Silvicultura: entenda o que é o cultivo de árvores com fins comerciais
Em Minas Gerais, desde 1985, a extensão de terras dedicada a silvicultura cresceu 370%; comércio é voltado para matérias-primas como madeira e papel
A silvicultura é a prática do cultivo de florestas focada no manejo sustentável das árvores e do ecossistema florestal. Atualmente, ela é muito utilizada para a produção e o comércio de matérias-primas, como madeira, papel e produtos não madeireiros, sendo considerada uma atividade que tenta equilibrar o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. Um dos grandes exemplos, nesse sentido, são as florestas de eucalipto. Em Minas Gerais, desde 1985, a extensão de terras dedicada a esse cultivo cresceu 370%, de acordo com dados do MapBiomas divulgados em 2023, fazendo com que o estado liderasse o ranking nacional em área destinada à silvicultura. Essa é uma alternativa que vem sendo muito procurada, inclusive em Juiz de Fora e na Zona da Mata, mas que ainda enfrenta alguns entraves e gera debates sobre a real sustentabilidade que proporciona.
Além de um setor econômico significativo, a silvicultura também gera milhares de empregos diretos e indiretos em diversas regiões. Minas Gerais tem se destacado pelo crescimento do setor, impulsionado pela demanda por madeira e produtos sustentáveis, e serve como um local de expansão pela diversidade de climas e solos do estado, que favorecem o cultivo dessas espécies, que são fundamentais para a indústria de papel e celulose.
Como analisa Breno Moreira Motta, biólogo e diretor do Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), na Zona da Mata mineira, a silvicultura agroecológica tem a predominância do cultivo de eucalipto e pinus, e ainda usa espécies nativas como a aroeira, o jequitibá e o ipê, que não apenas contribuem para a preservação do ambiente, mas também oferecem produtos diversificados. “Essas árvores são integradas em sistemas que favorecem o cultivo de produtos não florestais, como café, frutas e ervas medicinais, promovendo a sociobiodiversidade agrícola. Além disso, a produção de alimentos orgânicos e de qualidade fortalece a economia local e incentiva o consumo consciente”, diz.
A área de silvicultura em Juiz de Fora em 1985 era de 18 hectares. Em 2023, essa área aumentou para 658 hectares. No entanto, como observa, a expansão das áreas de cultivo não planejada pode levar à degradação de habitats naturais e à perda de biodiversidade. “Enfrentar essas questões é fundamental para equilibrar os benefícios econômicos com a proteção dos ecossistemas”, diz. Ele também destaca que o foco exclusivo na produção de eucalipto não é considerado o cenário ideal em práticas silviculturais – apesar de ser o que acontece em diversos locais.
Isso não é o ideal devido à capacidade de o eucalipto esgotar os nutrientes do solo, comprometendo a fertilidade a longo prazo e tornando os ecossistemas mais vulneráveis a pragas e doenças. “Economicamente, a dependência do eucalipto como espécie chave na cultura também torna os produtores suscetíveis a flutuações de mercado que podem inviabilizar a comercialização da produção”, explica. O cenário ideal da silvicultura, como explica, é da adoção de práticas sustentáveis que incluem o manejo seletivo, a rotação de culturas e o uso de espécies nativas. “Essas técnicas visam a minimizar o impacto ambiental, mantendo a produtividade das florestas a longo prazo. O manejo integrado, que considera a interação entre fauna, flora e solo, é crucial para evitar a degradação desses ecossistemas produtivos”, destaca.
Diferença entre silvicultura e reflorestamento
A compreensão da diferença entre silvicultura e reflorestamento é importante para entender quando cada método é mais adequado e quais são suas aplicabilidades. Apesar de a silvicultura fazer um reflorestamento, o objetivo é voltado para atender as demandas do mercado, enquanto o reflorestamento pode ter fins diversos. Como destaca Carlos Eduardo Rezende Werner, da Associação Monte de Gente Interessada em Cultivo Orgânico (Mogico), o reflorestamento pode ser feito de várias formas, mas, na linha da agroecologia, visa a biodiversidade. “A gente faz a regeneração da paisagem com o ser humano como interventor do local. Ele pode visar o fator econômico, mas principalmente a regeneração do solo, da paisagem e a biodiversidade, além da produção de alimento, a subsistência e a segurança alimentar”, explica. Ele já trabalhou com silvicultura, junto com seu pai, buscando esse retorno financeiro, mas hoje considera que o reflorestamento traz opções melhores.
Além disso, Carlos Eduardo destaca que o reflorestamento, de acordo com a agroecologia, também visa a uma maior diversidade de plantações. No entanto, em sua experiência, para que as iniciativas de reflorestamento ganhem protagonismo, é preciso um maior incentivo. “A gente precisa de bem mais investimento em pesquisa e na prática do reflorestamento para que se consiga fazer isso de forma eficiente. A gente ainda tem pouca experiência nisso, e a nossa região está muito degradada, até visualmente conseguimos ver isso. Precisamos juntar forças das instituições e associações, em um esforço coletivo para entender como a gente pode regenerar a nossa região também trazendo benefícios econômicos”, diz. Reforça, ainda, que seria necessário nesse sentido estar atento a práticas de trabalho digno, retorno viável e esse olhar para o meio ambiente.
Impactos ambientais e desafios
Os principais desafios que a silvicultura enfrenta, atualmente, são oriundos das mudanças climáticas, que afetam a produtividade das florestas, e ainda a pressão do desmatamento ilegal. Políticas públicas inadequadas e a falta de conscientização sobre a importância da silvicultura sustentável também são barreiras significativas. Mas, na visão de Breno, essas dificuldades podem ser superadas a partir de “oportunidades para inovação, como o uso de tecnologias de monitoramento e a implementação de práticas agroflorestais”.
Além disso, ele também explica que manejos inadequados podem levar à perda de habitat, extinção de espécies e desequilíbrios ecológicos. Mas, quando praticada de forma correta, a silvicultura pode promover a recuperação de áreas degradadas e a proteção de espécies ameaçadas. “A diversificação de espécies plantadas também aumenta a resiliência das florestas frente a pragas e doenças. É essencial implementar práticas que favoreçam a conservação da biodiversidade e a manutenção dos serviços ecossistêmicos”, diz Breno.