‘The Boys’, ‘Patrulha do Destino’ e o ‘Archie’ que não está na TV
Oi, gente.
Não esperávamos demorar tanto tempo para escrever sobre as segundas temporadas de “The Boys” e “Patrulha do Destino”, mas quem tem filhos nestes tempos de #fiqueemcasa sabe que o cotidiano pode ser uma eterna repetição de episódios de “Patrulha Canina”, vídeos de unboxing de televisão e gadgets no YouTube, ou ficar duas horas cantando “Metal contra as nuvens”, “Eduardo e Mônica” e “Faroeste caboclo” para tentar fazer Antônio, O Primeiro de Seu Nome dormir.
(Filhos podem e costumam ter preferências nada convencionais, e você aí pensando que o guri só assistirá aos filmes da Marvel ou a “Pinky e o Cérebro”. Rá. Quanto à música, aí somos eu e A Leitora Mais Crítica da Coluna que não entramos na categoria de pais musicalmente convencionais)
Enfim, chega de conversê. “The Boys” já havia sido uma surpresa daquelas quando estreou ano passado no Prime Video, e a segunda temporada conseguiu elevar o sarrafo _ enquanto seguia descendo o sarrafo, claro, não faltou (muita) violência nos oito episódios. E um dos motivos para isso é saber polir os exageros do criador da HQ, Garth Ennis (“Preacher”), que não esconde seu desprezo pelos super-heróis.
Se a primeira temporada tinha entre sua preocupação dizer “olha só como esses super-heróis são babacas e escrotos” _ além de criticar a sociedade de consumo _, desta vez o time de roteiristas se preocupou em desenvolver a trama a partir de pequenos núcleos, das relações entre os personagens e dos dramas de cada um. Apesar de apenas oito episódios, acontece muita coisa, com porradaria, reviravoltas, segredos abomináveis, tentativas de redenção, vingança, comédia e humor negro, sem esquecer de quantidades industriais de mortes desagradáveis e horrendas e nojentas.
A segunda temporada de “The Boys” teve inúmeros momentos memoráveis: a luta com Black Noir, Capitão Pátria sonhando acordado que matava geral, a pobre da baleia, a luta de Kimiko e seu irmão com parte d’Os Sete, Kimiko arregaçando os mafiosos russos, John Noble, Giancarlo Esposito sendo Gus Fring em qualquer papel que faça, o pornô com os super-heróis, a invasão ao instituto psiquiátrico, cabeças explodindo, mil coisas… mas certamente a chegada de Tempesta deu toda uma nova dinâmica à história e foi o melhor do novo arco, além de incluir a discussão sobre o racismo e o discurso da extrema-direita.
Aliás, a segunda melhor coisa, porque o season finale foi de arrepiar a tonga da mironga do cabuletê. Que final de temporada, ah migos e ah migas! Batalhas sangrentas, mortes, sacrifícios e revelações bombásticas, no estilo “piscou, perdeu”.
Ainda que tenha amarrado todos os plots, já estamos na expectativa pelo que farão na terceira temporada. Se continuarem melhorando a cada ano, haja coração pra tanta emoção.
E o que dizer de “Patrulha do Destino”, camaradas? A série é tão boa, mas tão boa, que lá fora entrou para o catálogo de streaming do HBO Max e por aqui saiu do canal onde estava escondida (Cinemax?), conquistando espaço nobre na HBO. Francamente? Eles merecem.
Acompanhar as (poucas, em termos de ação) aventuras e (muitas) desventuras do Chefe, Homem-Robô, Mulher-Elástica, Homem-Negativo, Dorothy, Crazy Jane e Ciborgue na telinha é como ver os quadrinhos de Grant Morrison _ principal inspiração do programa _ saltarem para a telinha, com toda a insanidade, delírio, viagens na maionese filosófica, humor bizarro e acertos de contas com o passado que se tornaram um clássico há três décadas.
Os produtores e roteiristas de “Patrulha do Destino” mudam, claro, muita coisa em relação à obra original, mas a essência está lá. E que senhora essência: além de aprofundar no passado dos protagonistas, a série ainda diverte, provoca calafrios, risadas e entrega momentos de suspense e terror, graças a vilões conhecidos como o Rubro Jack e Candelabro. E não podemos esquecer dos Pioneiros do Desconhecido (que apresentou a Mulher-Negativa) e os inacreditáveis Sex-Men, uma paródia bizarra que mistura os X-Men com Caça-Fantasmas.
A segunda temporada deveria ter dez capítulos, mas a pandemia de Covid-19 forçou a produção a encerrar as gravações com nove episódios prontos _ o que nos deixou com um senhor cliffhanger para a terceira temporada, que esperamos que chegue logo.
E ainda tivemos tempo de ler – entre uma reprise e outra de “Patrulha Canina” – ao terceiro encadernado de “Archie” (Geektopia), que reinventa para o século XXI os populares personagens da Archie Comics _ mas que aqui são mais conhecidos pela sua adaptação para TV, “Riverdale”.
Para quem perdeu os dois primeiros volumes (meu caso), não é difícil entender em que pé a história está. Archie e Betty terminaram o namoro, e o rapaz logo se envolveu com a mais nova moradora de Riverdale, Veronica Lodge, naquele esquema de amor à primeira vista. Tudo parecia ir bem, até o pai bilionário da moça perder a eleição para prefeito e, como vingança, mandá-la para um internato na Suíça.
É daí que o terceiro volume tem início, com Veronica e Archie tendo que lidar com a distância e a separação. Enquanto ele sofre e fica obcecado por fazer uma festa de aniversário de casamento para os pais, a adolescente precisa se adaptar à nova realidade _ que fica mais complicada quando ela descobre que a mimada e cruel Cheryl Blossom manda nas garotas do lugar, e está disposta a manter seu reinado apesar da chegada da rica e poderosa Lodge.
Com roteiros de Mark Waid (“O Reino do amanhã”) e desenhos de Joe Eisma, “Archie” é o tipo de leitura leve e divertida, que trata de dramas adolescentes sem exageros e melodramas. É a molecada vivendo aquilo que todos nós passamos quando temos mais de 15 anos mas ainda não chegamos aos 20, achando que podemos tudo e descobrimos que ainda não somos totalmente donos de nossos narizes.
Além de agradar a macacos velhos como este que vos escreve, é uma boa porta de entrada para quem quer introduzir adolescentes e aborrescentes no mundo da nona arte.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.
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