Após três anos, Juiz de Fora volta a criar empregos no semestre
Foram abertas 665 novas vagas, mas economistas alertam que indicadores macroeconômicos ainda são preocupantes
Após três anos de corte nos empregos com carteira assinada na primeira metade do ano, Juiz de Fora voltou a criar oportunidades no mercado formal no primeiro semestre de 2018. O município, que ocupava o último lugar no ranking de empregabilidade entre as cidades da Zona da Mata de janeiro a junho de 2017, pulou para a terceira posição em igual período deste ano. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), nos primeiros seis meses foram abertas 665 vagas na cidade. O número é bem superior ao verificado no mesmo período de 2017, quando o município mais demitiu do que contratou, resultando na eliminação de 1.083 postos.
Este ano, o setor de serviços se destaca, com a criação de 1.419 oportunidades no primeiro semestre, seguido, de longe, por indústria da transformação (52), construção civil (31) e agropecuária (6). Já comércio (-815), indústria de utilidade pública (-17) e setor extrativo (-1) apresentaram performance negativa. Os dados foram divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Na avaliação do professor de Faculdade de Economia da UFJF, Fernando Perobelli, os resultados do Caged indicam uma melhora do cenário econômico, mas devem ser analisados com cautela, diante da divergência nos indicadores macroeconômicos. “Não podemos tomar esse resultado (na empregabilidade) como sintoma de que o país voltou a crescer. Mesmo com a melhora dos indicadores econômicos, ainda há um certo descuido com outros elementos que são importantes para a retomada econômica, como a meta fiscal”, afirma.
Para Perobelli, os dados positivos em criação de empregos registrados no primeiro semestre foram impactados pela sinalização de aquecimento da economia, impulsionada por uma melhora do acesso ao crédito e da redução do endividamento. Segundo o economista, não houve, nesse período, nenhum investimento que mudasse a estrutura produtiva da cidade. “É preciso ter uma perspectiva de crescimento no longo prazo. Eu acho que ainda não temos essa perspectiva, por isso acredito que estamos tendo esse resultado tímido no Caged”, argumenta.
Zona da Mata reage; Ubá cria 558 postos
Assim como Juiz de Fora, a Zona da Mata também registrou resultado positivo na criação de postos de trabalho no semestre: 6.041 novos empregos, 76,5% a mais ante igual período de 2017 (3422). Dos 142 municípios da região, 104 criaram ou mantiveram o número de vagas formais. Em 2017, esse número era de 85. Dentre os destaques na região, o município de Ubá criou 558 novos postos de trabalho, ocupando o quarto lugar no ranking regional. Destes, 314 foram na indústria de transformação, o que pode indicar uma recuperação do polo moveleiro da cidade. Outro município é Mar de Espanha, que criou 135 novos postos no período, sendo 88 também na indústria de transformação. Nesse caso, a cidade está em 15º lugar na região.
Na avaliação de Perobelli, o crescimento na geração de empregos regional seguiu a tendência nacional, uma vez que não houve fator exógeno que impactasse na estrutura produtiva dessas cidades. O economista enfatiza que, assim como no restante do país, o crescimento tem sido lento, no geral, em virtude das poucas mudanças no curto prazo, além das incertezas geradas pelo momento político. Apesar de municípios menores como Manhuaçu e Urucânia apresentaram os melhores resultados de emprego no período analisado, ocupando o primeiro e o segundo lugares respectivamente, o economista ressalta que, retirada a sazonalidade presente nas análises, os municípios que começam a esboçar crescimento são os de médio porte na região.
Indústria não apresenta crescimento na empregabilidade
De olho no desempenho da indústria em Juiz de Fora, o presidente da Fiemg Regional Zona da Mata, Aurélio Marangon, avalia que os dados não apontam crescimento na empregabilidade, embora ele identifique uma tendência de melhora do nível de atividade do setor. Na avaliação do presidente, nem sempre o nível de contratação retrata o aumento da atividade de forma imediata. Para Marangon, a construção civil, que abriu 31 oportunidades no semestre contra 51 no mesmo período do ano anterior, apresenta uma aparente estabilidade.
Na indústria da transformação, apesar de o estoque continuar positivo, houve uma redução de 71,5% no número de novas oportunidades. O setor fechou o semestre criando 52 empregos com carteira assinada na cidade. No mesmo período do ano passado, foram abertas 183 vagas formais. Já a indústria de utilidade pública continuou dispensando mais do que admitindo e fechou o semestre no negativo (-17) contra (-49) verificado no primeiro semestre de 2017.
