Juiz de Fora vai contar com mais 200 câmeras e com tecnologia de IA
Ideia do cercamento eletrônico é ampliar monitoramento, já realizado pelo Olho Vivo e pelas filmagens do trânsito, identificando veículos e fazendo reconhecimento facial no futuro
O cercamento eletrônico é a nova aposta do Município e das polícias para incrementar a segurança pública de Juiz de Fora em 2024. A prefeita Margarida Salomão (PT) revela já ter sido concluída licitação, com expectativa de que as mais de 200 câmeras, inclusive com tecnologia de Inteligência Artificial (IA), sejam instaladas até março, em pontos estratégicos. A estrutura inteligente, capaz de identificar veículos pelas placas – e que pode até fazer reconhecimento facial de suspeitos no futuro -, já está sendo testada em Viçosa, Muriaé e Ubá pelo comandante da 4ª Região da Polícia Militar, coronel Marco Aurélio Zancanela, responsável pelo policiamento de Juiz de Fora e mais 85 municípios da região. O próximo passo, conforme Margarida, será construir um grande centro operacional, convergindo as informações de todos os equipamentos. A proposta tecnológica vai reforçar o monitoramento na cidade, já realizado por 54 lentes do Olho Vivo e pelas filmagens do trânsito, disponibilizadas pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) há cerca de um ano, permitindo aos órgãos de segurança contar com cerca de 120 aparelhos de vigilância.
“Um dos principais projetos da Polícia Militar chama cercamento eletrônico: câmeras, colocadas nas principais saídas da cidade, nas principais rodovias e em locais onde a incidência criminal tem se mostrado alta”, explica o coronel Zancanela. Segundo ele, no caso de uma praça, por exemplo, o monitoramento é feito por uma pessoa. “Mas nas saídas da cidade mantemos tecnologia de IA. Ao passar um veículo, a câmera consegue identificar se foi roubado ou furtado.” O comandante conta que um projeto foi feito pela 4ª Região e apresentado aos poderes Executivo e Legislativo, assim como à iniciativa privada. “Algumas empresas se mostraram interessadas.” Como exemplo, ele cita um supermercado, situado em um trevo na entrada de uma cidade pequena. “A câmera ajuda a proteger o estabelecimento e, ao mesmo tempo, verifica os veículos que estão indo e voltando, para podermos monitorar.”
E os avanços vão além, reforça o coronel Zancanela. Se a polícia receber informações sobre um suspeito que iria cometer um crime e precisar saber a rota dele com seu veículo, os equipamentos com IA podem ser programados para rastreá-lo. “A IA consegue, inclusive, identificar comboio, se passaram x carros por um radar, por outro e por um terceiro. A tendência é evoluir para o reconhecimento facial. Assim, poderemos identificar pessoas que estão com mandado de prisão e apreensão.”
Segundo o comandante, a PM também investe em outras tecnologias, como aquelas ligadas a escutas telefônicas. “E outras mais, que facilitam a identificação prévia do planejamento de ações de organizações criminosas.” Atualmente, o Centro de Operações da PM (Copom) absorve o monitoramento das câmeras do Olho Vivo, e o mesmo deverá ser ampliado com os equipamentos de IA.
Equipamentos aliados da Defesa Civil
A prefeita Margarida Salomão reforça o investimento prioritário em inteligência voltado para o próximo ano. “Neste momento, estamos no processo de contratação de mais de 200 câmeras, que vamos colocar por toda cidade.” Segundo ela, parte dessa rede irá contribuir com o trabalho da Defesa Civil. “Fazemos a gestão do Olho Vivo e vamos ter essas 200 câmeras, inclusive em áreas críticas de alagamentos e de deslizamentos de encostas.” Sobre as lentes focadas no tráfego, ela aponta a importância da disponibilização das imagens à PM, há cerca de um ano. “Na medida em que nós compartilhamos essas informações, é uma contribuição importante do Município para o aumento da segurança na cidade. Outro dia recuperaram um carro roubado por conta das câmeras de trânsito.”
Um Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp), para centralizar e otimizar os atendimentos de ocorrências emergenciais, integrando Secretaria de Mobilidade Urbana, Samu e Corpo de Bombeiros está entre as metas voltadas para a prevenção da criminalidade e combate à violência pelo período de dez anos (2021/2031), aprovadas pela lei 14.242/2021. Em outubro, a secretária de Segurança Urbana e Cidadania, Letícia Paiva Delgado, anunciou que o Ciosp deve funcionar no antigo posto policial do São Mateus, que já abriga a Guarda Municipal (GM), com a Central 153. O local onde deverá funcionar a central de monitoramento das filmagens, entretanto, ainda não foi divulgado. “As novas câmeras são todas inteligentes. Isso facilita muito o processamento de imagens e a identificação que for relevante do ponto de vista da segurança”, observa a chefe do Executivo.
Margarida lembra que, embora segurança pública seja de maior responsabilidade do Governo estadual, pela gestão das polícias Civil e Militar, a PJF tem dado suporte por meio de convênios, inclusive com o Corpo de Bombeiros, viabilizando melhor infraestrutura. “A nossa parte é a chamada segurança cidadã: temos segurança de patrimônio e também participamos nas áreas públicas, como praças e feiras. Temos dado suporte a essas atividades de convívio. E como nós investimos muito nisso – a cidade está certamente muito mais viva do que há três anos, com praça cervejeira, feira noturna, Parque Halfeld iluminado, cantata de Natal -, é lógico que também aumentaram nossas frentes de atuação.” A prefeita ressalta que a Guarda Municipal está tecnologicamente equipada, com câmeras acopladas ao uniforme.
Combate aos crimes cibernéticos com IA
Diante dos avanços tecnológicos, que também permeiam o mundo do crime, a investigação de delitos cibernéticos também está de olho na IA, segundo a Polícia Civil de Minas Gerais, que conta com uma Divisão Especializada em Belo Horizonte. “Esta unidade possui um laboratório especializado com equipamentos voltados à apuração de crimes cometidos em meio virtual, inclusive aqueles que fazem uso da inteligência artificial.” Por questões estratégicas de segurança, entretanto, as ferramentas utilizadas não são divulgadas pela instituição, “para não comprometer os trabalhos de polícia judiciária”.
Apesar de a Divisão Especializada de Investigação aos Crimes Cibernéticos estar na capital mineira, a PCMG garante que todas as demais unidades policiais que atendem aos 853 municípios de Minas têm competência para realizar o registro da ocorrência e a devida investigação criminal. “Havendo necessidade, a Especializada está à disposição para prestar todo apoio necessário às delegacias do interior.” A Tribuna também questionou o 4º Departamento de Polícia Civil de Juiz de Fora sobre as perspectivas para 2024, aliadas ao uso de tecnologias, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.