Síndrome do olho seco: uso excessivo de telas leva à alta de casos entre jovens 

Estudo mostra que a maioria dos participantes apresentava ao menos um sinal clínico da doença; além de mudança de hábitos, é recomendado visitas anuais ao oftalmologista


Por Fernanda Bassette, Agência Einstein

27/05/2025 às 10h15

síndrome do olho seco
Até mesmo uso moderado pode aumentar risco de desenvolver síndrome do olho seco (Foto: Pixabay)

Uma condição até pouco tempo associada ao envelhecimento tem afetado cada vez mais os jovens adultos: a síndrome do olho seco, doença oftalmológica caracterizada pela baixa produção ou má qualidade das lágrimas, dificultando a lubrificação adequada da superfície ocular.

Um estudo da Aston University, no Reino Unido, acendeu o alerta ao revelar que 90% dos participantes entre 18 e 25 anos apresentavam ao menos um sinal clínico da síndrome. Os resultados, publicados na revista The Ocular Surface reforçam a preocupação dos especialistas, que já classificam o avanço da doença como uma “epidemia comportamental” — consequência direta do uso excessivo de dispositivos digitais.

Sintomas da síndrome do olho seco e impacto na visão

A oftalmologista Claudia de Paula Faria, do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que, nos casos da síndrome, a lágrima perde componentes importantes, como lipídios ou mucina, tornando-se instável e evaporando rapidamente. Isso provoca sintomas como ardência, sensação de areia nos olhos, vermelhidão, visão embaçada e fotofobia (sensibilidade à luz).

“É uma condição crônica, multifatorial, que interfere na lubrificação dos olhos e causa inflamação na superfície ocular. O problema pode afetar significativamente a qualidade de vida, com sintomas persistentes e riscos de lesões mais graves”, afirma a médica.

Telas digitais: o vilão silencioso

Durante um ano, os pesquisadores britânicos acompanharam 50 jovens. Ao final do estudo, mais da metade (56%) já havia recebido o diagnóstico da doença, e 9 em cada 10 apresentavam sinais de comprometimento ocular.

O principal fator relacionado à piora do quadro foi o tempo de exposição às telas, que ultrapassava, em média, oito horas diárias. Esse hábito altera o padrão de piscadas — que se tornam menos frequentes e incompletas —, dificultando a distribuição da lágrima sobre os olhos e acelerando sua evaporação.

Segundo Faria, até mesmo o uso moderado de telas (entre 2 e 6 horas por dia) já é suficiente para elevar o risco de desenvolver sintomas da síndrome.

Diagnóstico precoce é essencial

O estudo reforça a importância de identificar precocemente alterações nos olhos, mesmo em quem não apresenta sintomas aparentes. Muitos pacientes só recebem diagnóstico quando a condição já está avançada e impactando atividades do dia a dia.

Além do uso de telas, a síndrome do olho seco está associada a fatores como sexo feminino, idade, lentes de contato, cirurgias oculares, doenças autoimunes, uso de medicamentos como antidepressivos e antialérgicos, além de condições ambientais como ar seco e poluição.

Crianças também estão em risco

O distúrbio também pode atingir crianças e adolescentes, especialmente os expostos desde cedo a longos períodos de tela. Entre as recomendações para prevenção estão:

  • Limitar o tempo de tela a no máximo 3 horas diárias;

  • Incentivar atividades ao ar livre;

  • Adotar a regra 20-20-20 (a cada 20 minutos diante da tela, olhar para algo a 6 metros de distância por 20 segundos);

  • Ensinar o hábito de piscar corretamente durante o uso de dispositivos;

  • Manter consultas oftalmológicas anuais.

Tratamento contínuo e adaptação de hábitos

Embora não haja cura definitiva, os tratamentos disponíveis ajudam a controlar os sintomas e frear a progressão da doença. As abordagens variam conforme o caso e incluem lágrimas artificiais, colírios anti-inflamatórios, suplementos alimentares e mudanças no estilo de vida.

“A síndrome do olho seco exige acompanhamento constante. O tratamento é crônico e precisa ser ajustado com o tempo, de forma personalizada, conforme os mecanismos e a gravidade em cada paciente”, ressalta Faria. “Alívio completo é raro, e o controle eficaz depende da combinação de múltiplas terapias ao longo do tempo.”

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