Valeu a pena secar o Palmeiras?
O ano era 1995. Lembro que meu falecido pai, em recuperação contra uma grave pneumonia, estava em casa, e ao lado dele, naquele 28 de novembro, acompanhamos a decisão do Mundial de Clubes, entre Grêmio e Ajax. Muito criança, e ainda sem entender praticamente nada do torneio, sofri com a derrota nos pênaltis do time de Danrlei, Paulo Nunes e Jardel. Ao ouvir de Galvão Bueno que o Tricolor Gaúcho era o Brasil na decisão, desejei muito a vitória dos brasileiros. Dois anos depois, ainda menina, sofri novamente com a derrota do Cruzeiro para o Borussia Dortmund na finalíssima de 97.
Duas décadas e meia depois, confesso que em alguns momentos de sábado passado dei uma secadinha no Palmeiras, campeão da Libertadores em cima do meu time de coração. O espírito infantil de outrora, por alguns minutos, deu lugar a um sentimento de vingança quando Havertz converteu a penalidade que garantiu o Mundial ao Chelsea.
Mas a crítica de Gustavo Scarpa a amigos que confessaram terem torcido contra o Verdão na decisão em Abu Dhabi convida a uma reflexão, inclusive a mim mesma: faz sentido dar moral a um time europeu e desvalorizar uma equipe do nosso país? Chegamos a tal ponto de, por rivalidade a outro clube, desmerecer até mesmo jogadores que vestem a amarelinha. Quantas e quantas vezes torcemos contra um atleta da seleção só por ele ser revelado por um time que não seja o nosso? Enaltecemos os gringos e desprezamos os nossos.
Com dirigentes desunidos, que vivem se alfinetando pelas redes sociais, e com gestões pouco coesas, o futebol brasileiro vai descendo degraus e amargando dez anos de seu último Mundial de Clubes.
E a sensação que fica é de que o clubismo tomou conta de tudo.
Bem diferente daquela época de eu menina com meu pai.