Singular em disponibilidade de recursos energéticos, nosso país convive com uma ameaça crescente de escassez de energia. O vilão aqui é a escassez hídrica, com impactos inclusive na produção agrícola (estima-se que 70% da água utilizada no país seja destinada à agricultura), o que faz com que o recurso seja disputado e, emergencialmente, trocado por outros mais caros, como a energia das termelétricas. Atualmente, no Brasil, 74% da energia elétrica consumida vem de hidrelétricas, o que nos torna demasiadamente dependentes do padrão de chuvas.
Com a escassez de chuvas do momento, 100% das usinas termelétricas estão ligadas, o que eleva demasiadamente o custo efetivo de geração elétrica (enquanto 1 MW de energia hidráulica custa R$ 120, o da térmica sai por R$ 800). Até o ano de 2014, o Governo havia optado por não repassar o custo efetivo dessa energia para o consumidor, subsidiando as distribuidoras com recursos do Tesouro Nacional da ordem de R$ 64 bilhões. O ajuste fiscal, promovido em 2015 pelo Ministério da Fazenda, entretanto, acabou por suspender novos auxílios ao setor. Somados os ajustes anuais, a possibilidade de reajustes ordinários e o sistema de bandeiras tarifárias, que entrou em vigor no início do ano e tem por objetivo sinalizar ao consumidor o custo de geração, a elevação tarifária pode chegar a 60%. E pode continuar subindo se não chover.
Concomitantemente ao aumento do preço, ainda enfrentávamos a possibilidade de um novo racionamento neste ano, decorrente do atraso nas obras planejadas desde 2001, ano do primeiro grande racionamento no Brasil. Graças ao desaquecimento da economia, essa possibilidade perdeu força nos últimos meses. Segundo a EPE (Empresa de Pesquisa Energética), o consumo de energia elétrica no Brasil caiu 2,2% em maio, quando comparado ao mesmo mês do ano passado. Os motivos seriam a fragilidade econômica no país e as altas tarifas. No ano, o consumo total acumulou uma queda de cerca de 1%.
O setor que mais desacelerou foi a indústria, com queda no consumo de energia elétrica de 4,2%, seguida dos domicílios (queda de 2,5%). Em contrapartida, o comércio e os serviços apresentaram um aumento de 0,5%, ainda em comparação com maio de 2014. Dentro da indústria, as quedas observadas no setor automobilístico (-13,7%) e metalúrgico (-10,7%) foram as que mais puxaram o consumo para baixo.
No Brasil, há condições geográficas para mantermos uma matriz energética das mais diversificadas do mundo. Temos sol, vento, biomassa, petróleo, gás e água. Mas faltam tecnologia e linhas de transmissão. Talvez o que falte mesmo seja vontade. Enquanto isso, seguimos eternamente como o país do futuro, penando no presente.
Por Gabriele Ribeiro e Breno Mendonça – email para: [email protected]