Quanto mais velha fico, mais me aparecem hematomas, esfolados e arranhões. Já desde pequena meu corpo parecia ter um estranho magnetismo com quinas, cantos e pontas, levando a encontrões nem sempre doloridos, mas que frequentemente me obrigam a desviar o curso.
Com o tempo, reparei que todas as vezes em que estive com a pele intacta estava, ao contrário, em cacos e destroços por dentro. Ou derretendo-me pouco a pouco, escorrendo, evaporando. Murchando.
De-
sa-
pa-
re-
cen-
do.
Hoje sei que vivo me chocando contra todo tipo de superfície porque não caibo dentro de mim. Extravaso, derramo, transbordo. Às vezes, explodo. Mas não hei de me diminuir (nunca mais) para caber em lugar algum.*
*exceto pelo ocasional mindinho na esquina do guarda-roupas.