Período chuvoso e calor intenso aumentam risco de casos de dengue
Minas Gerais está entre estados sob alerta para nível epidêmico da doença em 2024; Ministério da Saúde anunciou R$ 256 milhões para ações de enfrentamento de arboviroses
Com a proximidade do período chuvoso e as altas temperaturas chegam também os alertas para a proliferação do Aedes aegypti, transmissor da dengue, chikungunya e zika. Na última sexta-feira (8) o Ministério da Saúde divulgou uma previsão dos estados que devem registrar nível epidêmico de dengue em 2024 e Minas Gerais está na lista, ao lado do Espírito Santo e de outros da região Centro-Oeste do país.
Diante da possibilidade do aumento no número de casos de arboviroses para o próximo ano, o Governo federal anunciou que irá destinar R$ 256 milhões para estados e municípios para ações de fortalecimento da vigilância para o enfrentamento de arboviroses. A preocupação se soma ao ressurgimento do sorotipo 3 da dengue, que estava há 15 anos sem circulação no Brasil.
Para além da proximidade do início do verão, climatologistas vêm alertando sobre a probabilidade das ondas de calor – registradas quatro vezes em 2023 – se tornarem mais frequentes. Uma nova onda de calor está prevista, inclusive, para esta quinta-feira (14), deixando as temperaturas de 3 a 5 graus mais quentes que o padrão para a época, de acordo com informações do Climatempo. O calor intenso é propício para proliferação do Aedes aegypti, o que traz preocupação quanto a possibilidade de aumento de casos de infecções causadas pelo mosquito.
Entretanto, não basta apenas o calor para aumentar o risco de proliferação dos mosquitos, é preciso também ter chuvas, como destacado pelo médico infectologista Rodrigo Daniel de Souza, do HU-UFJF, sob gestão da Ebserh. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a última onda de calor que atuou em grande parte do país acabou atrasando a transição para a estação chuvosa, prolongando a seca até o final de novembro, quando pancadas de chuva voltaram a ocorrer em Minas Gerais.
“À medida em que as chuvas vão começar a ocorrer, os ovos que estavam ali vão começar a eclodir, e os mosquitos vão começar a viver nesses ciclos de cerca de uma semana a dez dias, começando a se multiplicar cada vez mais”, explica o infectologista.
Picos cíclicos
Além disso, os picos de casos de dengue são cíclicos. A última vez que Juiz de Fora passou por um surto da doença foi em 2016, quando registrou mais de 27 mil casos. Conforme Souza, neste ano, havia a possibilidade de novos surtos, entretanto, o aumento de casos ficou aquém do esperado.
O último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, no dia 4 de dezembro, mostrou que, em 2023, Juiz de Fora registrou 1.473 casos de dengue e um óbito, além de 25 casos de chikungunya. Já o quarto Levantamento do Índice Rápido do Aedes aegypti (LirAa) de 2023, realizado pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) em outubro, apontou que o município registrou índice de infestação de 3,2. Este número é classificado como de “médio risco” pelo Ministério da Saúde.
“Uma grande parte da população vai pegar, vai ficar imunizada e depois, nos próximos anos, esse número cai. Como não ocorreu nos últimos anos um grande número de casos concentrados, é esperado, sim, que tenhamos, – talvez não neste, mas nos próximos anos -, pelo menos um aumento de casos muito grande, caso medidas não sejam adotadas”, diz o especialista.
Prevenção
As medidas citadas pelo especialista incluem a prevenção. Durante a pandemia e as restrições de deslocamento, explica, as pessoas passaram mais tempo dentro de suas casas e tiveram um cuidado maior com a limpeza desses espaços. Entretanto, com o retorno à normalidade, a tendência é que o cuidado se reduza.
“As pessoas vão ter que ficar atentas e tirar aqueles cinco minutinhos a cada semana para dar uma vasculhada em possíveis focos de dengue no entorno. Não adianta a gente delegar isso apenas para o ente público, achar que é obrigatório o agente de endemia apontar. Isso depende de cada um”, reforça Souza.
