Veja 6 livros entre os mais vendidos da Flip e confira dicas de leitura
Evento, que aconteceu na última semana em Paraty e homenageou João do Rio, é ponto decisivo para entender os destaques literários
A Festa Internacional de Literatura de Paraty (Flip) é o evento mais aguardado do ano para leitores brasileiros. As ruas da cidade, este ano, receberam nomes como Édouard Louis, Mohamed Mbougar Sarr, Carla Madeira e até Felipe Neto, além de terem sido palco de diversas declarações de amor ao autor homenageado do ano, João do Rio. Ao trazer mesas com autores nacionais e internacionais de grande evidência, também é um ponto decisivo para entender destaques do mercado e conhecer obras que podem marcar toda uma época. A Tribuna selecionou cinco livros entre os mais vendidos que merecem toda a atenção que estão recebendo.
Antes de apresentá-los mais detalhadamente, vale um prévio destaque para o “Descolonizando afetos”, de Geni Nuñez (da editora Paidós), que ficou em quinto lugar entre os mais vendidos na Livraria da Travessa, parceira oficial do evento. A autora também escreveu “Felizes por enquanto”, publicado pela Planeta Brasil, e fez parte de mesa sobre o amor político, junto com Brigitte Vasallo.
Já “Canção do amor”, de Txai Suruí (Elo Editora), ficou em oitavo lugar, após a autora ter participado da mesa em que falou sobre os povos indígenas e a floresta. A sul-coreana Han Kang, por sua vez, que foi anunciada como a vencedora do Nobel da Literatura deste ano, também teve seus livros entre os mais vendidos da festa, apesar de não ter participado do evento.
“A alma encantadora das ruas”, de João do Rio
Autor homenageado do ano, João do Rio merece todo o destaque que teve: as edições de “A alma encantadora das ruas” (uma da Antofágica e outra da José Olympio) ficaram em primeiro e segundo lugar na lista dos mais vendidos. Reza a lenda que o enterro do autor reuniu mais de um quarto da cidade carioca da época, e está claro que até hoje seus textos continuam a movimentar multidões.
A abertura da festa feita por Luiz Antônio Simas deu o tom da importância que o jornalista e escritor teve no início do século 20 e como habitou o Rio de Janeiro com liberdade para entender os contrastes e incoerências que a cidade carrega. Atualmente, seus textos continuam a carregar um dos poucos registros de uma cidade que existia nas sombras, com ciganos, viciados em ópio e terreiros.
“A mais recôndita memória dos homens”, de Mohamed Mbougar Sarr
Mohamed Mbougar Sarr é um escritor senegalês que dividiu a mesa com o brasileiro Jeferson Tenório. Com visão bastante crítica sobre a literatura contemporânea e uma evidente irritação em classificar sua própria literatura apenas como “negra” ou “africana”, ele já chegou ao Brasil com uma pelada marcada com Chico Buarque, seu grande admirador.
Sua obra “A mais recôndita memória dos homens” foi lançada pela Fósforo no ano passado e ganhou o Prêmio Goncourt (o de maior destaque da literatura em francês) quando foi publicada. A obra se inspira em uma história verídica para construir um romance de formação, que celebra a literatura, trabalha o tempo de forma complexa e se aprofunda sobre um escritor aparentemente desaparecido.
“Mudar: Método”, de Édouard Louis
Dizer que Édouard Louis é um gênio pode parecer exagerado, mas depois de conhecer o autor e o livro “Mudar: Método” fica difícil pensar diferente disso. O autor é um trânsfuga de classe que escreve sobre a própria vida, como um homem gay vindo de uma família pobre e da classe trabalhadora, que aderiu à extrema direita, e que, ao longo da vida, sempre o oprimiu.
Na obra de sua autoria mais vendida da Flip, ele detalha o processo de transformação totalmente consciente que passou para se tornar um autor de prestígio, incorporando tantas vezes uma encenação burguesa e sendo transformado pelos encontros que teve. Sua mesa foi a de maior destaque da festa, e ele passeou feliz e acessível pelas ruas de Paraty.
“Quero estar acordado quando morrer”, de Atef Abu Saif
A obra “Quero estar acordado quando morrer” se volta de forma intimista para o momento em que Israel começa a bombardear Gaza, em um genocídio ainda em curso. Na ocasião, Atef Abu Saif estava no local realizando compromissos como Ministro da Cultura e Autoridade Nacional Palestina, e ficou encurralado pelos ataques junto com seu filho e seus compatriotas.
Este diário feito pelo escritor, enquanto não sabia se viveria os próximos dias, também é uma forma de refletir sobre a importância de contar uma história e como fazer com que ela venha à tona – uma narrativa que ele, inclusive, começou a duvidar que estava sendo realmente olhada. A mesa do escritor foi muito aplaudida pelo público, que pôde conhecer mais a vivência real do autor.
“O avesso da pele’, de Jeferson Tenório
O romance de Jeferson Tenório lançado em 2020 continua colhendo vários frutos: o autor recebeu o Prêmio Jabuti de 2021, teve a obra publicada em diversos países e, em 2024, foi falar sobre seu trabalho na Flip.
No mesmo ano, “O avesso da pele” também foi vítima de ataques e censuras por todo o país, fortemente rechaçados por todo o universo da literatura. A obra é uma das mais importantes e tocantes da literatura brasileira atual, e se volta para um filho que, após a morte do pai, busca resgatar o passado da família e entender os passos que percorreram até ali, em um país racista e desigual.
“A árvore mais sozinha do mundo”, de Mariana Salomão Carrara
Mariana Salomão Carrara é uma das autoras brasileiras atuais que tem publicado livros mais originais.
Em “A árvore mais sozinha do mundo”, ela ousa ainda mais ao contar a história de uma família de fumicultores através do ponto de vista de uma árvore, de uma caminhonete, de uma roupa de manuseio e de um espelho, com jeitos e perspectivas bem diferentes.
Apresentando esse romance triste e delicado, ela esteve acompanhada da best-seller Carla Madeira e de Silvana Tavano na última mesa do evento.
Outros autores da Flip
Além dos autores mais vendidos, vale conhecer muitos outros que estiveram no evento e são expoentes da literatura, como a autora chilena Arelis Uribe, que é autora do livro de contos “As vira-latas” (Bazar do Tempo), em que aborda temas da vida cotidiana de garotas que vivem às margens, que se relacionam com outras mulheres e que percebem na pele questões de classe e da habitação da cidade.
Já “Cara paz” (Nós), da italiana Liza Ginzburg, se volta para duas irmãs, depois que sua mãe sai de casa, se aprofundando com atenção sobre todas as relações desse pequeno núcleo familiar e também sobre as fragilidades que acometem a todos.
Por fim, também vale conferir “O diabo das províncias”, do colombiano Juan Cardenas, que trata de um biólogo que volta para a sua cidade natal e se torna professor de um internato feminino.