A balança comercial brasileira apresentou resultados satisfatórios em 2020, em meio a números preocupantes de outras variáveis macroeconômicas, como o PIB e a dívida pública. Tanto as exportações quanto as importações caíram neste ano, mas as importações caíram mais que o primeiro grupo, portanto o saldo da balança foi superavitário. Um dos fatores que explicam esse descompasso é justamente o tema da coluna desta semana: a vigorosa depreciação do real.
Primeiramente, é importante definir o que é a taxa de câmbio e afirmar que nenhuma moeda se aprecia ou deprecia por si só, mas sempre em comparação a outra moeda. Naturalmente, estamos nos referindo à relação real-dólar, logo a taxa de câmbio é a taxa pela qual podemos trocar dólar por real. Na terceira semana de outubro, US$ 1 em mãos poderia ser trocado por R$ 5,60. Mas esse não era o cenário há dez meses: desde 31 de dezembro do ano passado, o real perdeu 28% do seu valor em relação ao dólar, a pior depreciação entre as 30 moedas mais negociadas no mundo. Nem o vizinho endividado do Brasil sofreu tanto: o peso argentino depreciou cerca de 22%.
Mas o que explica esse resultado? Em essência, a busca por dólar é fruto de uma aversão ao risco. Isso acontece, pois o cenário de incerteza em que vivemos, seja em nível internacional, seja em nível nacional, levam os investidores a “apostarem” menos em mercados emergentes, que é o caso do Brasil. Além disso, o quadro fiscal se deteriorando, sem uma perspectiva clara de estabilização e reformas estruturais, com uma atividade econômica desaquecida, se torna mais um fator que causa uma redução da demanda por real e um aumento da procura por dólar, levando ao quadro cambial atual.
Consequentemente, concretiza-se com este cenário uma saída de capitais do Brasil. Essa saída pode ser comprovada ao analisarmos o investimento estrangeiro no país, visto que, se temos mais pessoas de fora desinvestindo no Brasil, menor a demanda por real e, por
fim, maior a depreciação da moeda. Logo, o tamanho dessa evasão serve como um bom termômetro para o leitor: o Instituto Internacional de Finanças projeta que a fuga de capitais este ano seja superior a US$ 24 bilhões.
Por fim, a depreciação tão acentuada, que beneficiou as empresas brasileiras exportadoras, as quais, portanto, foram responsáveis pelo superávit comercial, é a mesma que afeta as empresas que importam insumos. Assim, temos firmas importadoras enfrentando uma alta
do dólar, o que implica em uma dificuldade a mais para a retomada econômica, sendo válido lembrar que o Brasil mergulhou em uma recessão esse ano sem sair por completo da crise de 2015-2016. A dúvida sobre o que levou à “queda” da moeda nacional já tem a
resposta, resta saber quando o país conseguirá retomar a confiança não só dos estrangeiros, mas também de seus residentes.
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