Trilha de longo curso conecta Serra do Brigadeiro ao Caparaó e incentiva restauração ecológica
Projeto busca promover lazer e saúde aliados ao incentivo da economia em áreas rurais da Zona da Mata mineira
Do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro ao Parque Nacional do Caparaó são mais de 100 quilômetros de distância. O caminho que conecta as duas Unidades de Conservação (UCs) é rodeado por belas paisagens ricas em diversidade, com destaque para uma espécie característica da região, que margeia todo o trajeto, a araucária. Mais do que isso, esse roteiro simboliza um futuro onde economia, turismo e meio ambiente andam juntos. A trilha de longo curso Brigadeiro Caparaó foi criada em 2021 e hoje desempenha um importante papel na restauração ecológica da Mata Atlântica através da formação de um corredor ecológico ao longo de sua extensão.
Duas importantes áreas remanescentes contínuas do bioma na Zona da Mata mineira, os parques Caparaó e Brigadeiro são um verdadeiro refúgio para quem gosta de praticar montanhismo. A trilha está inserida no território da Transmantiqueira, que vai até o Parque Estadual do Ibitipoca, finalizando-a em seu braço Norte. As rotas são auto-guiadas, gratuitas e de manejo voluntário. A empresa de economia criativa Caminhantes do Caparaó é responsável pela gestão da trilha.
Atualmente, a Trilha Brigadeiro Caparaó está passando pela etapa de geomapeamento, manejo e sinalização, sendo que os primeiros 25 quilômetros já foram mapeados e sinalizados no entorno e, em alguns trechos, em trilhas de uso público no Parque Estadual da Serra do Brigadeiro. As pegadas são a forma de sinalização para a trilha, através delas o caminhante se orienta sobre o trajeto. Entre os objetivos da trilha estão o crescimento econômico da Zona Rural através da oferta de produtos e serviços locais, aliar turismo à preservação do ambiente e incentivar capacidades locais e a autonomia de famílias e comunidades.
“O projeto pretende, por meio da trilha de longo curso, ligar duas unidades de conservação, mostrando sua relevância para se tornar uma ferramenta de conservação, ampliando a conectividade, a preservação de espécies e a melhoria de indicadores ecológicos. Além de ser um instrumento de planejamento e de gestão biorregional dos recursos naturais, conciliando conservação da biodiversidade com as demandas socioeconômicas locais”, apontam Amanda Guiduci e Valéria Moreira, responsáveis pela implementação da atividade e fundadoras da “Caminhantes do Caparaó”.
O projeto conta com apoio de Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Estadual de Florestas (IEF), Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) e de outras instituições, para oferecer atividades de plantio de mudas de espécies nativas da Mata Atlântica ao longo do trajeto da trilha, orientar e mobilizar proprietários rurais sobre planos de reflorestamento e outras ações que buscam envolver a comunidade para a preservação de matas e nascentes.
As criadoras da Trilha Brigadeiro Caparaó também destacam que os pequenos negócios do Alto do Caparaó, de Carangola e das cidades vizinhas se beneficiam com o turismo ambiental e que as festas tradicionais da cidade passam a ser ainda mais valorizadas, como outros pontos da cultura local. “O projeto oportuniza a geração de emprego e renda por meio do desenvolvimento do potencial turístico e esportivo, na medida em que as comunidades, que se encontram no entorno do trajeto da trilha, possam se constituir em fonte de serviços de apoio ao turista como hospedagem, alimentação e fornecimento de produtos locais.”
Rede Brasileira de Trilhas
A Trilha Brigadeiro Caparaó integra a Rede Brasileira de Trilhas (RBT) de Longo Curso, uma iniciativa do Ministério do Turismo. O Sistema Brasileiro de Trilhas de Longo Curso foi inspirado nos sistemas de trilhas de longo curso dos Estados Unidos, como uma iniciativa conjunta do Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio), de grupos de voluntários e da sociedade civil organizada. A ‘Rede Trilhas’ foi desenvolvida por amigos apaixonados por trilhas que queriam expandir a infraestrutura de recreação e lazer desses espaços. Com o passar dos anos, o plano foi tomando forma e virou uma associação sem fins lucrativos, que promove o desenvolvimento sustentável das regiões e das comunidades próximas a elas.
Com o intuito de incrementar a oferta turística nacional e promover o turismo interno, a RBT passou a contar com o apoio formal do Ministério do Turismo mediante o estabelecimento de um termo de cooperação. No Brasil, o sistema já possui cinco grandes corredores ou trilhas de longo curso: Corredor Litorâneo (Oiapoque/AP ao Chuí/RS); Caminho dos Goyazes (Goiás Velho ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros/GO); Caminhos do Peabiru (Parque Nacional do Iguaçu (PR) ao litoral paranaense); Caminhos Coloniais (litoral do Rio de Janeiro a Chapada dos Veadeiros) e Trilha do Velho Chico, da nascente à foz do Rio São Francisco (Serra da Canastra a Alagoas/Sergipe).
A Rede Brasileira de Trilhas é uma associação, entidade civil sem fins lucrativos, composta por trilhas nacionais, regionais e locais, que juntas formam seu conselho deliberativo. Cada uma das trilhas componentes tem governança, estratégia de implementação e manutenção próprias e são autônomas. Cabe à associação sistematizar e articular as trilhas nacionais. O Governo federal, em 2020, instituiu a Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade RedeTrilhas. A RedeTrilhas será responsável pelo recebimento de propostas de adesão da Trilha de Longo Curso Regional e Trilha de Longo Curso Nacional apresentadas por entidades e órgãos públicos, organizações da sociedade civil ou entes privados.