Pesquisadores lançam livro gratuito sobre répteis brasileiros, com espécies ameaçadas, para conscientizar população
Obra tem contribuição de especialista da UFJF e reúne informações de 32 espécies de quelônios e jacarés nativos do país, compiladas a partir de mais de 250 anos de pesquisa
Pesquisadores brasileiros se reuniram e lançaram na última terça-feira (26), no 11° Congresso Brasileiro de Herpetologia, o livro “Quelônios continentais e crocodilianos do Brasil”, com informações de 32 espécies de cágados, jabutis e tartarugas (exceto as marinhas) e os jacarés nativos do país. A obra, com contribuição da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), é gratuita e destinada a pesquisadores, estudantes, profissionais do licenciamento ambiental, órgãos ambientais e a população que tenha interesse no tema. O livro pode ser acessado por meio deste link.

O professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFJF Henrique Costa é um dos 16 autores que assinam a obra. Ele contribuiu inicialmente com a “chave de identificação dos quelônios”, capítulo ilustrado que oferece um passo a passo técnico para identificar todas as espécies de tartarugas (incluindo as marinhas), cágados e jabutis do Brasil. Mais tarde, sua colaboração se estendeu para as fichas detalhadas de cada espécie, fornecendo dados sobre biologia, habitat, dieta e reprodução. “Essa é uma grande compilação de informações científicas, reunindo dados de mais de 250 anos de pesquisa em um só lugar”, ele destaca. Além do professor, o Dr. Samuel Gomides, ex-aluno da UFJF, também integra a equipe de autores, que foi liderada pelos pesquisadores Elisângela Brito (UFMT) e Rafael Valadão (RAN-ICMBio).
“Até o momento não havia publicação em português com tamanha quantidade de informações sobre quelônios e crocodilianos brasileiros. Sem dúvida, este livro será um marco para a ciência brasileira e uma referência importante para pesquisadores, estudantes, profissionais do licenciamento ambiental, órgãos ambientais, entre outros”, diz Henrique.
Os trabalhos tiveram início na pandemia de Covid-19, em 2020, e foram finalizados neste ano.
Obra inclui espécies da Zona da Mata ameaçadas de extinção

Ao longo da obra, são abordados tópicos como patrimônio cultural associado a esses animais, legislação no manejo, evolução, métodos de estudo e estratégias de conservação, além de, especialmente, fichas detalhadas para cada espécie. Nessas fichas, o leitor encontra informações sobre características anatômicas, hábitos alimentares, reprodução, distribuição geográfica e habitat das espécies, além de centenas de fotografias e ilustrações. ”Isso é um facilitador para especialistas e principalmente para quem não é especialista sobre esses animais mas precisa de informação confiável e atualizada para embasar relatórios técnicos e outros estudos de cunho ambiental.”
No entanto, o livro não apenas cataloga as espécies, mas também acende um alerta para a conservação. Das 32 espécies de quelônios continentais brasileiros, cinco estão ameaçadas de extinção e quatro são consideradas “quase ameaçadas”, de acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Embora nenhuma das seis espécies de jacarés brasileiros esteja ameaçada em nível nacional, a situação dos quelônios exige atenção urgente.
Em Juiz de Fora, por exemplo, ocorrem duas espécies nativas: o cágado-da-serra (Hydromedusa maximiliani) e o cágado-de-barbicha (Phrynops geoffroanus). A Zona da Mata mineira abriga ainda outras espécies, como o cágado-do-paraíba-do-sul (Ranacephala hogei), que não ocorre na cidade e está ameaçado de extinção.
Apesar da riqueza de informações, a obra também revela as lacunas no conhecimento científico sobre esses animais. Para algumas espécies, ainda se sabe muito pouco sobre sua dieta, estrutura populacional ou reprodução. “Isso só se resolve com investimento em pesquisa básica”, enfatiza Henrique.