Derretendo

Na coluna deste domingo, o jornalista Marcos Araújo comenta sobre a onda de calor e os sinais de alerta que a Terra continua emitindo antes que seja tarde demais

Por Marcos Araújo

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‘Precisamos decidir se queremos nos adaptar e virar a chave antes que seja tarde demais, ou vamos continuar fingindo que é só mais uma onda de calor passageira, perfeita para lotar as praias no fim de semana?’ (Foto: Freepik)

Lá fora, o calor é escaldante. Da minha janela, vejo pessoas andando a passos lentos, numa tentativa de poupar energia. Do asfalto, exala um bafo quente. A impressão que tenho é de que estamos todos dentro de um grande forno, e a sensação térmica parece zombar dos números exibidos na previsão do tempo. As árvores, quando existem, fazem o possível para estender sua sombra a quem se arrisca a caminhar. Mas o que mais se vê ao redor é concreto, e o vento quente que sopra não refresca, só espalha ainda mais o calor.

Rios secam, reservatórios agonizam, a terra racha, as plantações minguam e os animais, cada vez mais sem abrigo, vagam em busca de sombra. Dentro de casa, ventilador virou sinônimo de resistência, e até os aparelhos de ar-condicionado parecem pedir socorro. O calor é insuportável, porque deixa a gente grudando e com a sensação de estar sufocado. Se ligo a televisão ou entro nas redes sociais, as manchetes só falam dos recordes históricos de temperatura, que são quebrados sem qualquer cerimônia. O clima, diante de sua magnitude, não se importa com o que nós, pobres mortais, estamos sentindo.

Ailton Krenak já avisou: “As pessoas vão derreter feito lesma na calçada”. E acho que estamos perigosamente perto disso. O calor extremo não é um fenômeno isolado, mas um recado ardente da crise climática. A nossa querida Terra responde com incêndios, tempestades súbitas e secas prolongadas, mas seguimos teimando em ignorar os sinais.

Especialistas alertam que, se mantivermos o ritmo atual de emissões de gases de efeito estufa, poderemos chegar ao fim do século com uma temperatura média 4ºC acima do período pré-industrial. Ou seja, caminhamos, sem remorso, para mais um episódio de extinção, que, na verdade, se parece mais com um ecossuicídio.

Talvez o verdadeiro verão do fim do mundo já tenha começado. E nós, sob esse sol inclemente, precisamos decidir se queremos nos adaptar e virar a chave antes que seja tarde demais, ou vamos continuar fingindo que é só mais uma onda de calor passageira, perfeita para lotar as praias no fim de semana?

Marcos Araújo

Marcos Araújo

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