“Pode isso, Arnaldo?”
Quando criança, lá em Santa Terezinha, vivia com o dedão do pé escalpelado. Passava o dia batendo bola no asfalto quente. Na maioria das vezes, descalço. Àquela época, só pensava em ser jogador de futebol – situação que invariavelmente ocupa meus sonhos, quando envergo uma camisa 10 alvinegra. Todavia, o tempo me mostrou os sacrifícios necessários para se tornar um atleta profissional. Em todas as tentativas, escutava o óbvio: “você é muito franzino”, vaticínio irrefutável nos tempos do “futebol força”.
Minha carreira acabou restrita às peladas da vida, onde tento militar até os dias de hoje. Frustrado o sonho, passei a alimentar outras ambições. O gosto pelas palavras me fez almejar ser comentarista esportivo. Escalações e opções táticas passaram a ser o combustível de discussões infindáveis com a galera da “rua”, que era quase o bairro todo. Invariavelmente, posições mais extremas transformavam-se em brigas acaloradas, “vias de fato”.
Na base do bate-boca, cresci defendendo o 4-3-3 como esquema definitivo, com dois jogadores de velocidade pelos flancos e um pivô centralizado na área. No meio campo, prego a utilização de um cabeça de área mordedor, dois meias de ligação com senso de posicionamento para fechar a “canxa” e um camisa 10 “camisa 10” atuando próximo à área adversária.
O problema é que, nos dias de hoje, pouco adianta ter opinião formada sobre a tática do jogo. Todo mundo só quer falar é da arbitragem. Até reconheço a fragilidade técnica dos nossos árbitros, mas confesso que o “monotema” me incomoda. No Brasil, parece que nenhum time perde ou ganha sem ser “roubado”, enquanto nosso futebol segue ladeira abaixo. Eu que sonhava em ser comentarista, realizo o ensejo conversando triste com um “Arnaldo César Coelho” a cada esquina. É a tal geração “tira-teima”.