É mais um carro dos novos álbuns passando na sua rua

Por Júlio Black

Oi, gente.

Ouvimos quatro novos álbuns nas últimas semanas, daqueles que dão vontade de recomendar para os ah migos e ah migas: “Fetch the bolt cutters”, da Fiona Apple; “Miss Anthropocene”, da Grimes;  “Straight Songs of Sorrow”, de Mark Lanegan; e “Só”, dos cariocas do Estranhos Românticos, a banda marcada para morrer. Explicando: os quatro futuros ex-integrantes iniciaram as gravações do segundo disco do grupo em julho de 2019 com o hermano Seu Cris na produção, mas aí rolaram as trágicas diferenças musicais e o grupo acabou.

Na verdade, acabou mais ou menos. Eles tinham 19 músicas que acreditavam valer a pena gravar, então chegaram a um acordo, foram lá e cumpriram a missão. O esforço derradeiro vai render dois álbuns, e o primeiro deles, “Só”, já tá piscando os olhinhos nos serviços de streaming – e é bem legal.

A maioria das dez músicas tem como tema o amor e suas dores e dissabores, misturando rock, new wave, tropicália, jovem guarda, indie, música eletrônica e outros bichos. Basta ouvir músicas como “Sincero”, “Tranquilo”, “1988” e “Dançando no escuro” para lamentar o fato do Estranhos Românticos estar com a lojinha a meia porta, só na queima de estoque.

Um velho conhecido nosso que apareceu com novas berinjelas na quitanda foi Mark Lanegan. O ex-vocalista do Screaming Trees lançou “Straight Songs of Sorrow”, com maravilhas sonoras como “Stockholm City Blues”, “Bleed all over”, “Internal hourglass discussion”, “Skeleton key”, “Ballad of a dying rover” e “I wouldn’t want to say”, que poderiam estar muito bem num disco do Nick Cave ou Tom Waits.

O álbum mistura rock, blues, folk, música eletrônica, tem convidados como John Paul Jones (Led Zeppelin), Adrian Utley (Portishead) e Warren Ellis (Nick Cave and The Bad Seeds). E Mark Lanegan ainda tem essa voz que parece um carvalho de três mil anos de idade – não sei se carvalhos vivem tanto, mas é o que parece.

O que mais gostamos? Grimes. Deve haver uma galera que só passou a conhecer a cantora-compositora-produtora depois que ela teve um bebê com o bilionário Elon Musk, mas a canadense está em nosso radar há bons anos, desde 2012 ou 2013, então o lançamento de “Miss Anthropocene” é basicamente (um ótimo) outro dia no escritório.

Tem música eletrônica, pop, temas sombrios e gélidos, canções sobre o meio ambiente, morte, mitologia etc. e tal. Para os neófitos, “You’ll miss me when I’m not around”, “Darkseid”, “So heavy I fell through the Earth”, “Delete forever” e “Violence” são boas amostras do que a moça pode fazer.

E tem Fiona Apple, a guria que surgiu há mais de 20 anos com “Tidal”, tinha tudo para ser a maior coisa desde o pão de forma fatiado e sem casca mas… o mundo é essa coisa complicada, né?, e a cantora e compositora tinha seus próprios planos, acho. Sim, ela continuou a lançar ótimos álbuns, porém sem um décimo do destaque que mereciam. E vai ser difícil mudar o jogo com “Fetch the bolt cutters”, que é lindo de se ouvir mas nada, nadinha comercial.

A bolachinha é a quinta lançada por Dona Fiona em quase 25 anos, e é bom saber que ela faz o que quer, como quer e quando quer – o álbum anterior é de 2012, e o atual demorou quase cinco anos para ficar pronto. Daí podemos curtir canções como “Shameika”, “Cosmonauts”, a faixa-título, “Relay”, “I want you love me”, “Drumset”. O álbum é perfeitinho, gente, sério.

E por hoje é só, pessoas. Aproveitem esses dias de isolamento social (vocês estão colocando a saúde à frente do dinheiro, né?) para também ouvir nossa playlist “…E obrigado pelos peixes”, que tá lá no Spotify com mais de 1.800 músicas para seu deleite.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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