A importância do engajamento social

"Estamos vivendo um novo tempo. Estamos vivendo um tempo em que a nossa expectativa de vida aumentou muito. Nós vamos viver mais. Há vida, muita vida após a aposentadoria."

Por Jose Anisio Pitico

Na coluna da semana passada eu comentei sobre a aposentadoria. Fiz a provocação de o que fazer quando não se tem nada para fazer? Não é uma questão pequena, pode parecer, mas, não é. Principalmente porque a gente não se prepara para esse momento muito importante e desafiador da nossa vida. E que se não for vista e cuidada, traz consequências sérias para a nossa saúde. É o momento em que você não tem mais o vínculo de trabalho e sofre com todas as implicações das mais variadas naturezas que essa realidade traz para a vida da gente.

Na coluna anterior, levantei a seguinte questão: será o tempo da aposentadoria um eterno domingo? Dando a entender que aos domingos a gente não faz nada. Para algumas pessoas estar aposentado/a é mesmo que viver num eterno dia de domingo. A pessoa não quer saber de mais nada. É o conhecido CBD – come, bebe e dorme. Exageros à parte, o que eu quero dizer é que a pessoa com esse perfil opta conscientemente (ou não) pelo seu desengajamento social da vida, não quer saber de participar ou de continuar participando dos movimentos da coletividade. Não participa de nenhum grupo social, nem de trabalhos voluntários, muito menos, de reuniões de condomínio. É uma opção.

Como envelhecemos de maneiras distintas, há outras pessoas que dão um significado social para a ocupação do tempo livre que a aposentadoria permite realizar. Diferentemente do primeiro grupo, que tem as pessoas desengajadas socialmente, esse outro deseja continuar e até ampliar sua entrega de tempo com outros tipos de trabalhos a alguma organização social. Entre tantas outras possibilidades de ocupação para seu tempo, elas, por exemplo, participam de grupos religiosos, associações comunitárias, atividades culturais e de lazer, envolvem-se em trabalhos voluntários na atenção às crianças, adolescentes e pessoas idosas. São ativas socialmente. Não param em casa. Conheço muita gente assim: são pessoas idosas, senhoras, que têm uma agenda cheia – comprometida com ações sociais a favor de muitas outras pessoas.

Tem gente que aposenta do trabalho e acaba que aposenta da vida também. São pessoas que param no tempo de aposentadas, não se dão a oportunidade ou não se permitem serem mais. Estamos vivendo um novo tempo. Estamos vivendo um tempo em que a nossa expectativa de vida aumentou muito. Nós vamos viver mais. Há vida, muita vida após a aposentadoria. É muito bom acompanhar nas redes sociais exemplos de pessoas na maturidade concretizando seus sonhos e/ou participando de diversas atividades que socialmente não são (ainda) permitidas e autorizadas para pessoas idosas.

Esse é um grande desafio: o que eu vou fazer com esse “tantão” de tempo que eu tenho pela frente? Pois é. Vamos começar agora. Estamos no fim de mais um ano e é tempo de despedidas. Não só das roupas que não me servem mais; mas, dos mesmos espaços em mim que não servem mais para a minha alma. Tempo de revisão de vida. Tempo de novas entradas também. Mesmo que possa parecer um clichê narrativo em função do apego consumista do período, novas possibilidades de vida estão colocadas à nossa frente para os próximos 365 dias do ano que vem.

Finalizo essa Coluna, mais uma vez, trazendo o Gonzaguinha, dessa vez, com a música, “Semente do amanhã” (Nunca pare de sonhar, 1984): “fé na vida, fé no homem, fé no que virá, nós podemos tudo, nós podemos mais, vamos lá fazer o que será”.

Jose Anisio Pitico

Jose Anisio Pitico

Assistente social e gerontólogo. De Porciúncula (RJ) para o mundo. Gosta de ler, escrever e conversar com as pessoas. Tem no trabalho social com as pessoas idosas o seu lugar. Também é colaborador da Rádio CBN Juiz de Fora com a coluna Melhor Idade. Contato: (32) 98828-6941

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