O outro Jesus
Muito tem se falado em Jesus no Flamengo. Mais especificamente, Jorge Jesus. Mas na noite de terça-feira, durante a cerimônia de Prêmio Brasil Olímpico, Isaquias Queiroz, atleta que também defende as cores do Rubro-negro, lembrou de outro Jesus e de uma história tão bonita quanto a de Mister com seus jogadores em 2019.
O medalhista de ouro da canoagem nos Jogos de Tóquio, em suas simples e generosas palavras, fez questão de agradecer a Jesus Morlán, treinador espanhol que o acompanhou nas Olimpíadas do Rio e que, até novembro de 2018, quando morreu vítima de um câncer no cérebro, seguia planejando e sonhando com o sucesso da canoagem brasileira também no Japão – e até mesmo em Paris 2024. Um profissional citado sempre nas entrevistas como fora da curva em questão de treinamento de alto rendimento e um paizão com seus comandados. Justo, Isaquias ainda enalteceu Lauro de Souza Júnior, sucessor de Morlán na preparação da equipe olímpica.
Seria uma noite para coroar o canoísta baiano, que, eleito pela quarta vez como melhor atleta olímpico do Brasil, torna-se agora o maior vencedor da história da honraria, superando Cesar Cielo, com três troféus. Seria uma noite para relembrar Tóquio, e os dias de felicidade pela melhor exibição verde-amarela em uma edição de Jogos Olímpicos. Seria uma noite para festejar a realização da festa em Aracaju (SE) – e em um Nordeste pouco lembrado e valorizado cotidianamente. Mas foi até mais.
Em tempos de muitos conflitos envolvendo treinadores de futebol, os agradecimentos de Isaquias chamaram atenção mais uma vez para a bonita e respeitosa relação que pode existir entre treinador e atleta. E no quanto o esporte olímpico, ao mesmo tempo em que sofre com a falta de investimento, é rico em boas histórias.
Isaquias fez por merecer seu ouro em Tóquio, fez por merecer seu título de melhor atleta do ano, fez Morlán – ainda que in memorian – ser merecidamente reverenciado novamente. E, por um momento, fez-nos perceber que Jesus não é apenas um no esporte.