Muito se tem dito a respeito do baixo nível de desemprego na economia brasileira. De acordo com o IBGE, a taxa média de desocupação no Brasil fechou o ano de 2013 em 5,4%, o menor índice desde 2003. Os últimos dados revelam novas quedas, que nos aproximam da marca do “pleno emprego”. O desemprego é tão baixo que o Governo chegou a declarar que o Brasil não poderia estar vivendo um quadro de crise com tantas pessoas empregadas. Afinal, como a economia explica isso?
A política econômica é dividida em dois grupos: política monetária e política fiscal. O Governo faz uso de ambas para atingir seus objetivos principais: geração de emprego, crescimento da produção, controle da inflação, distribuição de renda, equilíbrio nas contas públicas. Não raro, a decisão econômica a ser tomada passa por uma escolha conflitante. Um exemplo é justamente a relação entre emprego e inflação. Menos pessoas empregadas significam menos renda e menos consumo; e menos consumo pode levar a menos inflação. Atualmente, o emprego é recorde, mas a inflação foge ao controle. O IPCA fechou 2013 em 5,91% e deve fechar 2014 acima do teto da meta fixada (6,5%).
Para controlar a perda do poder aquisitivo da moeda, o Brasil lidera o ranking dos países com a maior taxa de juros real do mundo (11% ao ano em termos nominais). Mais juros significam menos crédito, menos projetos e menos crescimento. O PIB cresceu 2,3% em 2013, resultado inferior ao apresentado pelo Chile (4,2%), Uruguai (4,2%) e Colômbia (4,3%). Em 2014, já amarga duas quedas trimestrais sucessivas, o que coloca o país em situação de “recessão técnica”. Apesar disso, segundo o Ipeadata, o Brasil vem diminuindo sua concentração de renda ao longo dos últimos anos. O coeficiente de Gini, índice que vai de zero (menos desigualdade) a um (mais desigualdade), vem apresentando quedas desde 2001. Temos, portanto, de um lado da arena, mais emprego e menos desigualdade. Do outro, mais inflação, mais juros e menos crescimento econômico. Qual lado da história defender? Por trás dos dois quadros, as ideias de dois grandes economistas do século XX: John Maynard Keynes e Milton Friedman. Para Keynes, diante de uma economia em crise, é dever do Estado contratar pessoas para fazer buracos e outras para tapá-los. Já Friedman, em uma viagem à China, indagou à delegação, que lhe apresentava um novo projeto de construção de um canal, porque os trabalhadores usavam pás para escavar ao invés de tratores e escavadeiras. A resposta foi que máquinas pesadas fariam o trabalho com mais eficiência, mas não gerariam empregos. Friedman então respondeu que havia pensado se tratar da construção de um canal e não de um programa de geração de empregos. Tratando-se desse último, o melhor seria então dar aos trabalhadores colheres para escavar ao invés de pás.
Em síntese, é inegável que baixas taxas de desemprego são desejáveis por todas as economias; mas, por si só, são insuficientes para gerar produção de riquezas e desenvolvimento econômico. No longo prazo, são os canais, e outros projetos eficientes na visão de Friedman, que geram produção, crescimento e renda a ser distribuída de maneira justa. Keynes, por sua vez, responderia que, no longo prazo, ‘todos estaremos mortos’. Façam suas escolhas.
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