Sempre-vivas: nova espécie de planta ameaçada de extinção é descoberta em Juiz de Fora
Planta foi encontrada nos distritos de Toledo e Pires e reforça importância da conservação dessas áreas; veja fotos
É comum encontrar sempre-vivas em arranjos de flores ou artesanatos. Fora da terra, após colhidas e secas, as cores e a forma se mantêm, quase como se resistissem à passagem do tempo, daí o nome sempre-vivas. Recentemente, pesquisadores descobriram que também é possível encontrar uma nova espécie rara, que pertence à família das sempre-vivas, em Juiz de Fora. A planta recebeu o nome de Paepalanthus salimenae em homenagem à botânica Fátima Salimena, professora aposentada do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Apesar de ser parte de um grande gênero de planta, com quase 500 espécies, a Paepalanthus salimenae é considerada criticamente ameaçada de extinção, conforme a classificação da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), organização global que avalia o risco de extinção das espécies. A planta foi encontrada em dois locais diferentes de Juiz de Fora, em manchas de areia branca nos distritos de Toledo e Pires.
O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marcelo Trovó Lopes de Oliveira, e sua aluna de mestrado no Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Mylena Cabrini, foram os responsáveis pela descoberta. Os dois contam que inicialmente a ideia era coletar a espécie Paepalanthus calvus, pois haviam registros da ocorrência na região. “No entanto, ao chegarmos lá, percebemos que a planta que era tratada como Paepalanthus calvus apresentava características morfológicas diferentes. Após análises genéticas e morfológicas, confirmamos que se tratava de uma nova espécie.”
Nova espécie de sempre-vivas ocorre apenas em duas localidades
Por ter sido encontrada em locais específicos e ser restrita a essas áreas, a Paepalanthus salimenae é considerada microendêmica – espécie que ocorre apenas em uma determinada área ou região geográfica. “Além disso, a espécie possui baixa diversidade genética, o que a torna ainda mais vulnerável, pois a genética influencia diretamente na capacidade de adaptação às mudanças ambientais”, explica Trovó.
Para o professor, a descoberta mostra o quanto ainda se sabe pouco sobre a flora brasileira, mesmo em uma região próxima a uma das maiores cidades do país, o Rio de Janeiro, e com um centro de pesquisa que conta com estudos voltados para a botânica. “Ainda temos muito para entender da nossa flora. Estamos falando de áreas diferentes do entorno, essas manchas, onde a espécie ocorre, pode ter mais de uma espécie nova para ser descrita”, acredita.
O biólogo também reforça que a descoberta destaca a importância de conservar essas áreas, que não fazem parte de nenhuma Unidade de Conservação. “Na verdade, uma delas é uma área que está sujeita a mineração, e a outra é um local que tem o entorno completamente eutrofizado por pasto e desmatamento.” Esse foi um dos motivos que levaram os pesquisadores a escolherem Fátima Salimena para receber a homenagem. A cientista dedicou sua carreira à luta pela preservação dessas áreas, para além dos muros da Universidade. Além de ser uma profissional referência não só na região, mas também fora do país.
“Quando falamos que queríamos ir nessas áreas olhar para essas plantas que eram diferentes, ela se dispôs prontamente a ir junto e contou toda luta que está tendo pela conservação da região, envolvendo a esfera política municipal e estadual. Então, foi uma escolha fácil, fortuita e que nos deixou bastante feliz”, comenta.
Características da Paepalanthus salimenae
De acordo com Mylena, a Paepalanthus salimenae é uma espécie que cresce em campos rupestres com solo de areia de quartzito, que apresenta folhas e brácteas pilosas e uma inflorescência globosa creme. O trabalho é o primeiro a estudar a genética de populações deste grupo de plantas e mostrar como essas plantas trocam poucos genes entre as diferentes populações, que muitas vezes são morfologicamente similares. Por isso, a análise genética foi crucial para classificar a espécie como nova.