Desfile do Grupo Especial reúne milhares de pessoas na Passarela do Samba
Campeã do carnaval de Juiz de Fora será anunciada nesta quarta-feira (22)

Emoção, alegria e, claro, muito samba marcaram o desfile do Grupo Especial das escolas de Juiz de Fora. O evento, que ocorreu entre a noite desta terça-feira (21) e a madrugada desta quarta (22), reuniu cerca de seis mil pessoas, de acordo com estimativa da Liga das Escolas de Samba (Liesjuf). Os grupos retornaram à Passarela do Samba após cinco anos sem realização de desfiles. A campeã do carnaval de Juiz de Fora será anunciada nesta quarta-feira (22) após a apuração, que acontece no Parque Halfeld a partir das 15h.
A noite na Passarela do Samba, montada na Avenida Brasil, entre as pontes das ruas Marechal Setembrino de Carvalho e Benjamin Constant, foi aberta pela passagem da Corte Real Momesca do Carnaval 2023, composta pelo Rei Momo, John Mello, pela Rainha, Michelly Santos, e pelas princesas Vitória Kemilly e Scarlety Fenix. Antes de tomar a avenida, o Rei Momo celebrou a volta dos desfiles em Juiz de Fora e comentou sobre a honra de representar o Carnaval no município.
“Nós sambamos muito, não só eu como Rei, mas as meninas como Princesas e a minha Rainha. Para nós, está sendo uma superação subir cada degrauzinho e chegar onde chegamos”, diz. “A volta do desfile está sendo algo magnífico porque ficou muito tempo parado, muito tempo com essa pandemia. Agora a volta trouxe alegria novamente, muita criança na rua, brincando, dançando e, graças a Deus, o samba novamente em Juiz de Fora.”
Homenageando Armando Fernandes Aguiar, o Mamão, a Rivais da Primavera, escola do Bairro Benfica, Zona Norte de Juiz de Fora, deu início ao desfile do Grupo Especial com o samba-enredo “Mamão, o enredo do meu samba”.
“A escolha do Mamão é porque ele trabalhou em Benfica na antiga FEEA [Fábrica de Estojos e Espoletas de Artilharia], que hoje é a Imbel [Indústria de Material Bélico do Brasil], ele casou em Benfica, ele tem uma história com o bairro. Então, nós resolvemos homenageá-lo”, explica o presidente da escola de samba, Paulo Marcelo da Silva.
O homenageado, Mamão, participou do desfile da Rivais da Primavera e enalteceu o momento lembrando o que dizia o compositor e sambista carioca Nelson Cavaquinho. “Se alguém quiser fazer por mim, que faça agora, porque depois que morrer, não tem mais jeito”, brinca.
“É muito importante para mim ser homenageado porque eu tenho uma ligação muito forte com Benfica”, conta.

Em seguida, a última campeã do Grupo B do carnaval de Juiz de Fora, em 2017, tomou a Passarela do Samba: a Unidos das Vilas do Retiro trouxe o samba-enredo “Maravilhas e mistérios do mar”, falando sobre as profundezas e ensinando como se rema em alto mar.
“A Unidos das Vilas do Retiro não vem pensando se vai cair; ela vem para disputar o Carnaval e está com a comunidade afinada com o samba, com a alegoria”, comentou o diretor de Harmonia da escola, Jesus Alves, que ainda ressaltou o esforço da administração municipal para retomar os desfiles em Juiz de Fora.
A Mocidade Alegre, terceira a desfilar, saudou quem veio antes e possibilitou a existência da escola em “Negra Travessia – A Mocidade canta a história que não foi contada”.
Já a Turunas do Riachuelo entrou na avenida com o samba-enredo “O menino mago, da gira dos erês, que brincou nos bondes, vestiu de palhaço e se encantou com o carnaval”, que homenageia o carnavalesco Waltencir, conhecido como Cici.
Exaltando a flora e a fauna da maior mata brasileira, a Feliz Lembrança apresentou o samba-enredo “Amazônia verde que te quero sempre”.
Fechando a noite de festa, a Real Grandeza, campeã do carnaval 2017 pelo grupo A, apostou no imaginário infantil para trazer “Eu quero voltar a ser criança… e ser feliz outra vez”.
Encontro entre gerações
Antes dos desfiles do Grupo Especial, a Passarela do Samba recebeu as Escolas Mirins, com participações da Mocidade Alegre do Amanhã, seguida pela Herdeiros da Vila e, por último, a Império da Torre.
Isabela, de 9 anos, desfilou pela Herdeiros da Vila e continuou com sua família na avenida para prestigiar as escolas do Grupo Especial. De acordo com sua mãe, Flávia Soares, o incentivo a participar do Carnaval vem desde quando ela ainda era bebê, com 1 ano de idade.
“O samba está na nossa raiz, no nosso sangue, então incentiva desde criança a ter esse prazer de vir para a avenida dançar e curtir a infância”, diz Flávia, que também estava acompanhada de três sobrinhos que haviam desfilado mais cedo.
Provando ser um evento para todas as idades, o desfile das escolas de samba de Juiz de Fora em 2023 também levou idosos à passarela pela primeira vez. É o caso de Anésia da Silva, de 82 anos, que desfilou pela Mocidade Alegre. A relação dela com o Carnaval vem pelo bloco “Recordar é Viver”, do Centro de Convivência do Idoso (CCI) Dona Itália Franco. “Aqui é o primeiro ano que o Batuque Afro-Brasileiro de Nelson Silva foi convidado para fazer participação nessa escola e aqui estamos”, conta. “Se eu soubesse que era tão bom, tinha começado mais cedo”, brinca.
Alegria na avenida e na plateia
Não só as arquibancadas foram tomadas pelos juiz-foranos para curtir os desfiles, mas muitas pessoas também deram um jeito de acompanhar as escolas de samba nos arredores da passarela. Guilherme Moratori, de 27 anos, foi ao local para dar uma espiada e acabou ficando para assistir o restante do evento. “É a primeira vez que estou assistindo, até porque sempre viajo nessa época, mas dessa vez fiquei”, conta. Ainda sem ter uma escola de samba favorita, Guilherme elogiou o trabalho dos grupos de Juiz de Fora. “Todas que estão passando estão sendo uma mais bonita que a outra.”

A alegria da passarela estava estampada no rosto de quem desfilava, mas também de muitos que trabalhavam na organização do espaço. Funcionária do Demlurb, Rosângela Silva Américo se divertia enquanto limpava a avenida entre a passagem de uma escola de samba e outra.” Depois de ficar essa temporada sem ter Carnaval, sem essa alegria do povo, a gente estava precisando muito disso para poder animar e dar uma força.”
Campeãs serão divulgadas nesta quarta-feira
As escolas de samba vencedoras do carnaval de Juiz de Fora serão anunciadas após a apuração no Parque Halfeld, a partir das 15h desta quarta-feira (22), com representantes da Funalfa e da Liesjuf. O Desfile das Campeãs, entretanto, precisou ser cancelado, de acordo com o presidente da liga, Diomario de Deus.
“Esse ano, tivemos que cancelar o Desfile das Campeãs em virtude da questão financeira, de deixar a passarela montada. Então, nós optamos por não ter o desfile, infelizmente, porque a estrutura tem que ser desmontada para poder beneficiar o trânsito e os moradores do local”, explica.
No último dia do Carnaval e dos desfiles, o presidente da liga celebrou o prestígio do público, na passarela e fora dela, e fez um balanço do evento, que ficou cinco anos sem ser realizado no município. “Voltamos com garra”, diz. “Está sendo um belo carnaval e a retomada está sendo o maior sucesso.”