Projeto da Epamig incentiva cultivo de hortaliças PANC

Pouco populares, as plantas alimentícias não convencionais são mais nutritivas que hortaliças tradicionais e podem ser encontradas em jardins, hortas e até em calçadas


Por Nayara Zanetti

11/11/2023 às 07h01

Você pode não conhecer, mas provavelmente já se deparou com plantas alimentícias não convencionais (PANCs) pelo caminho, seja em hortas, jardins ou até mesmo nas calçadas. Embora não sejam tão populares, as PANCs são plantas comestíveis, fáceis de cultivar e de rápido crescimento. Entre as mais conhecidas estão a taioba, ora-pro-nóbis, peixinho e serralha, que podem ser preparadas de diversas formas e costumam ser mais ricas em nutrientes do que as plantas tradicionais. Mas poucas pessoas têm acesso a todo esse conhecimento. É com o intuito de mudar essa realidade que a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) promove projetos de divulgação científica para incentivar o cultivo e o consumo dessas espécies na região da Zona da Mata Mineira.

Desde 2004, a pesquisadora da Epamig Maria Regina de Miranda, especialista nos estudos de ora-pro-nóbis, desenvolve trabalho de campo na Zona Rural de Minas Gerais. Entre uma conversa e outra com produtores rurais e consumidores, Maria Regina notou que poucos sabiam o que eram as plantas alimentícias não convencionais e decidiu criar projetos de extensão em escolas e feiras livres para dar visibilidade ao assunto. Há seis anos, ela, junto com colaboradores, promove ações em feiras em Viçosa e municípios próximos, com exposição de hortaliças cultivadas em vaso pela Epamig em Viçosa e em embalagens comerciais comuns em hortifrutigranjeiros, como bandejas de isopor e de polietileno.

Além da exposição, também são distribuídas sementes e cartilhas com informações técnicas, e os pesquisadores realizam troca de saberes com a população. O objetivo é mostrar que é possível oferecer o produto no mercado com embalagens práticas e funcionais para serem conservadas em geladeira. “É um trabalho de conscientização do público, porque o agricultor não vai produzir se ele não tiver como vender. Então precisamos fazer um trabalho onde o consumidor reconhece o produto como valoroso e o agricultor vê essa ponte de poder produzir. É um processo cíclico de incentivar o consumo de alimentos da tradição popular para incentivar a comercialização e a produção.”

Outra vertente da iniciativa é levar o conhecimento científico e popular sobre as PANCs para o ambiente escolar. Para a coordenadora do projeto, estimular o interesse dos jovens nesses alimentos ajuda a resgatar e levar para frente essa cultura alimentar. “Temos que mostrar para a população que existe uma diversidade de alimentos saudáveis e que consumi-los ajuda a preservar essa biodiversidade também.” O projeto já alcançou mais de mil pessoas, seja nas feiras, escolas ou nas oficinas de preparo de PANCs e cultivo das mudas. “A troca de saberes e a pesquisa são a base para buscar informações e produzir conhecimento científico de forma a estabelecer a preservação da cultura dos povos tradicionais, agricultores, indígenas e quilombolas e, paralelamente, gerar conhecimento seguro e tecnologias”, ressalta Maria Regina.

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Vitrine ecológica de PANCs, aberta a visitação, funciona como um banco de hortaliças não convencionais para preservação genética e fornecimento de material para pesquisas (Foto: Arquivo pessoal)
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Desconhecimento e benefícios

A pesquisadora explica que as mudanças de hábito da população resultaram num desconhecimento a respeito desses produtos facilmente encontrados nos quintais de casa. Com o avanço tecnológico, os produtos industriais em larga escala se sobrepuseram em relação a essas plantas pelo fato de serem mais práticos e de fácil acesso. A falta de informação faz com que algumas pessoas retirem PANCs da plantação por acharem que são como plantas daninhas, ao invés de retirar e plantar em um canteiro separado para ter mais opções de alimentação. “São outras formas de ver, que nós precisamos abrir para considerar essa riqueza muito grande. São o que chamamos de ‘matos de comer’.”

Falando especificamente sobre ora-pro-nóbis, Maria Regina conduz um projeto de produção da planta voltado para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) para criar um canal onde os agricultores possam escoar a produção de PANCs e fazer renda. Atualmente, essas articulações acontecem em Viçosa, Prudente de Morais e em São João del-Rei. Os pesquisadores elaboraram um banco de hortaliças não convencionais para preservação genética e fornecimento de material para pesquisas, que funciona como vitrine tecnológica aberta a visitação e, eventualmente, eles distribuem essas mudas para o público durante os eventos.

Além de colaborar para um desenvolvimento sustentável dessas regiões, o consumo de PANCs traz diversos benefícios à saúde. “As PANCs têm ricos nutrientes e diferentes componentes, alguns muito expressivos em cálcio, outros em vitamina C, ferro… essa diversidade ajuda a ter uma dieta completa em nutrientes essenciais.”

Cada planta tem propriedades bioativas que ajudam no metabolismo do corpo, como, por exemplo, o antioxidante presente no ora-pro-nóbis. E o ômega 3, que é raro, pode ser encontrado no beldroega.

 

 

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