Indefinição, protesto e terror marcam a véspera da eleição presidencial na França
O clichê é irresistível, mas a verdade é que os olhos do mundo estarão voltados para a França neste domingo (23), quando o país vai às urnas para o primeiro turno da eleição presidencial mais equilibrada em décadas na terra da Liberdade, Igualdade e Fraternidade. São quatro nomes, dos extremos à esquerda e à direita e passando pelo centro, que buscam os votos de dezenas de milhões de franceses num momento em que a nação enfrenta a ameaça do terrorismo, que voltou a assolar Paris nesta semana, além das questões ligadas à União Europeia ainda sob os efeitos da vitória do Brexit na Inglaterra.
Entre os mais de dez candidatos na corrida pelo Palácio do Eliseu, os favoritos a passar para o segundo turno são o centrista Emmanuel Macron; Marine Le Pen, da Frente Nacional, de extrema direita; o conservador François Fillon, de Os Republicanos; e o líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, legenda que representa a extrema esquerda. Segundo as pesquisas de opinião divulgadas até a véspera da eleição, neste sábado (22), a diferença entre o primeiro e o quarto colocados não passa dos seis pontos percentuais. O objetivo dos postulantes ao cargo é conseguir obter os votos dos indecisos, em torno de 30%, numa eleição que deve ter cerca de 27% de abstenção entre os mais de 46 milhões de eleitores.
E há motivos para os votos oscilarem entre a esquerda e a direita (incluindo aí seus extremos), sem esquecer do centro. O principal deles é a ameaça do terrorismo: na última quinta-feira, um tiroteio na Avenida Champs Élysées, a mais famosa da capital francesa, terminou com um terrorista e um policial mortos, além de outros dois policiais feridos. Neste sábado, um outro homem foi preso após ameaçar um policial com uma faca na estação de trem Gare du Nord. Dentro desse clima, cerca de cem mulheres de policiais protestaram em Paris contra o ataque na Champs Élysées. A dúvida é saber se os ataques irão impulsionar os votos para Marine Le Pen, que, entre outras posturas xenófobas, defende o fechamento das fronteiras francesas para pessoas investigadas por ligações com o islamismo radical, além da saída da União Europeia. Por outro lado, os ataques teriam a capacidade de incentivar quem é contrário ao isolacionismo e à intolerância a votar contra a candidata da extrema direita.
A relação do país com a UE é outro ponto que fez parte dos debates e das campanhas. Num país em que 72% dos moradores são contra a saída da zona do euro, a minoria dos candidatos defende um fortalecimento dos laços com a UE, enquanto a maioria defende a reavaliação de acordos que dessem maior soberania às nações. Por fim, questões como o desemprego e a segurança pública são pontos que podem influenciar a cabeça do eleitor francês neste domingo.
Os dois candidatos mais votados irão para o segundo turno, que acontece no dia 7 de maio. O vencedor deve ser confirmado quatro dias depois, com a posse sendo realizada em 14 de maio.