O ano se inicia com a esperança de avanços nos campos da saúde e da economia e com um olhar otimista de que os problemas sejam resolvidos da forma mais rápida possível. Quanto ao mundo da economia, 2020 se encerra marcado por uma desaceleração da atividade econômica, a qual deve se manter pouco aquecida durante os primeiros bimestres de 2021. A coluna da CMC desta semana busca analisar o processo de desaquecimento da economia no final do ano passado, bem como analisar comparativamente resultados do PIB.
O bimestre formado pelos meses de outubro e novembro de 2020 foi marcado pela freada que a atividade econômica sofreu. Assim como no campo de estudo da mecânica, onde desacelerar significa que o automóvel possui velocidades positivas, mas cada vez menores, foi justamente isso que ocorreu: a indústria cresceu, em média, 3,1% no bimestre encerrado em setembro, mas seu crescimento foi de 1,2% nos meses de outubro e novembro. Da mesma forma, os setores de varejo e de serviços desaceleraram, com crescimentos de 0,3% e 2,2%, respectivamente. Todos esses valores são de crescimento inferior ao crescimento observado no bimestre agosto-setembro, portanto, a economia continuou sua retomada, mas de forma mais lenta.
As causas dessa acomodação, termo utilizado pelo Boletim Macro do IBRE-FGV, são: a inflação do período, que alcançou patamares consideráveis, principalmente para alimentos básicos das famílias; a redução do valor das parcelas do auxílio emergencial, a qual diminuiu a renda de curto prazo de muitos brasileiros; além do próprio retorno das medidas de combate ao coronavírus. Dessa forma, as condições macroeconômicas e sociais foram ruins para as empresas, inibindo parcialmente a atividade econômica.
Quanto à queda do PIB em 2020, o IBRE-FGV projeta uma redução igual a 4,5%. Para o leitor ter ideia da dimensão dessa contração, vale a pena uma comparação histórica do crescimento do produto interno desde 1900: segundo medidas das contas nacionais do IBGE e projeções, o Brasil nunca apresentou um resultado tão ruim em 120 anos, mesmo passando por choques externos como as duas guerras mundiais, a quebra da bolsa de 1929, diversas crises políticas internas, os golpes de Estado, as alternâncias entre partidos rivais e até mesmo a gripe espanhola de 1918. Dessa forma, toda a sociedade está diante de um momento singular na história brasileira.
Por fim, é essencial que o processo de vacinação da população se dê de forma eficiente para que a economia volte a ter seu aquecimento. O retorno à normalidade está intimamente ligado à imunização da população. O pior, provavelmente, já passou e o momento é de se preparar para esta década, evitando mais uma década perdida.
Por André Sobrinho e Bruno Gomes. E-mail para [email protected]