
Ao caminhar pelo shopping, fui surpreendido pela vitrine de uma das lojas. Era muito iluminada e tinha uma decoração que dava destaque ao dourado. No seu interior, havia objetos que, nitidamente, intentavam se parecer com peças de luxo, mas que, com um olhar mais atento, revelavam-se meras imitações.
Logo pensei no esforço que o decorador do espaço havia feito para montar um cenário capaz de desviar a atenção da falta de originalidade dos produtos. Estava clara a tentativa de iludir o consumidor, agregando valor às peças apenas pelo fato de estarem expostas de forma suntuosa. Tal como o brilho que luzia naquele ambiente, era evidente que toda aquela atmosfera havia sido projetada mais para parecer do que para ser. Imediatamente, tive um gatilho (expressão que anda muito na moda) e passei a refletir sobre a importância das vitrines em um mundo centrado no poder da imagem.
É curioso como a gente se acostuma a julgar pelas vitrines, e a se deixar convencer por elas. Claro que este texto não é sobre peças falsificadas, mas sim sobre nós. Sobre como somos persuadidos a julgar as pessoas pelas roupas, títulos, sorrisos fotogênicos, redes sociais cheias de filtro. Tudo muito bem disposto, bem iluminado, mas também bem raso. Estamos na era dos rótulos, pois, praticamente, ninguém está interessado nos conteúdos. A embalagem vive seu momento de ápice mais agora do que em qualquer outra época, e é muito difícil escapar dessa lógica.
Porém, precisamos saber o que de fato restará depois que tudo isso passar, porque só o que vemos de fora não se sustenta. Chega um momento da vida em que somos surpreendidos pela certeza de que o que importa mesmo raramente está à mostra. Na verdade, está nos bastidores, no silêncio, no gesto que ninguém viu, no conteúdo sem embalagem.
Neste domingo de Páscoa, que pode ser compreendida como um símbolo de renovação, renascimento e esperança, que possamos começar a pensar sobre a travessia de um estado para outro: do parecer para o ser e do rótulo para o conteúdo. Que sejamos capazes de olhar para além das embalagens, nossas e dos outros, e reconhecer o valor que habita no que não está exposto, no que é discreto, mas essencial. Porque é do lado de dentro que a vida acontece de verdade.