Músicas para ouvir em casa
Oi, gente.
A coluna desta semana chega com quatro novos registros sonoros oficiais, fáceis de encontrar nos streamings da vida e que podem ser uma opção para passar os dias, semanas e meses de isolamento e distanciamento que nos aguardam. As resenhas incluem os novos álbuns dos veteranos do Pearl Jam e Strokes, a união de forças dos Flaming Lips e Deap Vally no projeto Deap Lips e um representante nacional da nova safra, a dupla de rock eletrônico Latexx.
Além das novidades musicais, a ah miga leitora e o ah migo leitor podem curtir ainda a nossa playlist “…E obrigado pelos peixes”, com mais de 1.700 músicas e 117 horas de duração. Tudo para fazer nossos 13 leitores felizes enquanto ficam bonitinhos em casa, respeitando as recomendações da Organização Mundial da Saúde.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.
#fiqueemcasa
PEARL JAM, “Gigaton”
O Pearl Jam demorou sete anos para lançar um novo álbum, mas a demora foi recompensada com um dos melhores trabalhos do principal sobrevivente do grunge. Sucessor de “Lightining Bolt”, de 2013, “Gigaton” é o bom e velho Pearl Jam que conquista fãs há três décadas. A novidade são alguns toques eletrônicos alienígenas à sonoridade da banda, mas nada que assuste o ouvinte fiel.
“Giganton” começa com duas músicas que vão agitar os shows do Pearl Jam quando a pandemia acabar, “Who ever said” e ”Superblood Wolfmoon”, seguidas pela moderninha “Dance of the Clairvoyants” e a excelente “Quick space”. Entre outros destaques, as baladas “Alright”, “Retrograde” e “River Cross”, que encerra a jornada de 12 faixas e 57 minutos – uma verdadeira bica na tendência atual de discos com sete ou oito canções, com pouco mais de meia hora.
Quanto às letras, Eddie Vedder bate com força no alaranjado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e também mistura mensagens positivas, às vezes sombrias, reflete sobre o passar do tempo (afinal, Vedder já tem 55 anos na carcaça), tem suas viagens esotéricas… Ao final, são diversos fatores que chegam a um belo denominador musical comum.
DEAP LIPS, “Deap Lips”
Acompanhar Wayne Coyne e seus Flaming Lips exige dedicação no esquema 24/7: a banda de Oklahoma City não para, lançando música com 24 horas de duração (“7 Skies H3”); faz parcerias com Miley Cyrus, Ke$ha, Nick Cave, Tame Impala, Erykah Badu, Yoko Ono; regrava “Space Oddity” do David Bowie, clássicos dos Beatles (“With a little help from my fwends”), “The Dark Side of the Moon” (o clássico álbum do Pink Floyd); lança álbum em pen drive que vem no interior de chiclete em forma de feto, outro (“Zaireeka”) que precisa ser tocado em quatro aparelhos de CD ao mesmo tempo. E nem falamos dos álbuns oficiais do grupo.
E o mais recente projeto paralelo dos Flamings Lips, daqueles que a gente descobre só quando aparecem no streaming, é o Deap Lips, em que Wayne Coyne e Steven Drozd juntam figurinhas sonoras com a dupla californiana Deap Vally, formada por Lindsey Troy e Julie Edwards. O resultado é “Deap Lips” (que passei umas duas semanas lendo “Dead Lips”), um dos álbuns mais legais lançados este ano.
O trabalho reúne dez músicas em menos de 40 minutos de duração e mistura vários elementos que as duas bandas têm de melhor, mas sem excessos que possam estragar a parceria. É um álbum em que o pop, a psicodelia, o rock alternativo e o hard rock caminham felizes e de mãos dadas. Não tem música ruim por ali, mas qualquer ceticismo inicial por parte de pessoas de pouca fé será pulverizado com as audições de “Hope Hell High”, “Love is a mind control”, “Home thru Hell” e “There is know right there is know wrong”.
LATEXXX, “Latexxx”
Duo de rock eletrônico formado em 2018 por Gabriela Camilo e Fabio L. Caldeira, o Latexxx chega a seu segundo registro sonoro, desta vez um EP, que marca a estreia do selo musical Selo Baratos/Clube do Vinil, da loja de livros e discos carioca Baratos da Ribeiro. Para quem gosta de synth-pop, pós-punk e outras misturas entre guitarras e sintetizadores, as quatro músicas rolam macio num repeat infinito.
O EP homônimo conta com as parcerias e participações especiais de Fausto Fawcett (com quem a dupla tem tocado na nova formação dos Robôs Efêmeros) em “Irmã Paranoia” e da poetisa, performer e artista visual Clauky Boom em “Love loopin’”. Com apenas 13 minutos do início ao fim, “Latexxx” é moderno e retrô ao mesmo tempo; saudosistas vão perceber que a dupla tem aquela influência saudável do pop eletrônico dos anos 80, e dá para perceber entre essas influências ecos do Kraftwerk na já citada “Love loopin’” e (positivamente, acreditem) Sigue Sigue Sputinik em “Estado de choque”.
THE STROKES, “The new abnormal”
A década que se encerra em 31 de dezembro quase foi perdida para os Strokes, que no período havia lançado os decepcionantes – sendo que alguns diriam desastrosos – álbuns “Angles” (2011) e “Comedown Machine” (2013), além do EP “Future Present Past”, que se salva por ter apenas três músicas. Mas eis que temos o lançamento de “The new abnormal”, e o quinteto nova-iorquino pelo menos levantou e sacudiu a poeira. A volta por cima, porém, ainda ficou para o próximo trabalho.
“The new abnormal” não chega ao mesmo nível dos três primeiros álbuns da banda, lançados na década passada, mas tem sua dignidade. O trabalho tem produção de Rick Rubin (Red Hot Chili Peppers, Beastie Boys, Slayer, Johnny Cash), sujeito que sabe trabalhar com o que tem à mão em vários estilos, e dá para arriscar que é um dos responsáveis por tirar parte dos excessos de new wave pasteurizado – e vencido – dos trabalhos anteriores.
Ainda há momentos em que o fantasma de “Angles” se faz presente, mas o sexto trabalho de estúdio do Strokes tem bons momentos como a faixa de abertura, “The adults are talking”, e “Bad decisions” e “Brooklyn Bridge to chorus”, que caberiam sem problemas numa playlist com as músicas mais interessantes do grupo.