Clinton Davisson resgata lendas folclóricas em terror infanto-juvenil
O escritor de 49 anos lançou financiamento coletivo para viabilizar a publicação do título “Baluartes – O mundo sutil”
Autor de “Hegemonia – O herdeiro de Basten” (Arte&cultura, 287 páginas), o jornalista, roteirista e escritor Clinton Davisson Fialho, 49 anos, reunirá o estudante português Luiz Vaz Monteiro, o príncipe africano Akkim Shinedu e a índia goytacaz Jaciara para investigar as lendas folclóricas do Brasil Colônia no próximo título, “Baluartes – O mundo sutil” (Escaravelho). O autor lançou um financiamento coletivo para viabilizar as versões impressa e digital da obra infanto-juvenil – contribuições de R$ 10 a R$ 500 ou mais. Em fase de revisão final, o livro, como relata Clinton à Tribuna, é o primeiro de uma série fruto de uma pesquisa de 12 anos a respeito das histórias de terror do folclore nacional. O título, em vias de ser publicado, já tem um contrato com a produtora Escaravelho, segundo o autor, para ser adaptado para o streaming.
LEIA MAIS: “Estamos vivendo uma distopia que estava prevista há tempos”, afirma Clinton Davisson
O escritor não queria conduzir uma pesquisa para ser publicada enquanto tal, ou seja, “Baluartes – O mundo sutil” não é um manual sobre o folclore brasileiro. “Alguns escritores defendem que o importante é a história que será escrita, não a ortografia. Eu sempre pondero que, como José Saramago, tenho que saber a regra para quebrá-la. Não dá para inventar a pólvora. Nunca tive a pretensão de fazer um Saci-Pererê fiel ao original, mas, sim, conhecer os diversos sacis-pererês que existem para tirar o meu. Não quero fazer uma coisa purista”, explica. Clinton discorda, por exemplo, das críticas à presença do Boto Cor-de-Rosa no Rio de Janeiro retratada pela série “Cidade Invisível” (2021), da Netflix. “Conheço muitos amazonenses que vieram para o Rio. Por que o boto não pode ser um destes?”
Desde menino, Clinton é fascinado por histórias de terror relacionadas a lendas, nacionais ou não. As memórias de infância, mais a especialização em afrocartografias pela Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos (FeMass), de Macaé, onde ainda mora, desembocaram na narrativa infanto-juvenil. “O que está por trás da narrativa é o desenho animado ‘Scooby-Doo'”, brinca. “Eram basicamente jovens caçadores de fantasma junto a um cachorro. Me influenciou muito. Tanto Scooby-Doo quanto ‘Goober e os caçadores de fantasma’, que também tinha jovens caçadores de fantasma e um cachorro. Era um padrão à época desenvolver desenhos com narrativas muito semelhantes com apenas personagens diferentes. Tanto ‘Scooby-Doo’ quanto ‘Goober’ tinham crossovers com personagens de outras animações, o que me deixava fascinado.”
Justamente os crossovers das animações do estúdio Hanna-Barbera levaram Clinton a inserir em “Baluartes – O mundo sutil” coadjuvantes contemporâneos do Brasil Colônia, sobretudo aqueles ligados à Inconfidência Mineira, como Tiradentes, Claudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, além de Aleijadinho. “Cismei que a história deveria ser de época, não sei por quê. Há uma parte em que os protagonistas se encontram na Europa, especificamente no Norte da Itália, e, em uma história só, eu consegui enfiar a torto e a direito Mozart, Mary Wollstonecraft e Napoleão Bonaparte.” Entretanto, há ainda a chance de novos personagens históricos ganharem uma figuração no título de Clinton, já que ainda faltam algumas “amarrações”. “Digamos que o livro esteja 99% terminado.”