O Segredo de *Madalena
Como explicar uma “garota de programa” de 56 anos ter mais clientes que “as novinhas” de 20? Qual será o segredo de *Madalena? Seu “paranauê”? Esta história é realmente me-mo-rá-vel… Leia o texto e descubra o que fazia essa profissional do sexo que deixava os homens “presos” a ela…
Uma pesquisa sobre “Garotas de programa”…
Esta história se passa na época de minha especialização em Sexualidade Humana.
Eu precisava desenvolver uma pesquisa de campo, ou seja, um estudo que envolve não apenas teoria, mas também, entrevistas…
Escolhi como tema “garotas de programa”.
Pensei:
“Não quer ser sexóloga? Então, converse com quem realmente entende do assunto” …
Assim, parti para a capital mineira…
Para a internacionalmente famosa Rua Guaicurus…
Região há muito consagrada por ser zona de boemia e prostituição.
Pronto! Lá estava eu…
E agora?
Como convencer as “garotas de programa” a conversarem comigo sobre aquele mundo? A me contarem suas histórias? A falarem sobre suas vidas?
A resposta foi: Pagando…
Naquela ocasião, (2001) um programa custava em média de R$ 5 a R$ 20 reais.
Sorte a minha, já que era eu a patrocinadora da pesquisa…
Expliquei meu propósito para algumas mulheres na tentativa de encontrar colaboradoras…
Muitas nem olharam na minha cara…
Algumas pareciam se interessar, mas tinham medo.
Pensavam que iam aparecer em jornais ou coisa parecida…
Marcela*: A “garota de programa” disposta a ajudar…
Com muito custo, convenci *Marcela a colaborar.
A verdade era que ela estava sem dinheiro. Há muitos dias, não ‘atendia’ um cliente.
Ela me concederia a entrevista desde que eu pagasse pelo tempo dela…
Topei! É claro!
E a “garota de programa” de 27 anos foi contando sua história:
Família desestruturada…
Pai doente…
Pouco dinheiro…
Muitos sonhos…
Eu perguntava, ela respondia…
Era ousada…
Contava detalhes das histórias mais “cabeludas” que já havia vivido…
Contou, inclusive, sobre o “sufoco” que passou com um cliente coprofílico… (Falei sobre isso no texto Um curioso (e medonho) caso de Coprofagia Humana).
Também contou que tinha um sonho: ser como *Madalena…
“Quem é Madalena?” – Perguntei.
“A mulher que mais ganha dinheiro aqui nesta rua!
Ninguém tem tantos clientes em toda Guaicurus…
Madalena? Who’s that girl?
Curiosa? Eu?
Fiquei em cólicas para saber mais sobre aquela figura icônica…
Madalena parecia ser alvo de inspiração e inveja de inúmeras “garotas de programa” dali…
Pedi à Marcela para me conseguir uma entrevista com a tal Madá…
“O problema é que tem fila na porta do quarto dela” – disse Marcela.
“Fila?” – Eu perguntei.
“Sim! Fila!” – Disse ela.
Agora eu tinha certeza de que precisava conhecer aquela “garota” …
Obviamente, aquela mulher teria muitas histórias pra contar …
Por que Madalena navegava tranquila em um “mar de clientes”, enquanto outras “garotas de programa” se esforçavam horrores para serem escolhidas?
“Por favor, Marcela! Me arranja uma entrevista com Madalena” – Implorei.
“Se eu conseguir você me paga mais um programa?” – Indagou.
“Simmmm!”
Se esse era o preço para eu entrevistar a nova “Hilda Furacão” da Guaicurus, por mim tava tudo certo…
De frente com *Madalena…
Marcela conseguiu!
Armou tudo com a top das “garotas de programa”.
Confesso que estava ansiosa e com medo…
Sei lá…
O lugar era meio ‘cabuloso’:
Um prédio meio que caindo aos pedaços, com pouca luminosidade e intensa movimentação de clientes…
Madalena aceitou me receber no mesmo esquema de Marcela…
Todavia, Marcela, me advertiu:
“O programa da Mada é R$ 50, tá?”
