Não é privilégio

“Esse debate não é sobre escolher entre trabalhar e descansar, mas sim reconhecer que, para ser realmente eficaz, é preciso dar ao corpo e à mente o que eles necessitam para seguir adiante." Leia na coluna do jornalista Marcos Araújo, neste domingo

Por Marcos Araújo

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“Por mais que ele seja uma das linhas que costuram o cotidiano, não temos dado a atenção merecida ao trabalho. Seguimos no “automático” sem refletir o que ele realmente exige de nós.” (Foto: Freepik)

Todo dia a mesma coisa: uma rotina que se repete e exige sempre mais. É assim que o trabalho, parte inescapável da nossa vida, é sentido pela maioria das pessoas. Por mais que ele seja uma das linhas que costuram o cotidiano, não temos dado a atenção merecida ao trabalho. Seguimos no “automático” sem refletir o que ele realmente exige de nós. Não apenas em termos de horas e esforço, mas também no que o ato de trabalhar nos retira: o tempo de viver, descansar, estar em família, simplesmente ser. 

Neste ritmo intenso, a busca constante por resultados é uma tônica do nosso tempo, e a sociedade incentiva e exalta a produtividade. É sempre preciso se empenhar mais, produzir mais e ser mais. Existe uma cobrança, naturalizada por nós, para que todos estejam no quadro de funcionário do mês. Todavia, nos esquecemos de que o corpo humano, assim como a mente, tem suas limitações. 

Diante desta constatação tão básica, tão humana, não é possível seguir sem uma pausa para renovar os ânimos. Na ansiedade de buscar nosso custeio, realidade da maioria, somos levados a crer que descanso é luxo, privilégio de quem pode parar. Aos desprivilegiados, é preciso levantar cedo, correr para o transporte, cumprir os horários, lidar com a pressão e as cobranças, voltar para casa tarde, cansado, muitas vezes sem energia para mais nada. Dentro dessa estrutura, que mais parece máquina de moer gente, o ato de descansar, esse direito elementar, parece um conceito distante, algo que ficará para depois, sem importância. 

Mas sabemos, diversas reportagens estão aí para alertar, que o trabalho incessante, além do desgaste físico, deixa marcas em todos os âmbitos de nossa existência. Contudo, não queremos demonizar o trabalho, claro que não, porque trabalhar também faz parte do nosso bem-estar, da nossa identidade. A questão que colocamos aqui é a qualidade de vida, enxergando o descanso como aliado do trabalhador. Se uma pessoa dispõe de tempo para folgar, para se cuidar, para se reconectar com sua essência, o trabalho tende a se tornar mais produtivo e significativo.

Atualmente, essa reflexão sobre a necessidade do descanso tem ganhado novas formas e se tornado um debate cada vez mais presente, aqui no Brasil e em outras partes do mundo. Existe um movimento crescente para assegurar aos trabalhadores a possibilidade de uma vida com dignidade, a fim de que tenham direito ao descanso sem sentir que estão sendo menos produtivos, menos importantes. Esse debate não é sobre escolher entre trabalhar e descansar, mas sim reconhecer que, para ser realmente eficaz, é preciso dar ao corpo e à mente o que eles necessitam para seguir adiante. 

Marcos Araújo

Marcos Araújo

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