Plano B de Guedes
Ministro não deveria ter dito que há um plano B, pois dá ao Congresso a saída que os políticos queriam para não enfrentar temas indigestos, como a reforma da Previdência
O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem razão ao apontar a reforma da Previdência como a pedra de toque da gestão Bolsonaro, pois, só a partir dela, é que se pode pensar em melhora dos índices do Governo, ora engessado por gastos cada vez maiores e uma receita estagnada diante do impasse na economia. A mudança será fundamental, ficando na dependência, agora, de como ela será implementada: aproveitando o texto já tramitando no Congresso, de iniciativa da gestão Temer, ou se vai começar tudo do zero. O bom senso indica aproveitar o que já foi aprovado.
Mas o ministro cometeu um deslize, durante a solenidade de posse, ao dizer que há um plano B, referindo-se à desindexação da economia. Deputados e senadores, como entes políticos em contato permanente com os eleitores, certamente vão aproveitar essa nova porta para fugir da indigesta, mas necessária, reforma da Previdência, que lhes causa desgaste na opinião pública. O Governo deve insistir na primeira hipótese, pois, em não o fazendo, só estará adiando um problema que se desenvolve não apenas na instância federal. Estados e municípios também estão com graves problemas em suas previdências e não sabem como resolvê-los.
Fazer reformas sempre é um gesto temerário nas políticas públicas, sobretudo quando envolvem questões enraizadas na sociedade. Mas não há outro caminho. Pelo mundo afora se vê a mesma situação, pois a conta não fecha. Com a melhora na qualidade de vida, o número de beneficiários só aumenta enquanto o de contribuições cai, sobretudo por força da informalidade que afeta países como o Brasil.
Mudar esses conceitos é uma prioridade desafiadora, para evitar um colapso no futuro. O Governo deve aproveitar o prestígio conquistado nas urnas de outubro para fazer tais alterações, uma vez que a lua de mel com as ruas não é permanente. Se der, agora, o remédio amargo, terá meios de, numa fase posterior, implementar as outras ações que o país espera ao apostar em mudança tão radical.