“Essa mulher tem o ziriguidum” … Pensei.
Profissionais com “expertise”, cobram honorários diferenciados e na prostituição não seria diferente, né?
Booooraaaa morrer em mais ‘cinquentão’…
Madalena marcou comigo às 17 horas.
Longe de seu horário de “pico” (por gentileza, evite o trocadilho deselegante… rs…), que acontecia entre 10 e 15 horas…
Claro que, a esta altura, já existia “uma Madalena” em minha mente:
Eu a imaginava jovem, alta, loira, magra e quem sabe, de olhos claros…
Preconceito meu?
Não…
É o estereótipo das “garotas de programa” mais “procuradas” …
Após uma caminhadinha básica, cheguei ao prédio…
Meu coração palpitava…
Parece que ouvia minha mãe dizendo:
“O que você está fazendo nesse aí?”
“Aqui não é lugar de “mulher direita!”
Ignorei a mãe interior e fui subindo a escadaria…
No caminho (isso foi hilário!), um homem me abordou! Hahahaha…
Gente! Eu tava tão “comportada”: Calça, tênis, blusa de malha…
Eu tentava explicar…
E ele insistia…
Pensou que estivesse esnobando-o!
Graças a Deus, uma “coleguinha” apareceu e me salvou:
“Cara, ela não é das nossas! É Doutora! Tá fazendo uma pesquisa” …
O rapaz pediu desculpas, numa “semgracês” só!
Hahahaha…
Pensei:
“Se tudo der errado, venho pra Guaicurus!!!”
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk……….
Brincadeiras à parte e de volta à história…
Agradeci o “salvamento” e perguntei por Madalena…
Ela apontou para o fundo do corredor…
Fui andando devagar… A porta estava entreaberta…
Pedi licença e eis que lá estava eu:
De frente com Madá…
“Garota de programa”? Aos 56 anos?
Eu tentei, mas, estou certa de que não consegui disfarçar minha cara de cadê a “garota de programa”?
Gente! Era uma quase ‘senhora’…
Mas, era bonitona, vaidosa e perfumada…
As roupas eram de gosto ‘duvidoso’…
Me apresentei…
Ela me deu um abraço apertado…
Era muito comunicativa, expressiva e deliciosamente engraçada…
Além disso, era leve…
Madalena foi contando:
Tinha 56 anos. Estava na profissão desde os 16.
Chegara à Belo Horizonte aos 20, vinda do interior da Bahia…
Queria sair da miséria…
Disse que, no início, tinha esperança de encontrar um homem que a “salvasse” …
Porque a verdade ainda é essa: aos 20 anos, “princesas” de todos os tipos ainda esperam serem salvas pelo príncipe…
Eu disse:
“Muito obrigada por me receber!”
“É muito difícil agendar um horário com você, Madalena”.
Ela deu uma gargalhada que parecia vir do âmago do âmago…
“Nega, é difícil mesmo! Eu trabalho dimaaaaaisss da conta!” – disse ela.
“Eu sei! – disse – E é por isso que estou aqui”.
“Preciso saber qual é o seu segredo”!
“Como você consegue tantos clientes?”
“E o mais importante: O que você faz que as outras garotas não fazem?”
“É alguma técnica? Alguma posição?
E fui bombardeando a mulher com uma infinidade de perguntas…
Ela ria…
E sorria…
“Calma, doutora! Eu vô lhe explicar tudinho! Mas, promete que não contar pras outras “quenga”?
“Claro! Fique tranquila!” – Eu disse.
Assentada na cama, Madá deu um salto dizendo:
“Tive uma ideia!”
“Eu vô fazê muito melhor!”
“Num qué sabê dos meus ‘segredinho’? Vou lhe mostrar!”
“Mas vou lhe mostrar é tudo!”
Eu não estava entendendo muito bem o que Madalena queria dizer…
Perguntei:
“Como Madá?”
“Vamos fazer o seguinte” …
Continua no próximo post…
Enquanto isso…