos 90 anos
Fotojornalista foi o responsável pelas imagens da reportagem que denunciou as violações cometidas no local
Morreu, ainda no mês passado, em 6 de dezembro, aos 90 anos, o fotojornalista Luiz Alfredo. Ele estava internado em um hospital de Niterói, Rio de Janeiro, em tratamento contra um câncer. A morte de Luiz foi divulgada nas redes sociais, nesta sexta-feira (24), por Daniela Arbex, jornalista e autora do livro “Holocausto brasileiro”, que narra e denuncia a assustadora história do Hospital Colônia de Barbacena.
Luiz Alfredo foi o fotojornalista responsável pelas fotografias da reportagem “A sucursal do inferno”, publicada na extinta revista O Cruzeiro, em maio de 1961. Com cinco páginas dedicadas à reportagem e texto do repórter José Franco, esta “se tornaria uma das maiores reportagens fotográficas e denunciativas da situação que acometia no interior dos muros do Hospital”, de acordo com artigo da pesquisadora Camila Fortes Monte Franklin, da Universidade Federal do Piauí.
Daniela Arbex contou que as fotografias do Hospital Colônia feitas por Luiz Alfredo levaram às suas investigações sobre o destino dos pacientes. A partir de suas apurações e das imagens feitas pelo fotógrafo, Daniela escreveu o livro “Holocausto brasileiro”, publicado em julho de 2013.
“Se havia coisas piores, não sei. Aqui era um campo de concentração. Foi um pesadelo que vivi naquelas seis horas. Dizia que era um matadouro” contou Luiz Alfredo em entrevista para a produção do documentário Holocausto brasileiro, baseado no livro homônimo de Daniela Arbex. Os bastidores das gravações foram descritos em reportagem publicada na Tribuna de Minas em março de 2015.
As gravações foram feitas após 55 anos da passagem do fotojornalista ao antigo hospital. Nas imagens feitas por Luiz Alfredo foram registrados os horrores cometidos na instituição, fechada no fim dos anos 80. “Se havia coisas piores, não sei. Aqui era um campo de concentração”, contou à Tribuna na época.
Ainda em publicação na rede social, Daniela narra a trajetória do fotojornalista que registrou a chegada da Seleção Brasileira ao país após a vitória na Copa do Mundo, em 1958, andou de carro com o líder cubano Fidel Castro e acompanhou a vida e obra do pintor Alberto da Veiga Guignard. “O jovem que cresceu em Piedade, subúrbio carioca, conseguiu uma vaga na revista O Cruzeiro aos 18 anos. Aos 24 anos, começou a construir a memória coletiva do Brasil com suas lentes”, citou.
Além de entrevistá-lo para o documentário, a jornalista também dedicou um capítulo de seu livro a Luiz Alfredo. “Em 1961, ele fotografou o hospício de Barbacena. Merecia todos os prêmios de jornalismo. (…) Seu trabalho de denúncia contribuiu de maneira fundamental para a humanização da saúde mental no país”, escreveu Daniela na publicação.