Para Marangon, o segundo semestre pode apresentar redução nesses números, em função da instabilidade política atual, dependente do resultado das eleições. O presidente destaca que o emprego na indústria é mais qualificado, com valores salariais “um pouco mais altos”, refletindo no aumento da massa salarial do município. Para ele, os novos projetos da indústria estão engavetados, aguardando a definição política. Na sua avaliação, há, realmente, uma estagnação, à espera de resultados positivos para a economia do país.
Comércio fragilizado amarga 4 anos de cortes no semestre
Os resultados obtidos no Caged neste primeiro semestre reforçam o potencial de Juiz de Fora na área de serviços, principalmente com a força regional do seu centro médico e educacional. Por outro lado, mostram que o setor varejista ainda apresenta indicativos de recuperação da crise. Na avaliação do presidente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio), Emerson Beloti, o resultado negativo, pelo quarto ano consecutivo, mesmo que em menor percentual esse ano (-815), deve-se a fatores como a greve dos caminhoneiros e a Copa do Mundo. Ele ressalta, ainda, que, tradicionalmente, o desempenho do setor no primeiro semestre é pior em virtude do menor número de dias de trabalho.
Na avaliação de Beloti, o desempenho do setor de serviços segue uma tendência observada no município há quase duas décadas, como cidade polo referência para mais de 73 municípios num raio de cem quilômetros, que engloba uma população ativa de quase um milhão de pessoas. Ele credita também a geração de mais de mil postos de trabalho neste semestre à falta de aquecimento dos outros setores na economia. “Muita gente não tem conseguido emprego no varejo e em outros setores, e elas precisam atuar em alguma situação. Se eu não consigo no varejo e em outros setores, se não tenho algum tipo de reserva financeira, eu vou tentar algo na área de serviços.”
Para Beloti, ainda não há indicativos que o cenário possa melhorar nos próximos meses, diante da incerteza econômica vivenciada com a proximidade do período eleitoral. “Essa situação uma hora vai terminar, mas o setor de varejo está muito fragilizado. As empresas não são mais fortes como antigamente, vem sofrendo desgaste nos últimos dez anos. Esperamos que as coisas voltem à normalidade e que o varejo volte a empregar novamente.”
Para PJF, serviços têm se tornado pilar de sustentação econômica
De posse dos números do Caged, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo, Rômulo Rodrigues Veiga, avalia que comércio (-815) e serviços (1.419) apresentaram as variações mais expressivas, mesmo em polos distintos, o último demonstrando o início de reação econômica, com aumento de vagas consolidadas. Sobre a retração verificada no comércio, ele avalia que é um movimento habitual e sazonal. Conforme Rômulo, o setor contrata a partir de outubro, para atender os momentos de pressão de demanda e, ao longo do primeiro semestre do ano seguinte, vai perdendo as vagas consolidada no final do ano anterior.
Na sua avaliação, o resultado expressivo verificado em serviços é uma sinalização positiva de que a economia vem reagindo, mesmo em um compasso mais lento do que se espera, seguindo um aquecimento verificado à nível nacional. Para Rômulo, o setor possui maior flexibilidade para acompanhar as dinâmicas econômicas, conseguindo contratar e enxugar os quadros com mais rapidez, de acordo com o momento econômico. A indústria, compara, depende de capacidade instalada, compra de insumos, logística e posicionamento de produtos. “Mesmo que a indústria perceba uma reação econômica, vai se reverter em investimento e emprego seis meses ou um ano depois.” Na avaliação do secretário, o momento é de espera pelas decisões políticas. “Os grandes investimentos para expansão da capacidade instalada do setor industrial automotivo e metalmecânico, que são carros-chefes, dependem da consolidação do cenário político.”
De acordo com o secretário, o setor de serviços tem aumentado a participação econômica na cidade, em função da importância e da representatividade do município na região e da vocação e referência de setores, como educação e saúde. “Juiz de Fora vai criando, no setor de serviços, um pilar de sustentação econômica.” Para Rômulo, apesar de a cidade ter um bom nível de industrialização, inclusive com multinacionais instaladas, é uma característica da contemporaneidade a migração de ativos econômicos para o setor de serviços. O titular da Sedettur defende a diversificação não apenas do setor produtivo, mas dentro do setor produtivo, para evitar a dependência do município aos movimentos de um segmento específico.
