A iminĂȘncia da derrota alvinegra
Qualquer alvinegro razoavelmente alvinegro atestou a sentença pela derrota para o Internacional no Ășltimo sĂĄbado (12) quando Pedro Raul inaugurara o marcador no Gigante da Beira-Rio. NĂŁo em razĂŁo do jejum de Pedro Raul, hĂĄ 11 jogos sem marcar â um centroavante cujo nome Ă© composto estĂĄ sentenciado a poucos gols. Tampouco por conta da assistĂȘncia de ZĂ© Welison, que roubara a bola de Patrick como se fosse um insulto o passe displicente dado por Bruno NazĂĄrio anteriormente. Sair Ă frente do adversĂĄrio Ă© como um estado transitĂłrio entre o pessimismo e a resignação a qualquer um que se diga Botafogo de Futebol e Regatas.
Pessimismo porque, quando a testada de Pedro Raul morreu no contrapĂ© de Marcelo Lomba aos 28 minutos, os alvinegros foram confrontados pela possibilidade de uma vitĂłria, ou seja, pela certeza de que a expectativa, quando se Ă© Botafogo, Ă©, na verdade, angĂșstia. Bastaram sete minutos para que o Botafogo devolvesse ao torcedor o resignado conforto de uma derrota predestinada. Como nĂŁo poderia ser diferente, o gol de Patrick, aliĂĄs, nasce dos pĂ©s de MoisĂ©s, um miserĂĄvel egresso das fileiras alvinegras – a surpresa seria menor apenas caso fosse Thiago Galhardo.
Alguns reconhecem os alvinegros justamente pela fĂ© supersticiosa, mas a essĂȘncia do botafoguense Ă© o masoquismo diante da melancolia. Qualquer torcedor sofre, mas somente o botafoguense tem tara por sofrer. E, obviamente, a tensĂŁo dos milhĂ”es de alvinegros paira sobre os jogadores independentemente onde estejam. A crĂŽnica esportiva passarĂĄ dias em busca de explicação tĂ©cnica ou tĂĄtica para o que Kevin e Kanu protagonizaram em Porto Alegre, mas tĂŁo somente os alvinegros tĂȘm a resposta.
A virada colorada poderia ter saĂdo quatro minutos antes, quando Yuri Alberto cabeceou Ă direita de Diego Cavalieri. Na verdade, sairia caso fosse qualquer outro time em campo que nĂŁo o Botafogo. Mas nĂŁo haveria de ser tĂŁo simples. Os segundos do recuo indolente de Kevin foram na verdade os minutos suficientes para que o receio de ter saĂdo Ă frente do placar simplesmente fosse materializado em martĂrio. Todos os botafoguenses sabiam o que aconteceria quando Yuri Alberto lançou-se em direção Ă bola enquanto olhava para o ĂĄrbitro.
PorĂ©m, a comichĂŁo despertou no momento em que Cavalieri, ao perceber a indiferença do juiz, se jogou tardiamente Ă frente do adversĂĄrio colorado. Em um primeiro momento, o lance pode atĂ© soar inacreditĂĄvel, Ă© verdade. PorĂ©m, logo ganha ares resignados de possĂvel. E, ao fim, instala-se a sensação de que nĂŁo haveria outra maneira de ter sido. O gol de Pedro Raul, tĂŁo cedo, apenas denunciava a iminĂȘncia da derrota, afinal, na liturgia alvinegra, sofrer a virada Ă© lĂquido e certo. Se ao menos ele tivesse errado a testada, os alvinegros teriam sido poupados de qualquer esperança.
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