Sepse mata 8 pessoas por mês em Juiz de Fora e casos aumentam 21% em cinco anos

Minas Gerais registra aumento nos óbitos por sepse, com destaque para crescimento entre crianças


Por Mariana Souza*

14/09/2025 às 06h03

Hospital
Sepse está entre as principais causas de morte evitável em hospitais e exige diagnóstico rápido para reduzir riscos de complicações e óbitos (foto: Pexels)

Em Juiz de Fora, a sepse – conhecida como infecção generalizada – provoca, em média, 8,1 mortes por mês. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), por meio da Superintendência Regional de Saúde (SRS-JF), foram registrados 65 óbitos no município até 21 de agosto de 2025. No mesmo período, Minas Gerais contabilizou 1.872 mortes.

O Dia Mundial da Sepse, lembrado nesse sábado (13), busca ampliar a conscientização e reforçar a importância do reconhecimento precoce dos sinais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a condição está entre as principais causas de morte evitável em hospitais.

A sepse pode ser causada por bactérias, vírus, parasitas ou fungos. Muitos casos têm origem em ambientes de assistência à saúde, onde as chamadas Infecções Relacionadas à Assistência (IRAS) estão entre os eventos adversos mais frequentes. A resistência aos antimicrobianos dificulta o tratamento, acelera a progressão para choque séptico e aumenta o risco de morte hospitalar.

A condição pode afetar qualquer pessoa, mas o risco é maior em idosos, gestantes, recém-nascidos, crianças, pessoas imunocomprometidas e em quem convive com outras doenças.

Mortes aumentam em Juiz de Fora

Entre 2020 e 2024, o município registrou crescimento de 21% nos óbitos por sepse, passando de 184 para 223 mortes. No ano passado, o número foi o maior da série, com 223 registros. No mesmo período, Minas Gerais apresentou aumento de 39%, de 2.810 para 3.915 óbitos.

Questionada pela Tribuna, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) informou que não possui dados específicos sobre sepse. Segundo o Executivo, a condição não é considerada agravo de notificação compulsória no Sistema Nacional de Vigilância em Saúde. “A sepse não se caracteriza como uma doença isolada, mas sim como uma resposta inflamatória grave do organismo a diferentes tipos de infecção causada por microrganismos. Sendo assim, não há um sistema de notificação obrigatório para essa condição.”

Sepse avança entre crianças 

Dados da OMS estimam que, em 2020, ocorreram 48,9 milhões de casos de sepse e 11 milhões de mortes no mundo, quase 20% de todos os óbitos globais. Quase metade dos casos atingiu crianças com menos de cinco anos.

No Brasil, dados preliminares de 2024 apontam 7,7 mil atendimentos por sepse em recém-nascidos e 9,8 mil em crianças. No mesmo ano, o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) registrou 2,7 mil óbitos infantis pela condição.

Em Minas Gerais, houve aumento de 12% nas mortes infantis por sepse entre 2023 e 2024, passando de 234 para 262. Informações do SIH/SUS também indicam que, em 2024, foram realizados 1.296 atendimentos a recém-nascidos e 1.205 a crianças com sepse. O Ministério da Saúde destaca que os números correspondem a procedimentos, e não a indivíduos, já que uma mesma criança pode ser atendida mais de uma vez.

A sepse pode iniciar com sinais semelhantes a viroses ou infecções comuns. Em crianças, a evolução tende a ser rápida: a infecção desencadeia uma resposta inflamatória sistêmica que pode comprometer circulação, respiração e funcionamento de órgãos. Por isso, a mudança abrupta do padrão habitual da criança (comer, dormir, reagir, brincar) merece atenção imediata.

Em recém-nascidos, sinais como instabilidade da temperatura corporal, apatia, irritabilidade, dificuldade para mamar, sucção reduzida, pele fria, manchas arroxeadas, vômitos e icterícia devem acender o alerta. Em crianças maiores, febre persistente, vômitos, diarreia, confusão, tontura, respiração acelerada e sensação de falta de ar exigem avaliação médica urgente.

Prevenção e cuidados

Apesar da gravidade, a OMS destaca que a sepse pode ser prevenida com medidas simples. A higiene correta e frequente das mãos reduz a transmissão de microrganismos em ambientes domésticos e de assistência. A adesão ao calendário vacinal protege contra infecções que costumam preceder quadros sépticos. Também é decisivo reconhecer precocemente sinais de infecção e buscar diagnóstico adequado para iniciar o tratamento no momento oportuno. Em nível coletivo, melhorias de saneamento básico e o acesso contínuo à água potável de qualidade diminuem a circulação de agentes infecciosos e, por consequência, o risco de evolução para sepse.

Na rede de saúde, o manejo inclui a identificação do foco infeccioso e o início rápido do tratamento, com uso de antimicrobianos e suporte intensivo conforme a gravidade. A resistência aos antibióticos é um desafio adicional, reforçando a necessidade de uso racional desses medicamentos.

Estagiária sob a supervisão da editora Carolina Leonel

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