Até quando dura a forte retomada do IPCA?

Por Victor Chiaratti e Rafael Teixeira

O salto do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no mês de dezembro, apesar de esperado, foi grande. A variação de 1,35% registrada no mês de referência foi a maior desde fevereiro de 2003, quando o IPCA atingiu 1,57%, e a mais expressiva para um mês de dezembro desde 2002, quando a variação foi de 2,10%. Tal resultado fez com que o indicador acumulasse uma alta de 4,52% em 2020, após um ano marcado por um comportamento inflacionário atípico, que chegou a registrar uma variação de -0,38% em maio de 2020 e passou por uma rápida aceleração a partir do terceiro trimestre.

O principal destaque para a inflação no último mês do ano foi o grupo habitação, com uma variação de 2,88% tensionada pela adoção da bandeira vermelha que resultou na alta de 9,34% no preço da energia elétrica. Houve uma desaceleração nos preços registrados pelo grupo de alimentação e bebidas (1,74%), tendo como principal razão a redução do preço de alguns itens, como o tomate, que caiu 13,46%. Apesar disso, itens como arroz e carnes apresentaram aumentos de 3,84% e 3,58%, respectivamente. Além disso, os grupos transportes (1,36%) e artigos de residência (1,76%) também apresentaram grande variação, tendo como principais responsáveis, no primeiro caso, a variação de 28,05% nas passagens aéreas e, no segundo caso, o aumento do preço de tv, som e informática em 2,52%.

Em dezembro, nenhum dos grupos que compõem o IPCA apresentou deflação, tendência que persistiu durante meses, sobretudo pelas dificuldades enfrentadas no setor de serviços. O grupo educação, por exemplo, apresentou aumento nos primeiros meses, comuns aos reajustes aplicados no início dos anos, porém, posteriormente, em função da pandemia, acabou apresentando variações negativas em decorrência dos descontos fornecidos para os alunos em razão da suspensão das aulas presenciais. No caso, dezembro foi o primeiro mês, após junho, em que a educação voltou a apresentar inflação (0,48%) tendo como principal impacto o aumento no preço dos cursos regulares, que variaram 0,55% influenciados pela retomada das aulas presenciais em algumas regiões do país. Com isso, o grupo acabou apresentando inflação de 1,13%, se somadas as variações percebidas durante todo o ano. Considerando o agregado do ano de 2020, a maior variação de preços veio do grupo alimentação e bebidas (14,09%), com destaque para o olho de soja (103,79%), o arroz (76,01%), as frutas (25,40%) e as carnes (17,97%). Também vale destacar o aumento dos artigos de residência (6,00%) e habitação (5,25%), enquanto houve uma diminuição de preços no grupo vestuário em 1,13%.

O valor elevado para a inflação, que já era esperado pelo Relatório Focus, traz como consequência uma taxa real de juros negativa para a economia, deixando-a incapaz de repor as perdas geradas pela inflação e gerando uma pressão de alta para a Selic. É esperado que o IPCA siga um ritmo acelerado até maio de 2021, quando o índice estará, em grande medida, condicionado ao controle da pandemia e do déficit público, podendo encerrar o ano recém-chegado abaixo da meta de 3,75%.

Conjuntura e Mercados

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