Mitos e verdades
Existem mentiras que se tornam verdades de tanto que são repetidas e propagadas por aí. No ramo da construção civil então, não faltam afirmações que deixam muita gente de cabelo em pé e cheia de dúvidas na hora de projetar a casa ou reformar ambientes. Para desmitificá-las, a Tribuna convidou uma profissional da área para mostrar o que é certo e errado.
Segundo a arquiteta e urbanista, mestre e especialista em Construção Civil, Júlia Hallack, desconhecer as atribuições de um arquiteto e de um engenheiro faz com que algumas pessoas pensem erroneamente sobre a elaboração de um projeto residencial. Para ela, não basta ter apenas bom gosto e contar com um bom pedreiro. “Isto não substitui toda a equipe técnica necessária, composta por engenheiros e técnicos, para executar uma obra com segurança para o usuário e para a própria cidade”, observa.
“É mais barato construir ou reformar sem o auxílio de profissionais da área”
Mito – O projeto arquitetônico elaborado por arquitetos nada mais é do que um planejamento baseado nas expectativas do cliente para que possa viabilizar sua execução tanto economicamente quanto em relação ao espaço. Às vezes, o “sonho é maior que o bolso” ou o espaço é menor do que o leigo imagina. Da mesma forma, a construção e a reforma executada por profissionais da área, que saberão fazer a leitura do projeto, evitará demolições futuras com consequente geração de resíduos, trazendo muito prejuízo e dor de cabeça.
“A parte de tubulação é a mais barata da obra e pode custar até 3% do valor total”
Mito – Apesar de ficar escondida dentro de paredes e lajes, as tubulações de hidráulica e elétrica podem representar uma parcela significativa do valor total dependendo do projeto a ser executado.
“Há paredes que não podem ser derrubadas durante uma reforma”
Verdade – Existem sistemas construtivos em que a parede é estrutural nesses casos, pois a alvenaria é autoportante e substitui a presença de vigas e pilares de concreto armado. Assim, como não é possível retirar esses elementos construtivos em um sistema convencional de construção, o mesmo ocorre com as paredes no sistema de alvenaria estrutural. É sempre importante a avaliação de um profissional da área antes de qualquer tipo de demolição.
“Trincas e rachaduras precisam apenas de reboco e pintura”
Mito – Trincas e rachaduras são sintomas que sinalizam consequências de patologias de construção simples, mas, em alguns casos, requerem um tratamento especial pois podem acusar, por exemplo, problemas estruturais da edificação. Assim, o reboco e a pintura só irão maquiar o problema.
“Na hora de reformar deve-se começar pelas áreas molhadas, como cozinha e banheiros”
Verdade – A reforma normalmente começa onde haverá maiores alterações, na maioria dos casos cozinhas e banheiros. Além disso, desocupar esses ambientes interfere significativamente no cotidiano de uma família, assim, quanto mais rápido melhor.
“Ao comprar pisos e revestimentos, é necessário ter sobras de 15%”
Mito – O projeto arquitetônico executivo inclui o detalhamento de paginações de pisos e paredes com o quantitativo dos mesmos. Com isso, as perdas se resumem em 3% a 5% em função dos cortes e quebras dos revestimentos no momento do assentamento.
“Pintar as paredes da cozinha ao invés de revesti-las é anti-higiênico”
Mito – Existem tintas laváveis que podem facilitar a limpeza de uma cozinha de uso doméstico. No entanto, em se tratando de uma cozinha industrial, por exemplo, é aconselhável utilizar revestimentos que permitam o uso de produtos especiais para uma assepsia mais eficiente.
“Cores escuras diminuem o ambiente”
Verdade – A percepção visual interfere na compreensão do espaço dando sensação de diminuição do espaço, que é uma consequência da reflexão da luz. Quanto mais claro o ambiente, maior o espaço.
“Descarte de material é uma preocupação apenas de grandes obras”
Mito – Todo profissional responsável por uma obra, independentemente do seu tamanho, deve se preocupar com a geração de resíduos de construção e demolição e seu consequente impacto no meio ambiente. Seria ótimo se todos fôssemos adeptos da demolição seletiva com encaminhamento dos resíduos separadamente para destinação correta permitindo a possível reciclagem dos mesmos.
“Paredes grossas são mais resistentes”
Verdade – Em se tratando de vedações, uma parede grossa é mais resistente em relação a passagem de som e até de trocas de calor em curto prazo de tempo, mas se considerarmos uma parede estrutural, não podemos dizer que uma parede, por ser grossa, irá suportar uma maior carga. Outros fatores devem ser avaliados, como o material e sistema construtivo.
Reformando com segurança
Júlia destaca que, geralmente, quem procura profissionais da área para execução de um projeto, seja para construção ou reforma, já compreende a função de cada profissional e, logo nos primeiros contatos, consegue esclarecer a maioria das dúvidas. “Ao longo da construção ou da reforma, outras questões irão aparecer, e a assistência técnica estará presente para assessorar e apresentar soluções para viabilizar o projeto e atender as expectativas. A nossa função é sempre a de oferecer segurança no momento das escolhas e auxiliar ao máximo na realização dos sonhos daqueles que confiaram no nosso trabalho.”
Antes de iniciar alguma obra ou reforma, o proprietário ou responsável do imóvel deve buscar, junto à Prefeitura, um documento que autorize a realização das mesmas, para evitar autuações e multas. Segundo informações da Secretaria de Atividades Urbanas (SAU), para a realização de projeto de construção, reforma e/ou acréscimo ou modificação de projeto e regularização, a pessoa deve obter a autorização do departamento de licenciamento de obras e parcelamentos urbanos (DLU). Para que seja dada a autorização para executar a intervenção, é preciso protocolar o pedido em qualquer unidade do Espaço Cidadão.