O final de 2014 reservou boas e más notícias para o setor de petróleo. De um lado, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) divulgou que, em novembro, o país alcançou a expressiva expansão de 13,3% (em relação ao ano anterior) na produção de barris diários de petróleo (2,358 milhões de barris/dia). Isso em um momento em que a produção mundial de petróleo recua. Segundo dados da Agência Internacional de Energia (AIE), a produção dos países que integram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) caiu 315 mil barris/dia, essencialmente devido à baixa produção na Líbia. Apesar da pequena queda, a OPEP atingiu 30 milhões de barris/dia em 2014 e vem produzindo constantemente acima do teto estabelecido por ela, evitando ceder espaço para outros produtores de fora do bloco. Com isso, o setor petrolífero mundial encerrou 2014 com a maior produção de sua história.
A má notícia, entretanto, fica por conta da diminuição nas projeções de consumo para 2015. Segundo o Relatório Mensal do Mercado de Petróleo da AIE, a demanda em 2014 deve encerrar com um acréscimo de apenas 600 mil barris/ dia. O desaquecimento da demanda, aliado ao acúmulo de estoques, fez com que a AIE reduzisse em 350 mil barris/dia a previsão de crescimento da produção em 2015 para países que não integram a OPEP. A previsão agora situa-se em torno de um crescimento de 950 mil barris.
Como efeito colateral do aumento de produção (trazido por constantes ganhos de eficiência na extração) e de redução de consumo (decorrente da desaceleração macroeconômica mundial), o ano de 2015 iniciou com o preço do petróleo negociado abaixo de US$ 50 o barril. É o pior registro desde 2008 e representa uma mudança significativa no setor, com a OPEP abandonando o papel de reguladora de preços via produção. Os importadores (encabeçados pelos Estados Unidos) levam vantagem e aproveitam o preço menor para impulsionar seu crescimento econômico. E, de acordo com o Banco Mundial, países emergentes como Brasil, África do Sul e Índia, se beneficiam da queda dos preços, que ajuda a controlar a inflação e também os déficits em conta corrente na importação do bem.
Este cenário, entretanto, afeta diretamente as empresas produtoras e também seus investimentos, incluindo aqueles em outras áreas, como extração de xisto. No Brasil, a Petrobras, já combalida por escândalos de toda ordem, sofre com as incertezas sobre o preço do produto, como avalia a AIE. A empresa, que já enfrentava problemas de caixa por subsidiar os preços dos combustíveis – numa clara intervenção estatal para controlar a inflação – enfrenta agora a queda nos preços da commodity, que pode agravar ainda mais seu desequilíbrio operacional-financeiro. A dívida da empresa, por outro lado, sofre com a alta do dólar. A despeito de toda a ingerência política, a empresa apresenta perspectivas otimistas na produção pela exploração de petróleo na região do pré-sal, cuja atividade deve atingir 13% na participação no PIB brasileiro em 2014. Os desafios de emergir da lama da corrupção e gerenciar de forma eficiente investimentos que já permitiram à empresa ser dona de 40% de todo o petróleo descoberto no mundo nesses últimos 10 anos, estão colocados. Resta-nos acompanhar o desdobramento da crise envolvendo a empresa na próxima semana, quando ela finalmente deve trazer a público suas informações econômico-financeiras referentes ao segundo semestre de 2014. O atraso pode deflagar o vencimento antecipado de parte de suas dívidas, mas um revés que a empresa terá que enfrentar. Como brasileiros, esperamos confiantes que a Petrobras emerja e retome seu posto de liderança no Brasil e no mundo.
Por Aline Barreto, Admir Betarelli, Fernanda Perobelli, Yasmin Guimarães Teixeira e Tamires Vieira Tosta
Faculdade de Economia/UFJF – CMC Jr
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