Temporada dos ipês colore as ruas de Juiz de Fora; saiba mais sobre essas espécies
Ipê-amarelo, ipê-roxo e ipê-rosa predominam na paisagem da cidade; mudanças climáticas têm impactado o período de floração dessas árvores

Começou a época em que as ruas da cidade ficam mais floridas. Nas últimas semanas, a temporada de ipês coloriu diversas regiões de Juiz de Fora e, por isso, a Tribuna conversou com biólogos para entender mais sobre as características das espécies e o impacto das mudanças climáticas nessas árvores que encantam a população.
Essa árvore possui uma madeira muito dura, resistente a cupins, daí surge o nome ipê. Com origem na língua indígena tupi, o significado de ipê é casca dura, mas também pode ser chamado de pau d’arco, já que antigamente os indígenas usavam sua madeira para fazerem os seus arcos de caça e defesa. Essas árvores são nativas da América do Sul e, principalmente do Brasil, onde se tornaram símbolo de beleza e resistência.
O professor do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Luiz Menini explica que os ipês são plantas arbóreas da família Bignoniaceae, caracterizadas pela perda das folhas durante a floração, o que intensifica o colorido da copa. As espécies mais comuns incluem o ipê amarelo (Handroanthus chrysotrichus), com suas flores vibrantes e folhas cobertas de pelos cor de ferrugem, e os ipês roxos e rosas (Handroanthus impetiginosus e Handroanthus heptaphyllus), que também perdem as folhas e se diferenciam pela margem delas, inteira no caso da primeira e serreada em relação a segunda.
Como explica o diretor do Jardim Botânico, Breno Motta, o porte dessas árvores pode variar entre 4 a 30 metros de altura, com copa geralmente arredondada e folhas compostas com 5 a 7 folíolos, o que permite leveza à paisagem. As flores tubulares surgem em massa, especialmente em períodos secos, quando a árvore perde as folhas, acentuando o contraste floral. Os ipês têm grande adaptação a solos pobres e resistência a variações climáticas, eles suportam desde o frio até longas estiagens. Por serem leves, suas sementes favorecem a dispersão pelo vento.
“Além do valor ornamental, exercem papel ecológico relevante ao fornecer néctar e pólen para abelhas, aves e insetos polinizadores. Assim, os ipês unem estética, ecologia e simbolismo, tornando-se protagonistas nas paisagens urbanas e naturais brasileiras”, destaca Breno.
Clima influência na floração de ipês

De acordo com Luiz, as espécies mais predominantes na cidade são amarelo, roxo e rosa. Na região da Zona da Mata mineira, os ipês florescem entre junho e outubro. ”De modo geral, esse ano a floração foi no período esperado.” Primeiro, aparecem as cores roxa e rosa, depois o amarelo, que indica o início do período chuvoso, e por último o branco. Segundo Breno, as flores caem no decorrer de uma semana, cobrindo o chão com a sua cor.
A floração das plantas está relacionada a diversos fatores, mas principalmente em relação ao clima. “O regime de chuvas e temperatura pode ter grande influência, pois tanto a escassez quanto o excesso podem afetar diretamente o desenvolvimento vegetativo e reprodutivo das plantas”, diz Luiz. Em complemento, Breno afirma que a seca mais prolongada do período de inverno fez com que as árvores perdessem todas as folhas, concentrando energia para produzir flores.
“As noites mais frias serviram como sinal natural de que era hora de florescer. Além disso, o céu limpo e os dias ensolarados ajudaram as árvores a armazenar energia suficiente para sustentar a floração. Outro fator importante foi a chegada de várias frentes frias, que trouxeram variações de temperatura e de umidade do ar. Esse conjunto de mudanças criou as condições perfeitas para que muitos ipês florescessem ao mesmo tempo, em grande sincronia”, comenta o biólogo.
Projeto de urbanização e mudanças climáticas

O Jardim Botânico da UFJF é um dos espaços da cidade que abriga essas árvores. Ao caminhar pelas trilhas é possível avistar ipês roxos e amarelos. Mas não só em espaços de proteção ambiental, é muito comum encontrar essas espécies no espaço urbano justamente por suas características de adaptabilidade. Em Juiz de Fora, o ipê foi muito utilizado nos projetos de arborização urbana e por isso pode ser encontrado em várias regiões da cidade.
“Por serem plantas com protocolos bem estabelecidos de cultivo por parte dos produtores, uso histórico e serem bastante resistentes às condições restritivas do ambiente urbano costumam estar presentes nos projetos paisagísticos urbanos tanto em praças e parques quanto nas vias das cidades. Além, é claro, da grande apreciação pelas pessoas de modo geral, uma vez que são plantas com grande apelo ornamental”, explica Luiz.
O professor ressalta a importância do uso de espécies nativas nos projetos de arborização urbana, como é o caso dos ipês. “Além de estarem em uma região que é de ocorrência natural, o que torna mais fácil sua adaptação ao cultivo, não há o risco de invasão de ambientes naturais, sempre presente quando se trata de espécie exótica introduzida.” Ele também explica que suas flores chamativas atraem polinizadores como abelhas e beija-flores, que buscam néctar e pólen.
Por fim, Breno alerta que as mudanças climáticas dos últimos anos têm impactado a reprodução dos ipês. O aumento das temperaturas tem provocado um florescimento antecipado e a perda acelerada do poder germinativo das sementes. Esse florescimento precoce resulta na morte das sementes antes do período chuvoso, comprometendo a reprodução da espécie e podendo causar prejuízos ao seu “pool” gênico e à biodiversidade das populações de ipês.