Penalidade máxima
Investigações devem encontrar outros envolvidos num escândalo que mostra a fragilidade da legislação, ora dependente de uma Medida Provisória capaz de criar obstáculos à corrupção e estabelecer duras punições àqueles dispostos a rejeitar as regras do jogo
Desde dezembro de dezembro de 2018 – com base em decreto assinado pelo então presidente Michel Temer (MDB) -, os sites de apostas estão autorizados a funcionar no Brasil. A partir daí, surgiu um novo mercado no país, legalmente instalado, mas utilizado de forma indevida por apostadores. No ano passado, o presidente do Vila Nova, time de Goiás que disputa a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, foi informado que um de seus jogadores havia sido cooptado por um grupo de apostadores para cometer um pênalti na partida contra o Sport Clube Recife, na última rodada da Série B. Em suas investigações, ele chegou ao líder do grupo, responsável por entrar em contato com os jogadores.
Ao que tudo indica, trata-se apenas da ponta do iceberg, já que pelo menos 35 atletas estão no pacote de suspeitos e indiciados por manipulação não só de jogos, mas também por outros tipos de apostas. Em pauta estão não apenas o resultado das partidas, mas também quantidades de gols marcados, número de escanteios, cartões, finalizações e outras estatísticas, podendo ser direcionadas também ao comportamento de um determinado jogador. Responsável pelas investigações, o Ministério Público de Goiás já definiu 15 réus nas duas fases da operação.O grave desse enredo é a dimensão desse balcão de apostas. Com a entrada da Polícia Federal no caso, a pedido do Ministério da Justiça e da Confederação Brasileira de Futebol, as investigações ganharão um novo espectro, sobretudo por conta dos possíveis danos.
A questão a saber é o papel de cada um nesse processo. Os apostadores agem dentro dos limites estabelecidos pelos sites, que, por sua vez, estão autorizados a atuar desde novembro de 2018. Os responsáveis pela manipulação estão em outro patamar, já que, ao cooptarem atletas, viciaram as apostas que, em tese, deveriam ser feitas em torno do andamento normal de uma partida. Mais do que nunca, se faz mister o presidente Lula assinar a Medida Provisória que regulamentaq o funcionamento das apostas de cota fixa baseado em resultados de temáticas esportivas. É o caminho adequado para evitar a corrupção que ora se explicita nas investigações.
Os jogadores, alguns deles muito bem remunerados, adotaram a Lei do Gérson, querendo tirar vantagem mesmo diante do risco de perderem tudo. E não há outro caminho a não ser punir com o rigor da lei os responsáveis. À CBF e aos tribunais esportivos cabe dizer se devem ou não continuar em atividades. Pelo menos cinco suspeitos continuam atuando normalmente, a despeito de já terem sido citados nas investigações.
Puxar o fio da meada é o passo a ser adotado, pois jogar contra as regras é ilegal. Ademais, a punição aos envolvidos tem também o viés pedagógico, a fim de inibir quaisquer outras manipulações em torno de atividades esportivas, sobretudo o futebol, que envolve milhões de torcedores pelo país afora. Os autores não só praticaram ações em campo para beneficiar a si próprios e a terceiros, como também, em determinados casos – como o que deu início às apurações – comprometerem resultado de uma partida decisiva.