JF teve 2.667 nascimentos prematuros de janeiro a junho; dado nacional é 340 mil ao ano
Especialista explica os cuidados durante a gestação e o pós-parto, destacando a importância do apoio emocional para a saúde dos pais e do bebê
A aposentada Maria das Graças Badaró é mãe de Rafael Badaró, que hoje estuda na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Quando ainda tinha 39 anos, em 2003, no último mês de sua gestação, recebeu uma notícia inesperada. Durante o exame Doppler, realizado no terceiro trimestre da gravidez, foi detectado que o bebê teria um problema no duodeno. Isso ocorre quando a porção inicial do intestino, próxima ao estômago, não se desenvolve adequadamente.
Nesse momento, Maria soube que seria necessária uma intervenção cirúrgica assim que Rafael nascesse. A bolsa rompeu com 35 semanas, um bebê prematuro, e, logo após o parto, Rafael foi encaminhado para a cirurgia. Ele ficou 15 dias na UTI neonatal e, depois desse período, pôde finalmente ir para casa. Maria lembra que o momento foi traumático: “Foi difícil, porque eu levei para casa um recém-nascido que já havia passado por uma cirurgia. Os cuidados eram muitos e eu fiquei muito abalada, ainda mais sendo mãe de primeira viagem. Mas tudo deu certo”, compartilha em entrevista à Tribuna.
Apesar da situação difícil, Maria destaca que o acompanhamento de médicos competentes desde o início da gestação trouxe mais segurança. Além disso, o apoio emocional da equipe foi fundamental para enfrentar o desafio com o emocional mais tranquilo.
Brasil tem uma das maiores taxas de prematuridade
De acordo com o Ministério da Saúde (MS), aproximadamente 340 mil bebês nascem prematuros no Brasil a cada ano. A pesquisa “Nascer no Brasil: inquérito nacional sobre o parto e o nascimento”, um estudo de base hospitalar com abrangência em todo o país, coordenado pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP-Fiocruz), teve Juiz de Fora como um dos locais de pesquisa e revelou que o Brasil está entre os países com as maiores taxas de prematuridade.
Esse índice, que representa a prevalência de nascimentos antes de 37 semanas de gestação, é estimada em 11,5% de todos os nascimentos.
Considerando o cenário juiz-forano, a Secretaria de Saúde do município informou à Tribuna que em 2024, de janeiro a junho, nasceram 80 bebês prematuros com menos que 34 semanas de gestação, 223 prematuros entre 34 a 36 semanas, e 2364 com 37 semanas e mais, de mães residentes na cidade, totalizando 2.667 nascimentos prematuros. Já em 2023, considerando todos os diferentes casos de prematuridade totalizaram 5.363 nascimentos.
É classificado prematuro o bebê que nasce com menos de 37 semanas de gestação. Há uma classificação mais detalhada das idades gestacionais, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS): entre a 34ª e 36ª semana e seis dias, o bebê é considerado prematuro tardio; de 32 a 33 semanas e seis dias, prematuro moderado; é muito prematuro quando nasce entre 28 e 31 semanas e seis dias; e prematuro extremo abaixo de 28 semanas de gestação. Quanto menor a idade gestacional, maiores são os riscos.
O acompanhamento precoce da gestação é fundamental para reduzir os riscos de complicações, como o parto prematuro, segundo o médico neonatologista Vitor Fernandes Alvim, do Hospital Universitário da UFJF (HU-UFJF). Ele ressalta que fatores como a descoberta tardia da gravidez, a falta de um acompanhamento pré-natal adequado e a baixa escolaridade materna aumentam significativamente as chances de um parto prematuro, com possíveis consequências para a saúde do bebê.
Esse contexto é ainda mais preocupante quando consideramos os dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), ferramenta do Sistema Único de Saúde (SUS), que revelam que no Brasil, 1.043 adolescentes se tornam mães todos os dias, o que representa 44 nascimentos por hora. Desses, dois bebês têm mães com idades entre 10 e 14 anos.
Muitas dessas mães adolescentes não recebem acompanhamento médico adequado e enfrentam dificuldades para lidar com a gestação e os cuidados com o recém-nascido, o que agrava ainda mais os riscos para a saúde materna e neonatal. A falta de orientação e suporte médico adequado pode comprometer o bem-estar dessas mães e de seus filhos, especialmente em um momento tão delicado e de vulnerabilidade.
Além disso, no caso das gestantes com 35 anos ou mais, como no caso de Maria das Graças, outros fatores devem ser cuidadosamente analisados, como a hipertensão gestacional, por exemplo. Por isso, para reduzir os riscos à saúde materna e fetal, é fundamental que em todos os casos as gestantes recebam acompanhamento médico regular e especializado durante toda a gravidez.
Também é preciso cuidar do emocional
Vale lembrar que, assim que nasce um bebê prematuro, também surgem os pais de prematuros. O médico destaca que as notícias sobre os riscos da prematuridade são frequentemente difíceis de ouvir. Nesse cenário, o acolhimento se torna essencial. “A família precisa ser recebida com cuidado dentro da unidade neonatal, sendo apresentada à equipe multidisciplinar, que inclui médicos neonatologistas, enfermeiros, fisioterapeutas, assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas e fonoaudiólogos. Esse acolhimento é fundamental para garantir que os pais se sintam apoiados e informados”, explica o especialista.
O médico também ressalta a eficácia do Método Canguru, uma prática que tem demonstrado resultados positivos no cuidado de bebês prematuros. “O Método Canguru consiste em colocar o bebê em contato direto com o corpo dos pais, em uma posição semelhante à maneira como o canguru carrega seus filhotes. Esse contato não só alivia o sofrimento e a angústia dos pais, mas também contribui para a redução do tempo de internação e melhora as taxas de sucesso na amamentação”, conclui.
Tópicos: bebês / gestação / nascimentos prematuros