Sábado passado pratiquei um dos esportes prediletos do brasileiro: passei a tarde maratonando botequins. Em boa companhia, comi de um tudo: croquete, angu, coxinha, carne seca, pernil. Bebi cerveja e tomei cachaça, sentei em varanda e sentei em calçada, conversei conversa séria e conversei conversa fiada. Comecei depois do serviço e só parei quando o sol bateu cartão de saída.
O botequim, gastronômico leitor, é o microcosmo onde a sociedade se projeta. Ali abundam juiz de direito e traficante de droga, engenheiro e pintor de parede, padre e puta, preto, branco, homem, mulher, criança e, se o dono for airoso, cachorro também. No botequim a gente vê jogo, comemora aniversário, bebe o defunto. Revela o passado da família e trama o futuro do Brasil.
No botequim a gente fala dos outros, geralmente mal, e dá motivo pra que falem da gente, mal também. “Menina, vi fulano torto lá no Zezé outro dia, cê precisava ver.” Ora, quem nunca? É que no botequim a gente se eleva tanto que pode ocorrer de passar da conta. Mas se o botequim é sério e você um frequentador bem quisto, sempre haverá alguém que zele por ti.
O solitário não se cria em botequim, que ali é lugar de comunhão, seja na mesa, no meio-fio ou no balcão. No botequim a gente faz amizade e também desafeto, juras de amor – a amigo, mulher e time de futebol – e promessas ébrias demais para serem cumpridas: “vou vir aqui todo sábado”, “vou lá na sua casa domingo”, e o clássico dos clássicos: “na segunda eu começo, sem falta”.
Se tudo correr bem, você sai do botequim bem alimentado e satisfatoriamente relaxado, a alma leve, os problemas distantes. O poeta sai com meia dúzia de versos, o comerciante com um negócio encaminhado, o político com um eleitor tapeado, e o cronista, se ficar de olho no etilômetro, com assunto que lhe salve a pele no jornal de terça-feira.
O botequim