Incerteza política deve afetar geração de empregos neste semestre
A proximidade com o período eleitoral e as incertezas no quadro político nacional devem afetar a geração de empregos no segundo semestre deste ano, apesar da melhora dos indicadores de emprego e econômicos verificados este ano. Na avaliação do economista Fernando Perobelli, a falta de confiança deve seguir restringindo o investimento dos empresários até o início de 2019, mesmo com Selic em 6,75% ao ano. “O que nós temos é um clima de incerteza, não sabemos o que vai acontecer na condução da política e da economia. Apesar de, tradicionalmente, termos uma melhoria nos números do emprego no segundo semestre, a variação marginal com relação ao segundo semestre de 2017 deve ser menor devido a esse clima.”
Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) reduziu a expectativa do número de empregos gerados de 767 mil vagas para 452 mil para este ano. A menor geração de emprego em maio e junho deste ano, aliada a redução da expectativa do Produto Interno Bruto (PIB) para 2018, foram alguns fatores apontados para redução da previsão. Para Perobelli, a retomada consolidada do crescimento econômico na Zona da Mata e nas demais regiões é dependente de dois fatores: credibilidade e consistência das ações financiadas pelo Poder Público. Segundo ele, os agentes econômicos foram diretamente impactados pela falta de consistência das políticas adotadas, tanto a nível federal quanto estadual, nos últimos anos. “A credibilidade leva ao aumento do investimento por parte do setor industrial. É um setor que cria empregos e gera renda, mas que é afetado pela falta de credibilidade.” Na sua avaliação, a depender do cenário econômico, a situação pode se agravar em municípios com forte dependência dos repasses feitos pelo Executivo, principalmente de impostos, e com grande parcela da população empregada na administração pública.
Taxa de desocupação chega a 12,4% no trimestre encerrado em junho
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) divulgou, na semana passada, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), que apontou que a taxa de desocupação (12,4%) no trimestre de abril a junho de 2018 teve queda de 0,7 ponto percentual em relação ao trimestre de janeiro a março de 2018 (13,1%). Em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (13%), houve queda de 0,6 ponto percentual. A população ocupada (91,2 milhões) aumentou 0,7%, um adicional de 657 mil pessoas em relação ao trimestre anterior. Em relação ao mesmo trimestre de 2017, também houve aumento (1,1%, ou mais 1 milhão de pessoas ocupadas).
O número de empregados com carteira de trabalho assinada (32,8 milhões) no setor privado ficou estável frente ao trimestre anterior (janeiro a março de 2018). No confronto com o mesmo trimestre de 2017, houve queda (-1,5% ou menos 497 mil pessoas). O número de empregados sem carteira de trabalho assinada (11 milhões) no setor privado cresceu 2,6% (mais 276 mil pessoas) em relação ao trimestre anterior. Em relação ao mesmo trimestre de 2017, houve alta de 3,5% ou mais 367 mil pessoas.
Ainda segundo o IBGE, a categoria dos trabalhadores por conta própria (23,1 milhões de pessoas) ficou estável em relação ao trimestre anterior (janeiro a março de 2018). Em relação ao mesmo período de 2017, houve alta de 2,5% ou mais 555 mil pessoas. O rendimento médio real habitual (R$ 2.198) no trimestre de abril a junho de 2018 ficou estável em ambas as comparações. A massa de rendimento real para o trimestre de abril a junho de 2018 foi de R$ 195,7 bilhões e ficou estável em ambas as comparações. No trimestre de abril a junho de 2018, havia aproximadamente 13 milhões de pessoas desocupadas no Brasil. Este contingente caiu 5,3%, ou seja, menos 723 mil pessoas, frente ao trimestre de janeiro a março de 2018, quando havia 13,7 milhões de pessoas desocupadas. No confronto com igual trimestre de 2017 (13,5 milhões de pessoas desocupadas), a estimativa caiu 3,9%, ou 520 mil pessoas desocupadas a menos.
Segundo o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, o mercado de trabalho no segundo trimestre de 2018 mostra queda na taxa de desocupação, que aconteceu principalmente em função da redução no número de pessoas procurando trabalho, provocado pelo aumento de ocupados. A população ocupada que aumenta, avalia, se divide em dois grupos: os que se empregam no serviço público através das prefeituras e aqueles que ingressam na informalidade. Conforme Cimar, a pesquisa mostra, também, redução expressiva na população ocupada com carteira de trabalho assinada na comparação anual, que atingiu o menor nível da pesquisa desde o início da série histórica, iniciada em 2012, e aumento da população trabalhando em indústria têxtil e confecção, que se divide, mais uma vez, entre os que contam com carteira assinada e os que trabalham por conta própria, como costureiras.