Outra possibilidade é a vacina Qdenga, aprovada há poucos meses no Brasil. Diferente da Dengvaxia, o novo imunizante não possui como requisito confirmação de contaminação anterior de dengue para a aplicação. A vacina está disponível apenas de forma particular. Entretanto, na última quinta-feira (7), o Ministério da Saúde abriu uma consulta pública sobre a proposta de incorporação ao Sistema Único de Saúde (SUS) da vacina contra a dengue.
De acordo com a pasta, o Qdenga está em avaliação pela Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), mas devido ao cenário epidemiológico brasileiro, foi recomendado que o imunizante seja adotado em determinadas localidades para públicos prioritários. “Caso as pessoas possam se vacinar, isso pode interferir no número grande de casos que é esperado”, diz Souza.
Questionada sobre as ações para lidar com possível aumento de casos de dengue na cidade, a Secretaria de Saúde da PJF informou que os agentes de combate à endemias seguem realizando as ações de prevenção, monitoramento e bloqueio de focos. Além disso, a Prefeitura mantém a vistoria de imóveis, além de desenvolver ações de educação e sensibilização da população. Semanalmente, o Executivo divulga em seu site a rota dos agentes para a população recebê-los. Os profissionais atuam nos locais com maior concentração de focos do mosquito da dengue.
Ministério da Saúde anuncia monitoramento real
Além do recurso de R$ 256 milhões a ser destinado para estados e municípios, o Ministério da Saúde também anunciou que irá criar a Sala Nacional de Arboviroses (SNA), espaço permanente para monitoramento em tempo real dos locais com maior incidência de dengue, chikungunya e zika, com o objetivo de preparar o Brasil para uma eventual alta de casos dessas doenças nos próximos meses.
“Estamos fazendo uma projeção de que, com a possibilidade de ampliação do sorotipo três da dengue, nós tenhamos um aumento de registro de casos. Temos mais de 15 anos sem a circulação desse vírus aqui no Brasil”, explica a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente Ethel Maciel, por meio do Ministério da Saúde.
A nível nacional, até 25 de novembro, o país já havia registrado mais de 1,6 milhão de casos prováveis de dengue, conforme o órgão. O número é 22,7% maior que o identificado no mesmo período em 2022. Por outro lado, a taxa de letalidade ficou em 4,5%, menor que a identificada no ano passado, que foi de 5,2%. Apesar dos índices baixos, o Ministério da Saúde destaca que os efeitos das mudanças climáticas e do El Niño, que causam chuvas e calor acima da média, devem intensificar a propagação do Aedes, desta forma, a prevenção deve ser prioridade.
A Tribuna questionou o órgão sobre valores a serem destinados para Juiz de Fora, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
Sorotipo três
Além do calor e das chuvas, o ressurgimento do sorotipo 3 do vírus da dengue no Brasil também acende alerta de risco para nova epidemia da doença. Em maio deste ano, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou um estudo, coordenado pela Fiocruz Amazônia e pelo Instituto Oswaldo Cruz, que apresenta a caracterização genética dos vírus referentes a quatro casos da infecção registrados no país.
Conforme a instituição, a circulação de um sorotipo há tanto tempo ausente preocupa. A dengue possui quatro sorotipos, sendo que a infecção por um deles gera imunidade contra o mesmo sorotipo. Porém, caso a pessoa tenha contato com um diferente, pode se infectar novamente. As últimas epidemias do sorotipo 3 aconteceram nos anos 2000, desta forma, com a baixa imunidade da população quanto a esse sorotipo, há possibilidade de novos surtos. Além disso, segundo a Fiocruz, o risco se soma à dengue grave, que ocorre, especialmente, em pessoas que já tiveram a doença e são infectadas novamente.