Desaceleração econômica: quando o trabalhador é o real prejudicado

Por Conjuntura e Mercados Consultoria Jr

Nos seis primeiros meses de 2015, os brasileiros foram bombardeados com diversas notícias ruins. Os mais incautos poderiam pensar que os escândalos de corrupção em grandes em presas e na alta cúpula do poder não deflagrariam a escalada de preços e a perda de confiança que desvalorizou o real e gerou mais inflação e, pior dos mundos, hoje se transforma em níveis altos de desemprego. De acordo com o IBGE, a taxa de desocupação entre fevereiro e abril deste ano foi estimada em 8%. O indicador revela que a procura por trabalho tem aumentado, enquanto a disponibilidade de postos não cresce na mesma proporção, principalmente em setores que empregam e remuneram mais. No período analisado, cerca de oito milhões de pessoas estavam desocupadas no país, num total de 163,834 milhões de pessoas em idade de trabalhar. Se comparado ao trimestre anterior (novembro de 2014 a janeiro de 2015), quando a estimativa era de 6,8 milhões, houve acréscimo de 18,7%, o que representa aumento de 1,3 milhão de pessoas desocupadas na força de trabalho. Já no confronto com igual período do ano passado, esta estimativa subiu 14%, significando um aumento de 985 mil nesse contingente.

Os números não são iguais entre os setores. Na atividade de construção civil, por exemplo, houve queda no número de pessoas empregadas de 3,7% em relação ao trimestre antecedente e de 7,6% em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Já no setor de educação, houve aumento sa¬ zonal de 7,2% nos empregados, em decorrência do início das aulas. Vale dizer que o emprego sofreu não apenas quantitativamente, mas também qualitativamente. Houve redução no trabalho formal e no rendimento dos trabalhadores. Entre os ocupados do setor privado, houve diminuição de 1,5% (552 mil pessoas) de trabalhadores com carteira assinada, comparativamente ao mesmo trimestre de 2014. O rendimento real médio (descontada a inflação), que permanecia estável ou, até mesmo, ascendente,apresentou uma retração de 0,4% em relação ao trimestre anterior, passando de R$1.862 para R$1.855. Para o trabalhador por conta própria, a contração foi maior: 3,3%. Ainda em relação a 2014, para as atividades de construção civil e de alojamentos e alimentação, a redução no rendi¬ mento foi de 6,5% e 5,4%, respectivamente. Já as atividades de transportes, armazenagem e correio apresentaram diminuição de 4,7% em relação ao trimestre anterior. As demais atividades seguem com rendimento médio estagnado, mas sem previsões de sustentação deste quadro. Ou seja, também vão sofrer contração.

Este custo social já era previsto na esteira da desaceleração econômica. A Organização Internacional do Trabalho (OIT), em seu último relatório, ratificou aquilo que já vinha sendo discutindo pelos economistas: a aposta do Brasil em commodities e em crescimento embasado no crédito teria sua sustentabilidade colocada à prova rapidamente. No Governo, fala-se em retomada dos investimentos, eliminação de gargalos de infraestrutura e diversificação produtiva para a mudança deste panorama; mas a conjuntura econômica, inexorável, parece “forçar para baixo”. Com previsões de que a Selic aumente para mais de 14% em setembro, crédito restrito e baixa confiança do empresariado, restam poucas dúvidas sobre quem vai ganhar essa queda de braço. O perdedor já é conhecido: o trabalhador brasileiro.

Colaboraram Karina Belarmino, Renan Guimaral, Beatriz Machado, Josiele Nunes, Jailson Pires, Matheus Andrade, Gabriel Henrique Barbosa, Daniel Oliveira, Everton Barbosa.

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