“Nós transformamos a natureza em dinheiro e agora temos que transformar dinheiro em restauração e preservação da natureza se quisermos continuar vivendo”, disse a ministra Marina Silva, em evento sobre o clima realizado em agosto em São Paulo.
Essa é uma reflexão que vem a calhar em um domingo de eleição, uma vez que o voto é um instrumento que pode ser usado para mudar os rumos do que queremos esperar para o nosso futuro. Se quando olhamos para a natureza só conseguimos enxergar lucro, é porque, durante séculos, fomos guiados pela lógica da exploração, pela ideia de que o mundo à nossa volta era um recurso infindável.
Nossa ambição transformou florestas em pastos, rio em depósitos de resíduos, montanhas em escavações deformadas. Cidades foram erguidas, pontes e fábricas construídas. Nossas riquezas naturais, convertidas em bens de consumo e ganho. Todavia, não fomos capazes de perceber que, enquanto ganhávamos mais dinheiro, algo se perdeu. Não apenas a diversidade de plantas e animais, mas também o equilíbrio delicado que mantinha o planeta vivo. O ar, que era fresco, agora tem partículas invisíveis que ameaçam nossos pulmões; a água, antes abundante, corre o risco de se tornar insuficiente para matar nossa sede.
Percebemos, talvez tarde demais, que o preço dessa “prosperidade” foi muito alto. Agora estamos diante de um dilema: o dinheiro responsável por tanta destruição pode ser o responsável para reparar tudo que foi destruído. Mas essa não é uma tarefa simples, pois requer mudanças de paradigmas, porque o dinheiro, sozinho, não planta árvores, não purifica rios, não restaura o ciclo natural das coisas. Ele pode, no máximo, comprar a chance de começarmos a consertar o que fizemos.
E então, surgem perguntas: estamos dispostos a pagar esse preço? Estamos prontos para abrir mão do conforto que o dinheiro comprou? É pensando justamente nessas questões que nosso voto ganha mais importância, porque depende dos nomes que saírem das urnas a nossa possibilidade de vislumbrar um futuro possível.
A restauração da natureza exige paciência, pois sabemos que árvores não crescem da noite para o dia, que o solo não se recupera em questão de meses. Existe um tempo natural, alheio à nossa pressa, que é preciso respeitar, compreendendo que a verdadeira riqueza não está em retirar tudo da terra, mas em garantir que ela possa continuar gerando nosso sustento.
Se isso for entendido, talvez, então, estaremos à beira de uma revolução, em que o grande desafio da humanidade será transformar dinheiro em vida, em preservação. Fácil não será, mas, se quisermos continuar vivendo, é o único caminho.