A escola brasileira que forma cardeais em Roma
Pontifício Colégio Pio Brasileiro, em Roma, já formou 150 bispos e sete cardeais
Ao longo dos 85 anos recém-completados no dia 3, o Pontifício Colégio Pio Brasileiro, em Roma, aprimorou os estudos de mais de 2,2 mil padres, dos quais cerca de 150 se tornaram bispos e 7 foram nomeados cardeais. O alto desempenho desse centro de estudos teológicos e científicos que atende o clero brasileiro na Cidade Eterna tornou o Pio Brasileiro conhecido como “escola de cardeais”.
No prédio renascentista, edificado às margens da Via Aurélia, os padres se preparam para exercer posições de liderança em institutos filosóficos e teológicos, seminários ou dioceses no Brasil e outras regiões do mundo.
“(O colégio) é um pedacinho precioso do Brasil em Roma”, definiu o cardeal Sergio da Rocha, ex-aluno e atual presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “É a casa dos brasileiros em Roma, um elo entre a comunidade do colégio e o Brasil, entre a comunidade do colégio e o papa. Estar no colégio é estar ao mesmo tempo em Roma e no Brasil. Assim eu me sentia quando residi no colégio.”
O aniversário do Pio Brasileiro foi comemorado com missa solene na capela Nossa Senhora Aparecida, que homenageia a padroeira do Brasil. A cerimônia foi concelebrada por outro ex-aluno, o cardeal João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para a Vida Consagrada. Também foram nomeados cardeais os ex-alunos do Pio d Agnelo Rossi, d. Serafim Fernandes de Araújo, d. Geraldo Majella Agnelo, d. Raymundo Damasceno de Assis e d. Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo.
A vida longa e o alto conceito da escola reforçam a importância do Brasil para a Igreja Católica. O País nunca teve um papa – o atual, Francisco, é argentino -, mas o número de santos e beatos brasileiros cresceu muito nos últimos anos. Atualmente são 36 santos e 53 beatos.
O padre João Bosco Penido Burnier, considerado mártir após ser morto por policiais por defender vítimas de tortura, foi aluno na turma 1934. Outro ex-aluno, o então bispo de Garanhuns, d. Francisco Expedido Lopes, assassinado por um padre em momento de desvario, está em processo de beatificação, assim como d. Luciano Mendes de Almeida, diretor de estudos do colégio nos anos 60.
Segundo o reitor da instituição, padre Geraldo dos Reis Maia, 74 padres estudam hoje no colégio. “Nos dois últimos anos, temos só brasileiros, mas no passado tivemos estudantes de outros países da América Latina e da África”, disse. Para se candidatar a uma vaga, o padre precisa fazer a solicitação, com suas motivações, e ter o aval do bispo diocesano ou do superior religioso.
Missão
Os estudantes residem no Pio e fazem estudos de mestrado e doutorado em instituições de ensino de Roma. De volta ao Brasil, os padres se dedicam ao trabalho pastoral, como professores e formadores em seminários, em paróquias e em ações missionárias.
O padre José Ulisses Leva, aluno entre 1988 e 2001, vivenciou o ambiente estudantil do Pio Brasileiro durante o doutorado em História Eclesiástica. “Pesquisei sobre a Igreja de São Paulo no episcopado de Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, que esteve à frente da então diocese entre 1876 e 1894.” Padre Ulisses colabora com o sínodo arquidiocesano criado por d. Odilo Scherer “Tenho contribuído, com minha pesquisa em Roma, para a excelência dos resultados da Igreja de São Paulo.”
O reitor do Pio Brasileiro relata que da fundação até 2014 foram os padres jesuítas que administraram o colégio. De lá para cá, a administração está nas mãos de quatro padres diocesanos nomeados pela CNBB.
As áreas mais procuradas são Teologia, Filosofia, Bíblia e Direito Canônico, mas há interesse também por Espiritualidade, História Eclesiástica, Comunicação Social e Doutrina Social da Igreja. A rotina dos alunos, hoje todos sacerdotes, é baseada na autodisciplina: cada um faz seu horário levando em conta o estudo, que é a ocupação principal, mas há também momentos de convivência e espiritualidade.
Em momentos especiais, há celebrações com a presença de autoridades e de público externo. O cardeal arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, lembra que ao longo da história o colégio recebeu a visita do então presidente Juscelino Kubitschek e dos papas Paulo VI e João Paulo II. Nos anos de repressão política no Brasil, o Pio tornou-se referência em Roma para brasileiros exilados. “Além de ser um lugar para uma rica experiência cultural, teológica e eclesial universal, é também lugar de uma rica experiência de brasilidade”, disse d. Odilo, que estudou em dois períodos.
História
A história do Pio começou no Natal de 1927, quando os bispos enviaram ao clero e aos fiéis do Brasil uma carta defendendo a construção de uma escola própria em Roma. A ideia foi bem recebida e deu início a uma campanha nacional para obtenção de fundos. Em 1929, foi lançada a pedra fundamental e em 1934 o colégio foi inaugurado. Era o pontificado do papa Pio XI. A turma fundadora tinha 34 padres e seminaristas.
Na Segunda Guerra Mundial, conflito que envolveu a Itália, o número de alunos caiu para 12, pois era difícil garantir a segurança. Passado o conflito, o alunado voltou a crescer até atingir, em 1954, o número recorde: 130 alunos.
O reitor lembra que, no decorrer do Concílio Vaticano 2, os residentes tiveram a oportunidade de participar de conferências e debates envolvendo os maiores teólogos da época, como Karl Rahner, Yves Congar, Henri de Lubac, Joseph Ratzinger e Marie Dominique Chenu. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.