População relata dificuldades para conseguir doses contra a meningite
Vacinas já não estão disponíveis em algumas UBSs de Juiz de Fora; usuários se queixam de falta de informações sobre locais onde ainda há imunizantes disponíveis
No fim de março, a vacinação contra meningite C foi ampliada para contemplar toda a população com mais de 16 anos e que nunca foi imunizada contra a doença. À época, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) afirmou que a ação tinha por objetivo a maior aderência da população à vacinação contra a doença, cujo prazo se estende até 30 de abril. Ao longo da última semana, entretanto, a Tribuna recebeu relatos de leitores que, a duas semanas do fim do prazo da campanha, já não estariam conseguindo ter acesso às doses em diferentes postos de vacinação em Juiz de Fora.
Na terça-feira (25), a reportagem esteve em algumas das unidades citadas pelos usuários e constatou que, de fato, a vacina já não está disponível nestes postos. Usuários que procuram estes locais alegaram não terem sido informados se ainda conseguirão receber a vacina contra a doença. De acordo com relatos recebidos pelo jornal, as UBSs Centro Sul, Granjas Bethânia, Santa Efigênia e Vila Ideal já não teriam os imunizantes.
Ainda na terça, as UBSs Granjas Bethânia e Vila Ideal não estavam distribuindo as doses. Na primeira, as vacinas contra a gripe também não estavam disponíveis. A ativista da causa animal Míriam Neder relata que já na segunda-feira (17) não conseguiu ter acesso à vacina contra a meningite. Ela afirmou que tentou em ambas as unidades, quem estão no seu trajeto diário, não conseguiu e que apenas a informaram de que ela poderia tentar novamente nos próximos dias, apesar do comunicado oficial afirmar que todas as UBSs teriam as doses durante toda a semana. “Por isso, ainda não consegui me vacinar”, explica. Da mesma forma, o aposentado Renato Araújo, de 77 anos, esteve no local procurando as doses de gripe, mas não conseguiu receber e não foi informado se as doses estariam disponíveis novamente antes do prazo final.
A advogada Tatiane Cardoso, de 30 anos, tentou se vacinar na última terça e no dia 13 de abril na UBS Centro-Sul. “Fui informada que a campanha estava ativa, porém não estavam recebendo a vacina”, relata. De acordo com ela, no local a informaram de que “não adiantava voltar em outro dia porque a vacina estava em falta no local”. A Tribuna conferiu que, na segunda-feira (24), o local estava novamente sem doses, mas na terça-feira (25) recebeu reposição dos imunizantes.
A jornalista Mayara Rodrigues, 24 anos, também não conseguiu se vacinar. Ela conta que ao buscar o posto de vacinação, no começo de abril, enfrentou outra dificuldade: a falta da carteirinha de vacinação infantil, que nem ela e nem a irmã têm mais. “Fui na UBS do Bairro Santa Rita de Cássia. Quando cheguei lá, me informaram que eu só poderia tomar se levasse a carteirinha de vacinação infantil”, conta.
Município recebeu mais de 34 mil doses
Antes de ser ampliada para toda a população, a vacinação contra a meningite incluiu como público-alvo os jovens com idades entre 16 e 30 anos, os trabalhadores da educação superior e de escolas técnicas acima dos 16 anos de idade, os profissionais de saúde com 16 anos de idade ou mais e os estudantes universitários, sem limite de idade. À época, de acordo com a PJF, este público somava 125 mil juiz-foranos.
Apesar do extenso público-alvo, a cidade recebeu 34.140 mil doses para toda a campanha, de acordo com informações da Superintendência Regional de Saúde (SRS-JF). Atualmente, de acordo com a Secretaria de Saúde, foram aplicadas 25 mil doses para a população em geral.
Mas, ainda conforme a pasta municipal, todo o estoque deste tipo de imunizante, centralizado na Central de Frios da Vigilância Epidemiológica, foi distribuído para as Unidades Básicas de Saúde no início desta semana. “A vacinação contra meningite de forma ampliada é uma estratégia proposta enquanto houver disponibilidade de vacinas com vencimento em 30 abril, quando também se encerra a campanha que já foi prorrogada por duas vezes”, explicou em nota.
Sobre o quantitativo enviado, a SRS informou que o município teve baixa adesão à campanha inicialmente e que “durante o período estipulado para ação de ampliação o município não ficou em nenhum momento com ausência do imunológico”.
Quanto a reclamação da jornalista Mayara, a PJF informou que a recomendação geral é de que, para o usuário que não possuir o cartão de vacinas e/ou não tiver como resgatar seu histórico vacinal através dos sistemas de informação, a UBS considere a pessoa como não-vacinada e, assim, refaça as vacinas indicadas para a faixa etária em questão.
UBS São Pedro perde cerca de 2 mil vacinas

Em meio a dificuldades para acesso às vacinas, a Tribuna apurou que cerca de 2 mil doses de vacinas foram perdidas há duas semanas na UBS do Bairro São Pedro, Cidade Alta. De acordo com o relato de um profissional de saúde que trabalha no local, entre os imunizantes havia os contra a Covid-19, vacinas de rotina e também das campanhas que estão em vigor, entre elas a da meningite.
Segundo o profissional, o dano teria sido causado pela quebra de uma câmara fria, que armazenava as vacinas. “O alarme que indica problema no aparelho também estava danificado, e o problema só foi notado quando a temperatura já beirava mais de 30 graus, sendo que o calor máximo que pode ser suportado para a conservação dos imunizantes é de 8 graus”, contou.
Diante do ocorrido, ele afirmou que o protocolo de observação das vacinas foi seguido, a fim de que fosse observado se elas poderiam ser reaproveitadas. Após uma semana, entretanto, foi confirmada a perda total das milhares de doses.
Procurada pela Tribuna, a PJF confirmou que a câmara fria da unidade apresentou oscilação em sua temperatura interna e que nenhum desses imunizantes foi aplicado. “Como procedimento padrão nesses casos, que podem ser oriundos de furto de cabos ou por queda no abastecimento de energia elétrica, a vigilância epidemiológica do município recolhe as vacinas para uma amostra seja enviada para Belo Horizonte para avaliação se há alguma possível perda na eficácia dos imunizantes”, informou em nota.