Moradores vivem apreensivos após casas serem interditadas no Santa Luzia
Dezoito imóveis foram interditados pela Defesa Civil na semana passada; PJF alega acúmulo de entulhos
Na última semana, a Defesa Civil de Juiz de Fora interditou 15 imóveis na Rua José Orozimbo de Oliveira, no Bairro Santa Luzia, Zona Sul da cidade, além de outros três na Rua José Nicodemos da Silveira, no mesmo bairro. Conforme a pasta, a decisão, tomada em caráter preventivo, deve-se ao excesso de entulhos despejados irregularmente na encosta, o que pode comprometer a segurança do local devido aos riscos de deslizamentos. Ainda conforme o órgão, nas últimas vistorias, foi constatado aumento da quantidade de detritos acumulados de forma irregular, o que teria propiciado a evolução de trincas e deformações. Por outro lado, os moradores das Rua José Orozimbo de Oliveira alegam que o problema, apesar de ter sido agravado pelo despejo irregular de entulhos, já preocupa que reside no local há, pelo menos, quatro anos, quando surgiram as primeiras trincas na via, o que, na avaliação deles, demorou a ser monitorado pelo Poder Público.
A Tribuna esteve no local nesta segunda-feira (20) e conversou com moradores que estão sendo afetados pela situação. A apreensão em conseguir um novo local para se mudar tem preocupado aqueles que pretendem seguir as orientações da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) de não permanecer no local. Há, ainda, as dificuldades impostas pela interdição de passagem na Rua José Orozimbo de Oliveira, onde parte da via já desabou, com o acesso bloqueado para o tráfego de veículos como carros e caminhões.
Moradora da rua há cerca de 35 anos, Nilceia de Fátima Pareça conta que o imóvel em que reside não teve notificação de risco pela Defesa Civil. Contudo, a situação da via, na avaliação dela, tem prejudicado muito os moradores, mesmo aqueles que não tiveram interditadas suas residências. “Como a rua está interditada, não tem como passar de carro. Se fizermos uma compra, não tem como entregá-la. Se precisar vir uma ambulância socorrer algum morador, também é complicado, porque não tem como acessar as casas que ficam no final da rua. Só passa moto e bicicleta ou pessoa a pé”, conta.
Para o fotógrafo Júlio Vasques, cuja família tem imóvel na via, a situação no local já era uma “tragédia anunciada” desde quando as primeiras trincas surgiram na rua. Segundo ele, antes do desabamento do muro de contenção, no ano passado, os moradores notificaram a Prefeitura sobre os riscos de deslizamentos de terra e desabamento e solicitaram que veículos pesados, como o caminhão do lixo, não passassem pelo local. Entretanto, para ele, a solução para o problema tem demorado a ser viabilizada pelo Poder Público, e a situação da via foi piorando devido ao despejo irregular de entulhos por parte de alguns moradores da região.
Moradores buscam alternativas
O aposentando Expedito Sérgio Modesto Campos, 60, mora há 35 anos em uma casa localizada na Rua José Orozimbo, em uma residência que foi interditada pela Prefeitura. Conforme contou à Tribuna, está ciente dos riscos, mas não pretende buscar um novo local para se mudar. “Fico preocupado em períodos de muita chuva. Quando começar a chover, pretendo ficar na casa de algum parente ou vizinho, mas depois volto para cá. Construí essa casa tem dez anos e não pretendo sair daqui”, diz.
A faxineira Juliele de Souza Santos, 25, mora há um ano, com mais três pessoas, em uma casa alugada na Rua José Orozimbo. O imóvel, localizado bem próximo à encosta da via, também foi notificado pela Defesa Civil. Ciente dos riscos, a família tem se mobilizado para achar outro local e se mudar. “Estamos chateados porque não recebemos o auxílio-moradia e não estamos conseguindo achar outra casa no bairro. Estamos muito apreensivos com os riscos, mas não estamos conseguindo uma solução que nos atenda.”
Auxílio
Conforme a PJF, todas as famílias que tiveram imóveis interditados estão sendo atendidas pela equipe de Serviço Social da Defesa Civil, e as que estiverem dentro dos critérios, serão encaminhadas para receber o auxílio-moradia. Em nota encaminhada à Tribuna, a Defesa Civil afirmou que notificou os moradores de imóveis interditados preventivamente sobre o risco da permanência no local e que todos assinaram a notificação que orientava a desocupação dos imóveis e a busca por um local seguro. “A assistente social da Defesa Civil está realizando atendimento com as famílias que estavam nas casas interditadas. Aquelas que tiverem direito ao auxílio-moradia serão encaminhadas para o benefício”, menciona o texto.
O auxílio-moradia, no valor de R$ 600, é destinado para pessoas com renda familiar de até três salários mínimos, que estejam inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais, residam no município e que não possuam imóvel próprio. Uma das modalidades do benefício é o “Auxílio-Moradia – Emergencial”, que é direcionado para famílias que precisaram desocupar imóveis próprios de forma imediata após análise técnica da Defesa Civil.
Projeto de obra será entregue ainda este mês
Em janeiro do ano passado, uma encosta cedeu na Rua José Orozimbo, resultando no desabamento de um muro de contenção. Desde então, o local tem sido monitorado pela equipe da Defesa Civil. Segundo a pasta, algumas medidas foram tomadas com o intuito de amenizar o risco, como a instalação de lona vinílica e leira para desviar as águas pluviais da encosta. Além disso, a PJF informou que vistorias preventivas são feitas pelo menos uma vez por mês. Os moradores confirmaram as visitas da Defesa Civil, mas querem uma solução definitiva para o problema, que piorou com o desabamento.
Conforme a PJF, parte do recurso oriundo do acordo entre o Estado e a Vale, referente à reparação dos danos causados pela mineradora na região Metropolitana de Belo Horizonte, será destinada para os trabalhos de reparo na Rua José Orozimbo de Oliveira. A Defesa Civil informou que o projeto executivo será entregue até o fim do mês de setembro à PJF, e o próximo passo será a preparação do processo licitatório para contratação de empresa responsável pela execução das obras. Conforme destacou a Administração municipal, a verba para as obras de contenção já está no caixa da Prefeitura.