Autoescolas protestam contra proibição de funcionamento em JF
Em busca de diálogo com a prefeita Margarida Salomão (PT), o setor ensaia carreata nesta sexta-feira
A classificação de autoescolas na faixa laranja do programa Juiz de Fora pela Vida desagradou o setor. A saída do Minas Consciente e a instituição de regramento próprio do Município para as atividades econômicas durante a pandemia na última segunda-feira (25) em nada alterou a restrição de funcionamento até então imposta aos centros de formação de condutores (CFCs). Como Juiz de Fora está classificada na faixa vermelha, as autoescolas permanecerão fechadas. De acordo com lideranças do setor, o protocolo do Departamento de Trânsito do Estado de Minas Gerais (Detran/MG), seguido pelas autoescolas, seria mais rígido do que aqueles desenhados para atividades econômicas classificadas na faixa vermelha.
Segundo o proprietário da Autoescola Conquista, Everton Ricardo dos Santos Fernandes, as orientações de higienização estabelecidas pelo órgão estendem-se desde o atendimento aos alunos na recepção até às aulas teóricas e práticas. “Uma sala que antes, por exemplo, recebia 35 alunos, agora recebe apenas 12. As aulas práticas, que poderiam ter dois examinadores além do próprio aluno, passaram a ter apenas um. Há setores liberados a atuar que não têm um protocolo nem 40% tão exigente quanto o do Detran/MG. O que temos observado é que os setores que tiveram acesso à Prefeitura puderam apresentar propostas ao Executivo. Mas nós não estamos conseguindo acesso. (…) Não queremos gerar um tumulto desnecessário. Queremos apresentar o protocolo do Detran, que é infinitamente mais criterioso.”
O questionamento à PJF é endossado pela proprietária do Centro de Formação de Condutores Direcar, Priscila Gomes de Oliveira, que, como relata, já teria solicitado ao gabinete de Margarida um encontro para apresentar o protocolo já seguido pelo setor. “Na última semana, enviei um e-mail ao gabinete da prefeita para agendar uma reunião. Hoje (quarta-feira), estivemos lá, eu e outro representante, para entregar um ofício solicitando o agendamento. Não só nós estamos sendo prejudicados com isso, mas os alunos, que correm o risco de ter de recomeçar o curso também. Não oferecemos riscos nem aglomeração para a população.”
À Tribuna, a PJF afirmou, em nota, que mantém contato com representantes do setor. Questionado sobre quais critérios adotados para a classificação das atividades econômicas conforme as faixas do Juiz de Fora pela Vida, o Executivo explicou que o programa segue orientações dos conselhos nacionais de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e de Secretários de Saúde (Conass). “Caberá à Vigilância em Saúde do Município publicar, semanalmente, relatórios indicando o enquadramento em que se encontra Juiz de Fora.”
‘Está ficando insustentável’
A manutenção das restrições de funcionamento às autoescolas ainda leva os proprietários a temer o encerramento das atividades. Além do período de portas fechadas em 2020, os CFCs de Juiz de Fora, conforme Priscila, têm a concorrência daqueles de cidades vizinhas, como Lima Duarte e Matias Barbosa. De acordo com a empresária, as autoescolas de outros municípios têm não somente atraído os examinadores, mas, também, os alunos. “Os alunos nos pedem devolução do pacote já pago. E, como estamos fechados, temos ainda que devolver o pacote para ser gasto em outro município. Nem Juiz de Fora está arrecadando.”
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Conforme Everton, o quadro financeiro das autoescolas está ficando insustentável. “No ano passado, ficamos quatro meses sem atuar. E, neste ano, já estamos há duas semanas. O setor todo está muito abalado. Não há mais recursos para manter os custos básicos nos CFCs. Os candidatos não sabem quando vão poder concluir o processo. Outro ponto preocupante é que não temos previsão alguma. A autoescola é uma empresa de pequeno porte, apesar do alto número de pessoas atuando.”
Os instrutores, como Cristiano Carlos Dias, também manifestam preocupação com os rumos do setor, uma vez que boa parte da categoria é agregada, ou seja, recebe pelas aulas realizadas. “Às vezes, um motociclista só tem o vínculo com o nome da autoescola, pois a moto é dele. Então, neste caso, ele ganha apenas por comissão. Os agregados motociclistas normalmente levam 70%, e os outros 30% ficam com a autoescola. Mas eles só ganham se estiverem dando aula. Muitos motociclistas estão trabalhando com transporte por aplicativo e entrega desde que as autoescolas estão fechadas.”
À espera de reunião com a prefeita Margarida Salomão (PT) para discutir eventual reclassificação, proprietários e instrutores do setor ensaiam uma carreata para a próxima sexta-feira (29), às 10h, entre o Bairro Manoel Honório e o Parque Halfeld. No entendimento da categoria, alguns setores foram bem-sucedidos ao lançar mão da mobilização de rua para pressionar o Executivo. Entretanto, a manifestação só deve ser realizada caso Margarida não retorne às tentativas de diálogo de representantes do setor até esta quinta.
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