‘Eu viveria minha vida muitas vezes’, diz Ana Carolina
Cantora retorna a sua Juiz de Fora com o show “Fogueira em alto mar”, para comemorar 20 anos de carreira
Vinte anos atrás, os cabelos vermelhos – bem vermelhos mesmo, e não no tom de ruivo que vira e mexe volta para a moda – na capa do CD homônimo, de estreia, meio que anunciavam o que o hit do álbum, “Garganta”, mostraria ao país todo, uma potência e uma presença que não estavam de passagem. Nem pela vida, nem pela MPB. De lá para cá, a cantora Ana Carolina, juiz-forana como a maioria das pessoas que leem estas linhas, se tornou um fenômeno musical, uma das artistas mais conhecidas da cena brasileira, e nesta sexta-feira (22) retorna a sua Juiz de Fora com o show “Fogueira em alto mar”, cantando grandes sucessos seus e de grandes artistas, além de inéditas e canções nunca tocadas ao vivo. “É uma delícia voltar para onde tudo começou, não é? Por ser um lugar tão especial para mim, quero entregar para meus conterrâneos um show com todo meu coração. E que seja inesquecível, para não só cantarmos, mas nos emocionarmos também. Espero que essa noite seja tão especial para Juiz de Fora como será para mim”, diz a artista, em entrevista à Tribuna.
A turnê surge na sequência do lançamento do álbum homônimo, o primeiro com músicas inéditas após um hiato de seis anos. O repertório, escolhido a dedo por Ana Carolina e Marcus Preto (que também assina o roteiro), tem as canções que não poderiam ficar de fora, hits inegáveis como “Quem de nós dois”, “É isso aí…” e “Rosas”, com Ana firmando o pé, com classe, na vertente que a consagrou, que tende ao pop romântico. O espetáculo, pensado como uma grande experiência visual com cenografia de Camila Schimidt, também tem um sério flerte com o samba, veia musical que vem pulsando cada vez mais na cantora. Na entrevista, a artista dá detalhes sobre o processo do disco e do show, a trajetória dos 20 anos de carreira, mulheres inspiradoras e sobre viver de música. Confira.
Tribuna – Como a Ana Carolina de “Garganta” mudou vocalmente, no estilo musical, na profissão e na vida?
Ana Carolina – Comemorar 20 anos de carreira é, pra mim, um modo de olhar para trás e tentar avaliar a minha trajetória, onde acertei e para onde irei agora. Coincidência ou não, “Fogueira em alto mar” traz uma conexão importante com o “Ana Carolina” lá de trás, com a presença forte do violão em músicas românticas. Acho que o que incorporei ao longo dos anos foi trazer outras influências para meu som, principalmente do samba.
Neste show e no disco, você faz uma linda homenagem a Elza Soares na música “da Vila Vintém ao Fim do Mundo”. Você se sente influenciada por grandes mulheres da música brasileira como Elza? Se sim, quais mais e de que forma?
Com certeza! São inúmeras mulheres que me inspiram, mas nesse disco e também na turnê (trago a música no palco), faço questão de celebrar a figura da Elza Soares. Pra mim, ela é uma das mulheres mais fortes que conheci. E fico muito feliz em homenageá-la em “Da Vila Vintém ao Fim do Mundo”. Elza tinha me pedido há tempos uma canção de amor. Como acontece quando tenho pedidos assim de grandes divas, eu travei e não consegui fazer a música para alguém tão extraordinária. Então, me juntei com Zé Manoel e escrevemos a letra desse samba pensando na figura emblemática dessa artista gigante. Gravamos, e Elza topou em participar da faixa. Foi, sem dúvida, o momento mais incrível no processo desse álbum.
Segundo a crítica, neste disco você “retoma com força sua veia romântica pop”. Como você vê a importância de cantar e compor sobre o amor?
Escrever e cantar sobre amor sempre foi algo orgânico pra mim. Ao lado da música, o amor é a coisa mais importante ao meu ver. Juntar os dois é o que me inspira, que forma a minha maneira de ver o mundo.
Como e quando você percebeu que poderia viver de música? O que aconteceu de forma diferente de hoje para esta época em que você imaginava sua carreira?
A música sempre existiu na minha vida, mas acho que entrou definitivamente e de forma profissional na minha vida quando eu tinha por volta de 18 anos. Foi quando comecei a cantar nos barzinhos aí de Juiz de Fora e depois Belo Horizonte que percebi que poderia viver dela. Aí comecei a compor minhas primeiras músicas. Depois disso, conheci alguns parceiros de música, lancei meu primeiro CD e, de lá pra cá, já se passaram 20 anos…
O que você ainda pretende realizar como artista e ainda não realizou? E quais, se há algum, os arrependimentos nos passos que a tornaram a artista que você é hoje?
Arrependimentos não. Cada momento, acerto ou erro, desses 20 anos de carreira, tem um significado importante no contexto que eu estava vivendo. Já falei em outras entrevistas e gosto muito de repetir: eu viveria minha vida muitas vezes. Hoje me considero imensamente realizada e bastante vitoriosa na carreira quando olhos essas duas décadas, e sei que ainda tenho muito a aprender.
Ana Carolina
Nesta sexta-feira (22), às 21h30, no Cine-Theatro Central